Reitoria da UFSC participa da abertura do ‘Seminário Escola é Lugar de Ciência’

10/11/2025 16:20

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) marcou presença na abertura do III Seminário Escola é Lugar de Ciência, realizado na manhã desta segunda-feira, 10 de novembro, no Plenarinho da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). O evento, promovido pela Comissão de Educação e Cultura da Alesc – presidida pela deputada estadual Luciane Carminatti -, ocorreu em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência em Santa Catarina (SBPC-SC) e contou com a participação do reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, e da vice-reitora Joana Célia dos Passos.

Durante sua fala, o reitor Irineu destacou que o seminário reúne representantes do sistema educacional catarinense, incluindo universidades estaduais, a UFSC, institutos federais e fóruns de educação, formando uma ampla rede de cooperação interinstitucional. Ele enfatizou que o principal objetivo do evento é fomentar a educação científica e incentivar a formação de jovens cientistas desde as etapas iniciais da vida escolar. Relembrando que a primeira edição do seminário aconteceu em 2019, Irineu sublinhou que, este ano, a meta é fortalecer e reativar o programa Escola é Lugar de Ciência, articulando escolas públicas, universidades e o poder legislativo para debater temas como pesquisa científica, extensão universitária e educação básica. O reitor também ressaltou a relevância do seminário para o fortalecimento de políticas educacionais e a identificação de boas práticas que impulsionem avanços na área. Ele destacou a trajetória da UFSC como protagonista nos debates sobre educação e sua contribuição para o desenvolvimento do novo Plano Nacional de Educação (PNE), atualmente em discussão, reafirmando o papel estratégico da instituição no cenário estadual e nacional.

A vice-reitora Joana, por sua vez, ministrou a conferência “Educação e Direitos Humanos: por uma agenda político-pedagógica interseccional”, com um questionamento coletivo sobre o conceito de ciência, instigando reflexões sobre “ciência para quem e com quem”. Para evidenciar as desigualdades estruturais nas escolas públicas brasileiras, a professora apresentou dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2024, apontando que apenas 39% das escolas possuem internet disponível para os alunos, 30% têm conexão adequada, 44% oferecem computadores, 29% contam com laboratório de informática, 10% dispõem de laboratório de ciências e 36% possuem quadras esportivas. Além disso, somente 32% das escolas contam com bibliotecas, uma carência que afeta especialmente instituições situadas em áreas rurais ou periferias urbanas, frequentadas por crianças de camadas populares. “Ciência no Brasil é algo para a elite brasileira”, criticou a vice-reitora, denunciando a precariedade das condições de ensino e a desigualdade no acesso a recursos. Joana também apontou que formar professores não é suficiente quando as condições objetivas das escolas inviabilizam a aplicação prática do aprendizado universitário. Segundo ela, a falta de infraestrutura e a alta rotatividade de docentes em escolas de regiões mais pobres refletem um projeto político que perpetua a exclusão social.

Ao explorar o tema central de sua conferência, Joana destacou a importância de construir uma agenda político-pedagógica interseccional que enfrente as desigualdades estruturais e promova a inclusão. Ela explicou que a interseccionalidade permite compreender como marcadores sociais, como raça, gênero, classe e deficiência, se cruzam para criar experiências únicas de exclusão. Essa abordagem, segundo a professora, é essencial para repensar práticas pedagógicas, currículos, materiais didáticos e políticas educacionais, abrangendo desde a formação de professores até a gestão escolar. Joana também defendeu que a educação deve ser um espaço de emancipação, inspirado pelos valores de Paulo Freire, e afirmou ser urgente superar visões colonialistas e eurocêntricas que ainda moldam a escola brasileira. “A ciência que deve entrar na escola é aquela construída para a emancipação e que reconhece as diferenças que constituem os grupos historicamente marginalizados”, declarou, enfatizando os impactos positivos das políticas de ações afirmativas no ambiente acadêmico. Ela também ressaltou a necessidade de currículos que celebrem a diversidade e reforçou o papel da escola como um centro cultural de ciência, arte e cidadania, integrando famílias e comunidades em um esforço coletivo de transformação.

A UFSC integra o grupo de instituições parceiras que apoiam e colaboram com a realização do seminário, ao lado de outras universidades públicas, como a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), bem como dos institutos federais de Santa Catarina (IFSC e IFC), órgãos governamentais e entidades representativas da educação no estado. Entre os parceiros estão a Secretaria de Estado de Educação de Santa Catarina (SED), a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), a Federação de Consórcios e Associações de Municípios de Santa Catarina (Fecam), o Conselho Estadual de Educação (CEE/SC), o Fórum Estadual de Educação (FEE/SC) e o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte).

O evento, com programação até o dia 11 de novembro, ocorre em dois locais: o primeiro dia no Plenarinho Deputado Paulo Stuart Wright, na Alesc, e o segundo dia no Auditório Tito Sena, na Faculdade de Educação da Udesc (Faed/Udesc). A programação completa está disponível no site da SBPC/SC.

A participação da Reitoria da UFSC no seminário reafirma o compromisso da universidade com a educação básica e a disseminação da cultura científica em Santa Catarina, contribuindo para a construção de políticas educacionais que promovam a formação crítica e cidadã dos estudantes catarinenses.

Assista ao primeiro dia do seminário na íntegra:

Rosiani Bion de Almeida | Divisão de Imprensa do GR
imprensa.gr@contato.ufsc.br

Tags: AlescEducação e Direitos HumanosIFCIFSCIII Seminário Escola é Lugar de CiênciaLuciane CarminattiUdescUFFSUFSC

Mostra na UFSC, entre os dias 10 e 14, apresenta ações de enfrentamento às violências de gênero

07/11/2025 12:53

A Coordenadoria de Capacitação de Pessoas (DDP), vinculada à Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas (Prodegesp) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), convida a comunidade para a Mostra “Enfrentamento às Violências de Gênero em Perspectiva Interseccional: Reflexões e Transformações”. A exposição será inaugurada no dia 10, às 14h, e permanecerá até 14 de novembro, no Hall do Centro de Cultura e Eventos Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, no campus Trindade, em Florianópolis.

A Mostra propõe um espaço de socialização de debates realizados no curso de capacitação e de sensibilização sobre a temática da violência de gênero no âmbito da UFSC, com o objetivo de promover um ambiente cada vez mais respeitoso e seguro para as diversidades humanas.

Mais informações no site: capacitacao.ufsc.br

Tags: capacitaçãoCCPCentro de Cultura e EventosUFSCviolências de gênero

Hospital Universitário inaugura Laboratório de Simulação Clínica

06/11/2025 17:04

O Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), inaugurou nesta terça-feira (4/11) o novo Laboratório de Simulação Clínica, desenvolvido em parceria com o Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFSC. O espaço foi estruturado com equipamentos e manequins de simulação adquiridos especificamente para atividades de ensino e treinamento em saúde, e sua adequação foi viabilizada por meio da colaboração entre as duas instituições.

Após a solenidade, foram realizadas demonstrações práticas dos novos equipamentos, com transmissão em tempo real do laboratório para o público presente no auditório e para convidados que acompanharam o evento de forma on-line.

Simulação clínica como filosofia de cuidado

A gerente de Ensino e Pesquisa do HU, Jane da Silva, destacou que o novo ambiente representa um marco no aprimoramento das práticas de ensino voltadas à formação e capacitação de profissionais de saúde. “A simulação clínica não é apenas uma ferramenta didática, mas uma filosofia de cuidado e segurança. Nesse ambiente, alunos, residentes e profissionais podem aprender fazendo, se permitir errar, refletir e repetir até o aperfeiçoamento, tornando-se mais ágeis, preparados e responsáveis”, afirmou.

Jane destacou ainda que a implantação do laboratório teve início em 2022, com o planejamento e a aquisição dos equipamentos pelo HU e foi concluída com o apoio de diferentes setores e do CCS. A iniciativa contou com a colaboração de docentes, profissionais e técnicos da Gerência de Ensino e Pesquisa, com suporte institucional da direção do Centro e do colegiado executivo do hospital.

Parceria fortalece o ensino e a pesquisa

O superintendente do HU-UFSC, Spyros Cardoso Dimatos, enfatizou o caráter estratégico da parceria entre o hospital e o CCS. “Esse projeto vem sendo construído há mais de três anos e se concretiza hoje com o investimento de R$ 258 mil em simuladores e manequins. Essa estrutura estará disponível a todos os docentes e estudantes da universidade, reforçando o papel do HU como hospital de ensino e campo de formação para cerca de 800 estudantes de graduação e 200 residentes”, disse.

Ele também anunciou que, em breve, terão início as obras do novo Centro de Estudos do HU-UFSC, em parceria com o CCS e o Departamento de Clínica Médica.

Integração entre ensino e assistência

O diretor do CCS, professor Fabrício de Souza Neves, ressaltou que a iniciativa representa um avanço na integração entre ensino e assistência. “Esse ensino de simulação vai complementar o aprendizado com o paciente real, que já ocorre no hospital. Faltava um espaço prévio para a prática controlada e segura, e agora o temos. É um bonito avanço, fruto da união de esforços para superar desafios em benefício da formação dos estudantes e da qualidade do atendimento à população”, afirmou.

O reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, destacou que a inauguração reforça o papel do HU-UFSC como hospital de ensino. “Precisamos cada vez mais fortalecer o trabalho conjunto entre o CCS e o Hospital. Esse é um passo importante para consolidar o HU como um hospital-escola de excelência, referência tanto no atendimento ao SUS quanto na formação de profissionais qualificados”, afirmou.

Organização e funcionamento do novo espaço

Durante o evento, a fisioterapeuta e instrutora do laboratório, Ana Carolina Starke, apresentou o funcionamento do espaço e explicou o processo de reserva e utilização. Segundo ela, o laboratório terá uma agenda disponível no Portal de Ensino da UFSC e contará sempre com um instrutor responsável do HU-UFSC para garantir o uso adequado dos simuladores, que são equipamentos de alto custo e exigem cuidados específicos.

O novo Laboratório de Simulação Clínica do HU-UFSC está preparado para atender diferentes níveis de complexidade, desde simulações de suporte básico de vida até cenários de alta fidelidade com manequins computadorizados e atores simulando situações clínicas reais. O objetivo é proporcionar um ambiente de aprendizado seguro, realista e colaborativo, que contribua para a formação de profissionais de saúde mais qualificados e comprometidos com a segurança do paciente.

Sobre a Ebserh

O HU-UFSC faz parte da Rede Ebserh desde março de 2016. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.

Fonte: gov.br

Tags: CCSEbserhHULaboratório de Simulação ClínicaMECUFSC

Seminário reúne UFSC e Udesc e destaca a importância da sociabilidade com a comunidade

06/11/2025 15:49

Mesa de Abertura com o reitor Irineu Manoel de Souza, Debora de Oliveira, Geisa Bock e Roberto Willrich. Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC

O II Seminário de Extensão na Pós-Graduação – Saberes em Movimento do Programa de Extensão na Pós Graduação (Proext-PG) e da Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PROPG), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em conjunto com a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), está acontecendo no auditório do Centro Socioeconômico (CSE), no campus Trindade, em Florianópolis. O evento ocorre nesta quinta e sexta-feira, 6 e 7 de novembro, das 8h às 18h. 

O primeiro dia de seminário teve a  presença, na mesa de abertura, do reitor da UFSC Irineu Manoel de Souza, da superintendente da PROPG Debora de Oliveira, do coordenador geral da PROEXT-PG Roberto Willrich e da coordenadoria da pós graduação da Udesc Geisa Bock

Durante a cerimônia, os presentes frisaram a importância dos projetos de extensão oferecidos pelas universidades. Com a palestra do professor da UFSC Paulo Horta, foi debatida a questão das crises climáticas, assim como a importância e os desafios da extensão na pós-graduação. E, como encerramento, ocorreu a apresentação musical do grupo Destravalíngua pelos integrantes Ana Paula Santana (voz, violão), Janaína Fonseca (voz, violão e percussão), Guilherme Fonseca (voz e teclado) e Alexandre Bergamo (voz e percussão).

“O Saberes em Movimento constitui-se, assim, como um espaço privilegiado para reflexão, aprendizado e socialização de experiências, promovendo a construção coletiva de saberes e o fortalecimento da inserção social da universidade”, afirmam os organizadores.

Mais informações no site do Proext-PG ou pelo e-mail proextpgufsc@gmail.com.

Texto: Agecom/UFSC

Tags: COP-30Paulo HortaProexProext-PGPROPGUFSC

Redbioética UNESCO: ‘crise global de valores que ameaça a sustentabilidade da vida’

06/11/2025 09:12

Mais de 2.200 participantes de 25 países acompanham a décima edição do Congresso Internacional da Redbioética UNESCO, aberto na manhã desta terça-feira, 5 de novembro, no campus Trindade da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. O evento, que segue até sexta-feira (7), foi precedido pelo lançamento oficial da Cátedra UNESCO de Bioética e Saúde Coletiva Giovanni Berlinguer, no dia 4 (segunda), e marcado pelos 20 anos da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos.

No discurso de abertura, o professor da UFSC Fernando Hellmann – presidente do Congresso – traçou um panorama contundente dos desafios contemporâneos, afirmando que vivemos “tempos desafiadores marcados por múltiplas crises humanitárias, crises sociais, ambientais, climáticas, crises políticas e de representatividade democrática”. Segundo o professor, essas crises são amplificadas pelo avanço tecnológico excludente, pelo uso indiscriminado da inteligência artificial e pelo colonialismo digital, além da transferência de funções essenciais do Estado e de organismos multilaterais para a iniciativa privada, que prioriza o lucro em detrimento do bem comum.

O resultado, segundo Hellmann, é “uma crise global de valores que ameaça a sustentabilidade da vida no e do planeta”. O professor destacou que as consequências dessa lógica recaem desproporcionalmente sobre os mais vulnerabilizados: migrantes, povos originários, indígenas, mulheres e pessoas racializadas.

Em tom crítico, Hellmann denunciou o enfraquecimento do sistema das Nações Unidas e do direito humanitário internacional. O sistema de direitos humanos da ONU, segundo ele, enfrenta escassez de recursos, déficit de pessoal e crise financeira, com falta de financiamento inclusive para a bioética na UNESCO. O professor mencionou o genocídio do povo palestino e o massacre no Sudão como exemplos evidentes da falta de mecanismos eficazes de responsabilização internacional.

A América Latina foi o foco central da reflexão do docente. Hellmann denunciou o que chamou de “capitalismo canibal que devora vidas, que destrói o meio ambiente e aprofunda a injustiça”. Ele destacou que a região concentra mais de 80% das mortes e desaparecimentos dos defensores ambientais e dos direitos territoriais em todo o mundo, classificando esse dado como “um retrato doloroso da violência contra quem protege a vida”.

A data da abertura do congresso coincide com os 10 anos do desastre ambiental de Mariana, em Minas Gerais, a maior tragédia ambiental da história do país. O professor Fernando lembrou que os rejeitos de mineração devastaram mais de 600 km de rios até chegar ao mar e que, até hoje, ninguém foi punido. Pior ainda, acrescentou que no ano passado a justiça absolveu as mineradoras envolvidas, incluindo a Samarco e a Vale.

O professor citou ainda outros exemplos de violações na região, como a contaminação por mercúrio na bacia do rio Atrato, na Colômbia, onde comunidades indígenas e afrodescendentes enfrentam riscos graves à saúde. Também mencionou o Furacão Melissa, que na semana passada atingiu o Caribe com força inédita, deixando mais de 40 mortos e cidades devastadas na Jamaica, Haiti e República Dominicana, caracterizando esses eventos como consequências diretas da inação global frente à crise climática.

A violência urbana também foi tema do discurso. Hellmann denunciou a operação policial no Rio de Janeiro que, na última semana, deixou mais de 120 mortos, incluindo moradores de comunidades e policiais. Para o professor, trata-se de “uma expressão brutal da necropolítica” e da “falência do Estado em proteger a própria população”.

No campo político, o professor criticou o que chamou de “nova doutrina Monroe” na América Latina, mencionando a situação do Haiti, da Venezuela e de Cuba. Sobre este último país, afirmou ser “inadmissível que Cuba, esse país que exporta médicos e solidariedade, seja tratado como nação terrorista, sofrendo embargo injusto que fere a dignidade de todo o povo”.

O pesquisador também alertou para o avanço de tendências autoritárias na região, mencionando a retirada da Nicarágua do Conselho de Direitos Humanos da ONU e o enfraquecimento da justiça internacional no Peru. Segundo ele, o neoliberalismo transforma direitos sociais conquistados em mercadorias e ataca as normas éticas da saúde pública, negando o direito universal à saúde ao não garantir acesso a medicamentos e vacinas como bens públicos.

Apesar do cenário crítico, o professor enfatizou que a América Latina é também “um continente de resistência e esperança”. Ele homenageou duas personalidades latino-americanas que faleceram em 2025: Pepe Mujica e Papa Francisco, afirmando que ambos “encarnaram na prática com coragem, justiça e humildade os valores da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos”.

O professor conclamou a plateia a não aceitar o mundo como está, afirmando que “as estruturas que exploram e expropriam não são naturais, não são inevitáveis e podem e devem ser transformadas”. A bioética latino-americana, “levanta-se para dizer basta: basta a indiferença, basta a desigualdade, basta a mercantilização da vida, basta a visão tecnocrática da bioética que esvazia sua dimensão política”.

O evento é realizado gratuitamente, com acesso presencial e online, em uma universidade pública, como forma de materializar o compromisso da rede com a “democratização do conhecimento e a amplificação dos discursos bioéticos para toda a sociedade”. Hellmann enfatizou que a bioética “não pode se limitar ao espaço acadêmico institucional, ela precisa envolver toda a sociedade e ser ativa”.

O congresso agrega mais de 70 palestrantes, 40 monitores, 35 pareceristas, mais de 40 moderadores e 342 trabalhos submetidos para apresentação. O evento tem apoio de instituições como CAPES, CNPq, o Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFSC e financiamento do Ministério da Saúde.

Ao encerrar sua fala, Hellmann expressou a esperança de que o congresso seja “um sopro de esperança, um marco na construção e na reafirmação de uma bioética crítica, plural e transformadora que inspire cada um de nós a contribuir para a criação de um futuro mais justo, mais inclusivo, mais solidário e mais sustentável”. Os números do evento, segundo o professor, são “uma prova de que a bioética latino-americana está pulsante e profundamente comprometida com a vida, com a justiça e a dignidade humana”.

Na abertura do congresso estavam presentes o reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, e a vice-reitora, Joana Célia dos Passos. O reitor, acompanhado da presidenta da Redbioética UNESCO para a América Latina e o Caribe, Constanza Ovalle, dos docentes Marta Verdi, Sandra Caponi, Fernando Hellman, e do representante da Presidência da República, Swedenberger do Nascimento Barbosa, falaram ao público participante.

Irineu caracterizou o congresso como “um espaço de encontro para a pluralidade dos saberes sobre a ética e os direitos humanos”, ajudando a construir uma ética prática que reconheça o passado e enfrente desafios presentes e futuros, promovendo os direitos humanos e a sustentabilidade do planeta. Para o gestor da Universidade, o evento reafirma o compromisso de democratizar o conhecimento e ampliar o alcance das discussões bioéticas, de modo a promover “a construção coletiva de alternativas éticas para um futuro mais justo e solidário para a nossa sociedade”.

O reitor destacou o papel da UFSC no cenário nacional e internacional, afirmando que a instituição “é o que está na razão desses eventos, desses acontecimentos, dessa pluralidade de ideias que realmente fazem com que a nossa universidade seja reconhecida como a melhor universidade do estado de Santa Catarina, a quarta melhor universidade do Brasil entre as federais e uma universidade bem destacada na América Latina e no mundo”. 

Irineu ainda lembrou os desafios, ressaltando que, apesar de “todas as dificuldades orçamentárias, é possível realizar eventos e avançar e manter a importância da universidade pública para o nosso país”. Enfatizou que é na universidade pública que se forma os melhores quadros e se produz ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável. Ao encerrar, parabenizou os organizadores, reafirmando a consciência da UFSC sobre sua relevância em debates dessa natureza.

Entre os destaques da programação, no último dia (7), será realizada a Conferência Plenária 4, intitulada “Educação para a Igualdade Racial e Desafios de uma Bioética Antirracista”, ministrada pela vice-reitora da UFSC, Joana Célia dos Passos, que também coordena a Cátedra Antonieta de Barros: Educação para a Igualdade Racial e Combate ao Racismo.

Lançamento da Cátedra Giovanni Berlinguer

No pré-congresso, dia 4, foi oficialmente lançada a Cátedra Giovanni Berlinguer de Bioética e Saúde Coletiva. A iniciativa, aprovada em 2025, resulta da colaboração entre o Núcleo de Pesquisa e Extensão em Bioética e Saúde Coletiva (NUPEBISC), o Núcleo de Estudos em Sociologia, Filosofia e História das Ciências da Saúde (NESFHIS), ambos da UFSC, e o Programa de Cátedras e a Rede UNITWIN (University Twinning and Networking Scheme) da UNESCO.

A Cátedra homenageia o médico e bioeticista italiano Giovanni Berlinguer (1924–2015), referência na defesa da saúde pública e na consolidação do sistema público de saúde na Itália. Sua atuação foi decisiva para a Reforma Sanitária Brasileira, que inspirou a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), consagrado na Constituição de 1988. O espaço nasce com vocação interdisciplinar, voltado à produção de conhecimento crítico sobre racismo estrutural, desigualdades no acesso à saúde e desafios éticos contemporâneos.

Participaram do lançamento a vice-reitora da UFSC, Joana Célia dos Passos, a presidenta da Redbioética UNESCO para a América Latina e o Caribe, Constanza Ovalle, e os docentes Marta Verdi, Sandra Caponi, Fernando Hellman e Mirelle Finkler.

Durante sua fala, a vice-reitora Joana defendeu articular a produção acadêmica, o ativismo militante e a formulação de políticas públicas para enfrentar desigualdades e violências contemporâneas. Ao parabenizar a criação da Cátedra e sua chancela, destacou que ao desenvolver o trabalho em rede significa não estar sozinho “quando se trata das questões que afligem a humanidade”. Na análise do contexto brasileiro, apontou a intensificação de um Estado armado e de desigualdades fortalecidas pelo modelo capitalista, criticando a recente operação no Rio de Janeiro, que deveria ter sido “uma megaoperação de saúde, de educação, de cultura, de lazer, de arte, mas foi uma megaoperação da morte”, associando o tema à necropolítica.

A vice-reitora afirmou que o papel da universidade avança com “a disposição de unir a academia, a universidade, a ciência, com o ativismo militante e com a formulação da política pública”. Valorizou as diretrizes históricas dos grupos de pesquisa da cátedra, desejou vida longa à iniciativa e reforçou a UFSC como espaço para consolidar redes internacionais e nacionais. Enfatizou a perspectiva latino-americana como fundamento estratégico, pois “mais do que nunca, esse fortalecimento faz a diferença e é fundamental para as tantas lutas”, em um território ainda marcado por heranças coloniais que desabilitam redes de resistência e aprendizagem coletiva.

Em sua fala também destacou princípios que nascem da vida cotidiana e dos territórios, com centralidade da saúde coletiva – área em que o Brasil é “um país pioneiro”. Apontou resultados já concretos, com mais de 200 pessoas formadas em bioética, “um antecedente fundamental” que revela seriedade e “um grupo que tem uma força própria”. Ao encerrar, Joana afirmou que os conflitos também são oportunidades de aprendizagem e disse estar segura de que cada participante tem “um espírito de futuro e esperança”, convidando à fraternidade, ao entendimento coletivo e aos debates do Congresso de Bioética.

Mais informações no site do evento: xcongressoredbioetica.com.br

 

Rosiani Bion de Almeida | Divisão de Imprensa do GR
imprensa.gr@contato.ufsc.br

Fotos: Luz Mariana Blet

Tags: Cátedra UNESCO de Bioética e Saúde Coletiva Giovanni BerlinguerCongresso Internacional da Redbioética UNESCOGabinete da ReitoriaRedbioética UNESCO para a América Latina e o CaribeUFSC