UFSC celebra 65 anos com arte e reconhecimento a trajetórias profissionais

15/12/2025 17:32

Sessão Solene de 65 anos da UFSC foi realizada nesta segunda-feira, 15 de dezembro. Fotos: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC

Seis educadores e quatro técnicos-administrativos em Educação (TAEs) com destacadas trajetórias profissionais foram homenageados no aniversário de 65 anos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) [1960-2025]. A manhã desta segunda-feira, 15 de dezembro, foi de muita celebração, marcada por apresentações artísticas, sessão de fotos e reconhecimento institucional de dez histórias de vidas que se somam às mais altas dignidades universitárias: Professor Emérito, Técnico Emérito e Doutor Honoris Causa.

A data, a mais especial para a instituição, foi comemorada em tradicional sessão solene do Conselho Universitário (CUn), no Auditório Garapuvu do Centro de Cultura e Eventos Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, no campus Trindade, em Florianópolis. A solenidade foi transmitida ao vivo pelo canal do CUn no YouTube. O ponto alto da solenidade foi a concessão das dignidades universitárias, acompanhada do lançamento de vídeo em homenagem aos 65 anos, e por apresentações de sapateado e acrobacias.

O evento também foi cercado de formalidades e simbolismos: cerimonial, discursos, trajes protocolares e o uso da borla nas outorgas. Os conselheiros ingressaram no auditório conduzidos pelo reitor e presidente do CUn, Irineu Manoel de Souza, pela vice-reitora e vice-presidente, Joana Célia dos Passos, e pela secretária-geral dos Órgãos Deliberativos Centrais, Raquel Pinheiro, e ocuparam os assentos reservados nas três primeiras fileiras do centro.

Inicialmente, o reitor permaneceu na plateia, ao lado dos conselheiros, para assistir a dois vídeos: um comemorativo – que contou um pouco desta história de mais seis décadas que faz da UFSC, segundo o slogan “orgulho catarinense, patrimônio nacional” -; e outro de caráter institucional que evidenciou a estrutura física e de pessoas da quarta melhor universidade federal do país. Na sequência das exibições, o reitor foi convidado a compor a mesa de honra juntamente com a vice-reitora, a secretária-geral e o presidente do Conselho de Curadores, Edson Bazzo.

“Cumprimento os membros do Conselho Universitário e todas as pessoas aqui presentes e declaro aberta esta Sessão Solene do Conselho Universitário, em comemoração aos 65 anos da Universidade Federal de Santa Catarina e de outorga das dignidades universitárias aprovadas em 2025”, disse o reitor.

A sessão contou com a presença dos homenageados e seus familiares e amigos, membros do Gabinete da Reitoria, pró-reitores, secretários, diretores, chefes de departamento, coordenadores de curso, lideranças estudantis e sindicais, além de autoridades acadêmicas e da sociedade civil.

Reconhecimento Inédito

Pela primeira vez em sua história, a UFSC concedeu o título de Técnico-Administrativo Emérito — criado e aprovado pelo colegiado neste ano. A honraria pioneira foi entregue às irmãs Helena Olinda Dalri e Ângela Olinda Dalri, à Raquel Jorge Moysés e ao filho de José de Assis Filho (in memoriam).

Na outorga das medalhas e dos títulos, destacou-se a contribuição decisiva de cada homenageado à vida universitária. O reitor Irineu resumiu o espírito da cerimônia ao afirmar que cada reconhecimento distingue “os relevantes serviços prestados a esta instituição ao longo de uma trajetória profissional exemplar”.

A criação do título de Técnico Emérito marca um avanço na política de valorização da UFSC. Destinado a servidores aposentados, ele distingue percursos que se sobressaem pelo elevado mérito profissional e pelos serviços relevantes prestados à universidade – histórias de luta e dedicação que ajudaram a construir ontem a instituição de hoje.

Na sequência, uma exposição breve dos motivos pelos quais essas trajetórias foram escolhidas, com alguns trechos de suas falas na entrega da homenagem:

Helena Olinda Dalri

A UFSC reconhece em Helena uma trajetória exemplar que une três dimensões fundamentais do serviço público universitário. Seus 33 anos de dedicação ao Curso de Direito do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) estabeleceram um padrão de excelência no atendimento que transcendeu gerações, conquistando o reconhecimento espontâneo de estudantes em formaturas e eventos oficiais. Sua participação em dois mandatos no Conselho Universitário demonstrou capacidade de contribuir estrategicamente para os rumos institucionais, enquanto a Medalha Francisco Dias Velho pela Câmara Municipal atesta seu impacto além dos muros da universidade. A homenagem valoriza ainda sua liderança sindical histórica, desde o Movimento Alternativo Independente até a direção do Sindicato dos Trabalhadores da UFSC (Sintufsc), onde foi protagonista nas lutas pela carreira. Helena personifica a síntese entre competência técnica, compromisso institucional e defesa coletiva dos direitos dos trabalhadores da educação.

Agradeço ao Sintufsc por esta homenagem e por impulsionar políticas que rompem com a tradição de invisibilizar o TAE – como registra este primeiro título emérito concedido à nossa categoria; celebro a alegria de ter trabalhado aqui, enfrentando desafios de trabalho e sindicais ao longo de 33 anos, convivendo com estudantes – em especial do curso de Direito, que tanto contribuíram para minha formação e para a vida desta instituição; deixo meu carinho às amizades e à militância coletiva sem as quais eu não estaria aqui, e dedico esta homenagem a vocês; a UFSC que nos abraça hoje é fruto da luta que abraçamos por décadas pela universidade pública, gratuita e de qualidade, pelos direitos humanos, sociais, políticos e econômicos dos trabalhadores e pela solidariedade entre os povos.

Ângela Olinda Dalri

A universidade homenageia Ângela por uma carreira de 30 anos marcada pela versatilidade institucional e pelo profundo compromisso com a universidade pública. Sua passagem por unidades estratégicas – Gabinete da Reitoria, Centro de Ciências Biológicas (CCB), Centro Socioeconômico (CSE) e Centro de Comunicação e Expressão (CCE) – sempre conciliando trabalho e formação acadêmica, demonstra dedicação e capacidade de adaptação. O título de técnica-emérita reconhece especialmente seu papel fundador no Sintufsc, onde exerceu a coordenação-geral e tornou-se referência em articulação política e mobilização coletiva. Mesmo aposentada desde 2009, Ângela manteve viva sua vocação de acolhimento, estendendo solidariedade a estudantes e trabalhadores imigrantes. A UFSC celebra nela a ética, a solidariedade e o compromisso permanente com a construção coletiva de direitos, valores essenciais à universidade pública.

Estar aqui e reafirmar que ninguém caminha sozinho: se realizei o trabalho foi porque muitas pessoas estiveram lado a lado comigo; este é um momento de alegria e também de compromisso, pois há muitas e muitos que merecem ser homenageados; a universidade, como o nome diz, é o lugar onde conversam os saberes – espaço de construção e desconstrução, de aprender outras verdades que nos fazem refletir sobre a vida e sobre o outro; agradeço à minha base familiar, de onde trouxe o sentido de servir, respeitar e acolher, e reafirmo o dever e o prazer de ser servidora pública, atendendo bem porque é o povo que nos sustenta; muito obrigada por esta homenagem, que recebo representando todas e todos que constroem, diariamente, a universidade pública.

Raquel Jorge Moysés

Representada por sua irmã Tânia Mara Moysés, Raquel é homenageada por seus 33 anos de contribuições decisivas em três frentes fundamentais. Na comunicação institucional, foi artífice da consolidação da Agência de Comunicação (Agecom) e da criação do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA), liderando diretorias e coordenando o Jornal Universitário (JU), além de arquitetar a Política Pública de Comunicação da UFSC, reconhecida nacionalmente por suas diretrizes de transparência e participação. No campo acadêmico latino-americano, foi peça-chave no fortalecimento do pensamento crítico por meio do Observatório e das Jornadas Bolivarianas. Na dimensão sindical, exerceu a coordenação-geral do Sintufsc, protagonizando mobilizações históricas por carreira, contra o assédio moral e em defesa da universidade pública, além de promover iniciativas culturais como a mostra Eko Porã. A UFSC reconhece em Raquel a rara integração entre comunicação pública de qualidade, reflexão crítica e engajamento social transformador.

A partir de agora dou voz à minha irmã; sua trajetória como servidora pública, jornalista da UFSC e no curso só foi possível graças a tantas pessoas que fazem de nossas instituições organismos vivos; neste aniversário de 65 anos, celebramos a igualdade, mas também reconhecemos que desigualdades e repressão, por vezes, maculam nossas instituições; atravessamos tempos de rupturas e dores, guerras devastadoras, e a universidade deve ser o espaço onde tais iniquidades sejam denunciadas, discutidas e pensadas, para produzir um conhecimento justo que aponte caminhos a uma humanidade digna; nesta sessão solene, ela declara seu amor por todos os seres, muitas vezes invisíveis, que lutam por isso, e dedica a eles sua dignidade universitária, por serem eméritos na vida.

José de Assis Filho (in memoriam)

Representado por seu filho Adriano José de Assis, Assis é homenageado por ter transformado o atendimento estudantil em referência de cuidado e eficiência. Durante 23 anos no Departamento de Administração Escolar (DAE), até seu falecimento em 2008, ficou conhecido por sua memória excepcional e pela atenção personalizada a cada estudante. A UFSC reconhece que sua contribuição extrapolou o trabalho cotidiano: ocupou posições de liderança no Sintufsc, chegando à coordenação-geral, representou os técnicos no Conselho Universitário e integrou comissões estratégicas sobre Reforma Universitária e políticas de acesso e diversidade. Assis deixou um legado que combina profissionalismo técnico, ética do cuidado humano e firmeza nas lutas coletivas, tornando-se símbolo da valorização do servidor que transforma vidas através do serviço público.

Bom dia a todas e todos; cumprimento, na pessoa do meu pai toda a comunidade universitária, e agradeço ao Conselho Universitário por reconhecer, 17 anos após seu falecimento, o trabalho que ele dedicou a esta instituição que carregou no coração até o último suspiro; na sua última semana, ao receber uma breve alta, ele pediu para dar uma volta completa pela UFSC e, mesmo fraco, disse: ‘Está vendo? É a universidade mais linda do Brasil’; esse era o Assis — servidor público que honrou o serviço, defendeu a universidade pública, gratuita e de qualidade, e nos ensinou, com o exemplo, o valor de cuidar dessa casa que transforma vidas.

Educação como missão de vida

A sessão também celebrou trajetórias de quem fez da educação um projeto de vida. Receberam o título de Professor(a) Emérito(a) as docentes Esther Jean Langdon, Miriam Pillar Grossi, Luzinete Simões Minella e Rafael José de Menezes Bastos. As homenagens destacaram contribuições decisivas em Antropologia, estudos de gênero, etnologia e etnomusicologia indígenas, além da formação de novas gerações de pesquisadoras e pesquisadores. Na sequência, os títulos de Doutor(a) Honoris Causa foram concedidos à jurista e professora Dora Lúcia de Lima Bertúlio (in memoriam) e ao padre Vilson Groh, educador popular e articulador de redes comunitárias.

Para o reitor Irineu, as outorgas sintetizam a excelência acadêmica e reconhecem os “relevantes serviços prestados a esta instituição e às valiosas contribuições nas atividades de ensino, pesquisa e extensão ao longo de sua exemplar trajetória profissional.”

Como estabelece o CUn, as dignidades universitárias de Professor(a) Emérito(a) são conferidas a docentes aposentados pelos altos méritos profissionais e pelos relevantes serviços prestados à Instituição. Doutor(a) Honoris Causa, por sua vez, é destinado a personalidades eminentes — com ou sem diploma universitário — que se destacam nas artes, nas ciências, na filosofia, nas letras, na promoção da paz ou em causas humanitárias. A honraria reconhece reputações ilibadas, virtudes e ações cujo impacto ultrapassa interesses individuais e alcança a sociedade. Na sequência, um breve relato dos motivos pelos quais esses servidores foram reverenciados.

Rafael José de Menezes Bastos

A UFSC honra Rafael Bastos por consolidar a Etnologia e a Etnomusicologia Indígenas como campos de excelência nacional e internacional. Desde 1984 na instituição, construiu produção científica robusta com mais de cem publicações, projeção internacional como professor visitante em diversos países e reconhecimento como parecerista e conselheiro editorial. Suas contribuições institucionais foram estruturantes: fundou e coordenou o Núcleo de Estudos Arte, Cultura e Sociedade na América Latina e Caribe (MUSA) e o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS/UFSC), e integrou conselhos acadêmicos, formando gerações de pesquisadores e fortalecendo a Antropologia brasileira. Promovido a professor titular em 2014, representa a síntese entre rigor acadêmico, inovação no campo dos estudos indígenas e compromisso com a construção institucional.

Recebo este título com gratidão e humildade, lembrando que nada foi solitário: agradeço aos colegas que tiveram a coragem de me indicar e sustentar a proposta, aos estudantes — verdadeiros mestres no ofício de ensinar – e às parcerias que me trouxeram à UFSC; cheguei aqui após anos de trabalho junto a instituições públicas e a pesquisas de campo, especialmente com povos originários, em projetos que me formaram tanto quanto formei; devo muito a quem me abriu portas, convidou para investigar nossas fronteiras culturais e ambientais e acreditou em uma universidade que integra ensino, pesquisa e extensão; este reconhecimento pertence à comunidade que o tornou possível, e eu o celebro como compromisso renovado com o diálogo, a ciência e o respeito às culturas que nos ensinam a ver o Brasil em sua profundidade.

Esther Jean Langdon

Pioneira nos estudos de xamanismo, antropologia da saúde e povos indígenas, Esther é homenageada por uma carreira que transformou a UFSC em referência internacional nesses campos. Desde 1983 na Universidade, publicou mais de cem trabalhos, orientou mais de cem pesquisas e, como pesquisadora sênior mesmo após a aposentadoria, coordenou por mais de uma década o INCT Brasil Plural, impulsionando a internacionalização institucional. Seus estudos sobre os Siona e sobre saúde indígena tornaram-se referências nacionais. Laureada pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) e celebrada em coletânea da Editora da UFSC, Esther representa a união entre rigor científico, ética na pesquisa com povos tradicionais e impacto nas políticas públicas, especialmente na consolidação da saúde indígena no Brasil.

O tempo é pouco para tantos agradecimentos, mas registro minha gratidão à UFSC, às professoras e professores, às e aos estudantes que me acolheram e me convenceram a ficar; agradeço a quem me apoiou nos períodos de incerteza — da segurança provisória à proibição de contratações —, ao Departamento de Antropologia que garantiu minha permanência na cidade, aos núcleos que construímos coletivamente e a todas as pessoas que me deram a oportunidade de, ao longo de 42 anos, aprender sobre o Brasil, o pensamento do Sul Global e a importância de uma luta verdadeira pela democracia.

Miriam Pillar Grossi

A UFSC reconhece Miriam como referência global que projetou a instituição internacionalmente nos estudos de gênero e sexualidade. Desde 1989, fundou o Núcleo de Gênero, Identidades e Subjetividades (NIGS) (1991), orientou mais de 200 pesquisadores, desenvolveu metodologias qualitativas inovadoras e elevou o prestígio do Departamento de Antropologia e do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH). Coordenou o Instituto de Estudos de Gênero (IEG/UFSC), presidiu a Associação Brasileira de Antropologia (2004–2006) e atualmente é vice-presidente eleita da International Union of Anthropological and Ethnological Sciences (IUAES) (2023–2027) e coordena a Commission of Global Feminisms and Queer Politics. A homenagem valoriza sua liderança em articular ensino, pesquisa e políticas públicas, ampliando debates fundamentais sobre direitos, diversidade e democracia, e consolidando a UFSC como polo mundial dos estudos feministas e de gênero.

O reconhecimento que recebo hoje é também dos coletivos com quem construí alianças e que colocaram nossa universidade no patamar de excelência, desde a consolidação da antropologia, graduação e pós-graduação, à criação de núcleos, revistas, seminários e espaços culturais em gênero e diversidade; venho de uma geração que cresceu sob a ditadura e, com a volta da democracia, pôde transformar a universidade pública e a ciência brasileiras, ainda que enfrentando barreiras impostas às mulheres na ciência – tetos de vidro, silenciamentos, apropriações e assédio; reitero nossa demanda por uma formação obrigatória em gênero, sexualidade, identidades e enfrentamento às violências em todos os cursos, para que a UFSC siga formando profissionais capazes de reconhecer desigualdades e lutar por seu fim; renovo meu compromisso com uma democracia efetiva, que garanta educação de qualidade e direitos iguais a todas, todos e todes.

Luzinete Simões Minella

Intelectual pioneira dos estudos feministas no Brasil, Luzinete é homenageada por institucionalizar e consolidar esse campo na UFSC. Desde sua chegada após 1991, fortaleceu o Departamento de Sociologia e Ciência Política e o Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política (PPGSP), permanecendo ativa no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH) onde coordenou a área de Estudos de Gênero. Sua atuação no IEG e na Revista Estudos Feministas, a organização do evento Fazendo Gênero e a articulação de redes nacionais sobre ciência, tecnologia e gênero foram decisivas para a legitimação acadêmica do campo. Autora de obras de referência sobre saúde reprodutiva, infância e saúde mental, formou gerações de pesquisadores e estabeleceu a UFSC como instituição fundamental para os estudos feministas brasileiros, unindo rigor crítico e sensibilidade social.

É difícil encontrar as palavras nesta hora, depois de tantas falas que já disseram tanto sobre nossa trajetória e empenho; sinto-me profundamente honrada com este reconhecimento, que representa o ápice de uma carreira acadêmica e pública construída coletivamente; agradeço à pós-graduação interdisciplinar em Ciências Humanas, à Cátedra Antonieta de Barros, ao Departamento de Sociologia e Ciência Política, às colegas do núcleo de estudos de gênero e à equipe da revista, cujo trabalho extrapola a produção acadêmica; às pessoas presentes e ausentes que contribuíram para minha formação e para a formação da minha geração; à minha família, meus filhos, meu neto Francisco, que me ensina diariamente a leveza, a ironia e o humor, tão necessários num mundo de guerras e emoções exacerbadas; e aos meus pais, que talvez jamais tenham sonhado com este caminho que abracei.

Doutor Honoris Causa

Dora Lúcia de Lima Bertúlio (in memoriam)

Representada por seu irmão Max Salustiano de Lima, Dora é homenageada por transformar o pensamento jurídico brasileiro sobre relações raciais e por protagonizar a institucionalização das ações afirmativas no ensino superior. Sua dissertação “Direito e Relações Raciais: uma introdução crítica ao racismo”, referência republicada em 2019, abriu caminhos teóricos fundamentais. Como Procuradora Federal da Universidade Federal do Paraná (UFPR), atuou decisivamente na implementação de políticas afirmativas. Sua trajetória alcançou a Fundação Cultural Palmares, a Conferência de Durban e a Comissão de Juristas da Câmara dos Deputados, além da cofundação do Núcleo de Estudos Negros (NEN) em Florianópolis, e de coletivos de mulheres negras. Falecida em 2025, deixa legado vigoroso de articulação entre academia, políticas públicas e movimentos sociais na luta por justiça racial e cidadania plena.

Recebo esta honraria em nome de minha irmã, cuja trajetória acadêmica e política nos enche de orgulho; nascemos em Itajaí e crescemos sob o peso do racismo estrutural, mas também da resistência de nossa família, que enfrentou a repressão da ditadura e nunca abriu mão da educação e da justiça; minha irmã foi pioneira ao romper barreiras na escola, destacou-se no serviço público, defendeu comunidades quilombolas mesmo sob ameaças, qualificou-se com excelência, contribuiu para a implantação das cotas e estruturou marcos jurídicos que ampliaram direitos; agradeço à UFSC por reconhecerem essa história de coragem e compromisso com a democracia e a igualdade, e convido todos a celebrarem não apenas a conquista individual, mas o avanço coletivo que ela simboliza.

Padre Vilson Groh

A UFSC homenageia Padre Vilson por construir pontes concretas entre a universidade e as comunidades periféricas de Florianópolis. Desde o final dos anos 1970, sua imersão solidária nos morros da cidade, unindo fé, ecumenismo e ação por direitos, trabalho e dignidade, transformou realidades. Morador do Monte Serrat desde sua ordenação em 1981, articulou parcerias entre igreja, poder público e sociedade civil. Em 2011, fundou o Instituto Vilson Groh (IVG), rede que em 2022 atendeu mais de 22 mil pessoas e mantém convênios estratégicos com a UFSC, abrindo caminhos de formação técnica e superior para juventudes periféricas. Reconhecido nacionalmente, incluindo a Comenda da Ordem de Rio Branco (2025), representa o compromisso da universidade com a justiça social e a educação como instrumento de transformação e inclusão.

Não basta dizer que somos antirracistas, é preciso práticas diárias; dedico este título aos 40 mil jovens assassinados por ano no Brasil – como o jovem negro, pobre, morador da periferia, cujo funeral celebrei ontem -, às mães resistentes das comunidades, aos estudantes que ingressaram pelas cotas, às casas de candomblé e umbanda; pois tolerância é aprender a conviver com o diferente, e justiça social não é dádiva ou assistencialismo, mas garantir que o filho da periferia entre nesta universidade junto com o da classe média, com um Estado democrático cujo orçamento inclua a população negra, indígena, empobrecida; que a universidade abrace ainda mais essa realidade, transformando pesquisa em instrumento de formação.

Além dos homenageados e/ou seus representantes, também tiveram a palavra membros do Diretório Central dos Estudantes Luís Travassos (DCE), da Associação de Pós-Graduandos (APG), do Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina (Apufsc-Sindical) e do Sindicato de Trabalhadores da UFSC (Sintufsc). Este último, quebrou o protocolo e chamou os homenageados ao palco para a entrega de placas.

No discurso de encerramento, o reitor combinou agradecimentos, um balanço institucional e um chamado à defesa da universidade pública. “Este momento memorável dos 65 anos da nossa universidade é um momento de muitas alegrias para toda a comunidade universitária”, afirmou, destacando que celebrar a data é, sobretudo, “agradecer a todas as pessoas que contribuíram para a universidade que temos hoje”. Ele também citou nominalmente servidores técnico-administrativos e professores agraciados com as dignidades universitárias, reconhecendo suas “trajetórias acadêmicas, administrativas, políticas e sociais”.

Ao traçar um panorama da instituição, Irineu ressaltou a capilaridade da UFSC em Santa Catarina, com presença em Florianópolis, Araranguá, Blumenau, Curitibanos e Joinville, o que a consolida como “referência nacional em diversas áreas do conhecimento”. Mencionou ainda a robusta estrutura da universidade — do ensino infantil ao superior, da pesquisa e da extensão. “Vejam a possibilidade de transformação social que a universidade oferece aos estudantes e também aos seus familiares”, enfatizou.

Ao destacar que a universidade é “fruto de uma construção de várias gerações”, Irineu afirmou que, em 65 anos, a UFSC “contribuiu sobremaneira para o avanço cultural, artístico, científico e tecnológico do Brasil” e que o país precisa “diminuir as imensas desigualdades sociais”, tarefa na qual as universidades públicas são fundamentais. “Nossa comunidade continuará com o desafio de fazer com que a universidade seja cada vez mais forte e importante para os avanços de nossa sociedade. Viva a UFSC, hoje e sempre.”

Assista à sessão de aniversário da UFSC na íntegra:

Acompanhe também o site especial dos 65 anos da UFSC.

 

Rosiani Bion de Almeida | Divisão de Imprensa do GR
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Fotos: Gustavo Diehl | Agecom

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UFSC inicia migração escalonada para novas regras de jornada, teletrabalho e controle social

12/12/2025 17:48

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) publicou no Diário Oficial a Resolução Normativa nº 218 do Conselho Universitário (CUn), que consolida políticas institucionais de flexibilização da jornada de trabalho, teletrabalho e controle social da frequência dos(as) técnico-administrativos(as) em Educação (TAEs).

Para assegurar uma transição segura, organizada e sem sobrecarga operacional, a Divisão de Acompanhamento da Jornada de Trabalho (Dajor), do Departamento de Administração de Pessoal (DAP), da Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas (Prodegesp), adotará um modelo de migração escalonada. Na prática, os novos processos administrativos — relativos aos planos de implementação e à constituição de comissões setoriais — serão abertos de forma gradual, por grupos de unidades previamente definidos.

Somente os setores formalmente selecionados e comunicados pela Dajor, via ofício, devem iniciar neste momento a tramitação de processos com base na RN. As demais unidades não precisam encaminhar solicitações imediatamente, evitando retrabalho e congestionamento do fluxo interno.

A Divisão ressalta que as autorizações atualmente vigentes nos projetos-pilotos instituídos pelas Portarias Normativas nº 470 e nº 471/2023 permanecem válidas durante todo o período de transição. Servidores(as) contemplados(as) por essas portarias não precisam adotar nenhuma medida adicional até que a divisão analise e se manifeste formalmente sobre cada novo processo.

Quando convocadas, as unidades receberão um conjunto de orientações específicas: guias passo a passo, modelos de formulários e prazos por modalidade (teletrabalho, flexibilização da jornada e constituição de comissão setorial). Todo o material de apoio e as instruções oficiais estão reunidos na página https://prodegesp.ufsc.br/dap/dajor/.

Durante essa fase, dúvidas e pedidos de esclarecimento devem ser encaminhados exclusivamente pelas comissões setoriais, que centralizarão o contato com a Dajor. A medida busca garantir agilidade, padronização e clareza na comunicação entre as áreas.

Mais informações:

(48) 3721-9261

dajor.dap@contato.ufsc.br

csocial.dajor@contato.ufsc.br

https://prodegesp.ufsc.br/dap/dajor/

 

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Para vice-reitora da UFSC, cotas raciais têm como opositor o racismo estrutural e institucional

12/12/2025 15:27

Vice-reitora da UFSC, Joana Célia dos Passos. Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC

O Projeto de Lei aprovado pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), na última quarta-feira, 10 de dezembro, que extingue as cotas raciais em universidades estaduais provocou manifestações contrárias. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e o Instituto Federal Catarinense (IFC) assinam nota conjunta de repúdio ao PL.

Em entrevista, a vice-reitora da UFSC, Joana Célia dos Passos, falou sobre a importância das cotas. A medida tomada pela Alesc não impacta as federais, mas o exemplo dado por ela mostra a importância desta política pública.

Joana lembra que passaram-se 22 anos da primeira iniciativa de cotas em universidades federais, 12 anos da promulgação da lei que implementou as ações afirmativas nas instituições federais de ensino superior e 17 anos da criação do programa de ações afirmativas da UFSC.

“É assim que vemos, neste período, pela primeira vez, a autonomia universitária é um princípio tão caro para quem defende a universidade pública que passa a ser usada em nome da inclusão de estudantes negros, indígenas e quilombolas no ensino superior. Mas, no entanto, e justamente por esses mesmos avanços, essas mesmas políticas enfrentam desafios decorrentes do racismo estrutural e institucional que tenta desqualificar, obstruir, obstaculizar a sua expansão e obriga, em alguma medida, as instituições busquem novos instrumentos para o fortalecimento e manutenção dessa política”, analisa a vice-reitora.

Segundo ela, a UFSC teve um avanço significativo no quantitativo de formandos negros.

“Antes da adoção do sistema, 170 pessoas negras se formaram pela UFSC. Em 2003, esse número aumentou para 442 pessoas negras. Também foi nesse mesmo ano que a gente teve um recorde de formandos negros, 17% do total de pessoas diplomadas, correspondendo a um aumento, então, de 2008 para 2023, de cerca de 160%. Até 2008, antes do programa de ações afirmativas, os negros representavam apenas 6,5% do total de alunos formados na UFSC. Se levarmos em conta uma série histórica das ações afirmativas, nós vamos encontrar aproximadamente 6 mil estudantes negros se formaram na Universidade Federal de Santa Catarina, sendo que aproximadamente 360 por ano nesse tempo mais recente”.

Para Joana, “as universidades estão mais plurais, mais democráticas em termos raciais, mas não menos conflituosas, não menos desafiadoras”. Ela avalia ainda que essa política pública “tem como forte opositor o racismo estrutural e institucional”.

“Isso faz com que os desafios da equidade sejam ainda mais difíceis de se alcançar. Mas, apesar desses tensionamentos, essas políticas vão se consolidando com a política de Estado e vão tendo uma aceitação”, pondera. Conforme a vice-reitora da UFSC, falar de ações afirmativas hoje é falar de oportunidades.

Ela ainda faz uma observação importante:

“a ampla maioria das ações afirmativas não é para negros, indígenas e quilombolas, é para educação pública, é para escola pública. Portanto, a cota que existe é socioeconômica, mas o racismo brasileiro, o racismo estrutural, institucional, faz com que as pessoas focalizem exclusivamente como sujeitos das ações afirmativas as pessoas negras, que é uma tentativa de construir a desinformação sobre como essas políticas se dão e acontecem”.

Para Joana, é fundamental a divulgação da importância das ações afirmativas para a diversidade e para que outras perspectivas de ciência, de produção do conhecimento, também façam parte da universidade.

Fonte: Imprensa Apufsc

Tags: Alesccotas raciaisUdescUFSC

UFSC solicita suplementação orçamentária e continuidade do PAC em reunião com MEC

12/12/2025 12:01

Em encontro realizado nesta quarta-feira, 10 de dezembro, na sede da Secretaria de Educação Superior (Sesu) do Ministério da Educação (MEC), o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Irineu Manoel de Souza, apresentou ao secretário de Educação Superior, Marcus Vinícius David, um conjunto de demandas consideradas estratégicas para a instituição. No centro da pauta estiveram a solicitação de suplementação orçamentária e a continuidade, em 2026, de obras vinculadas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Segundo a gestão da UFSC, a ampliação do orçamento é essencial para garantir a manutenção de atividades acadêmicas e o andamento de projetos estruturantes. Entre as prioridades elencadas para o PAC estão:

  • Construção do prédio do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM);
  • Construção do prédio do curso de Medicina no campus de Araranguá;
  • Reestruturação do Restaurante Universitário (RU);
  • Construção de um ginásio para o Colégio de Aplicação.

Durante a reunião, o reitor entregou ao secretário um documento formal detalhando as demandas. Irineu argumentou que as obras previstas respondem a necessidades de expansão acadêmica, melhoria da infraestrutura e qualificação de espaços de ensino, pesquisa e extensão, e reforçou que a continuidade dos investimentos é considerada decisiva para assegurar qualidade, acesso e permanência estudantil.

A Sesu recebeu os pleitos e a expectativa da universidade é de que as propostas sejam analisadas tecnicamente no âmbito do MEC, com vistas à viabilização orçamentária e à inclusão das obras no PAC a partir de 2026.

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Nota de repúdio: universidades e institutos se manifestam contra PL das cotas raciais em SC

12/12/2025 11:02

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e o Instituto Federal Catarinense (IFC) assinam nota conjunta de repúdio ao projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) nesta quarta-feira, 10 de dezembro, que trata, entre outros temas, da extinção das cotas raciais em universidades estaduais.

Leia abaixo a nota na íntegra


Um devasto 10 de dezembro em Santa Catarina

As universidades e institutos federais, bem como a Universidade do Estado de Santa Catarina, vêm a público manifestar, com profunda indignação, seu repúdio à aprovação, pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), do projeto de lei que, entre outras coisas, extingue as cotas raciais em universidades estaduais.

As universidades federais e institutos federais do Estado de Santa Catarina vêm a público manifestar, com profunda indignação, seu repúdio à aprovação, pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), do projeto de lei que, entre outras coisas, extingue as cotas raciais em universidades estaduais.

Trata-se de um ato inaceitável, irresponsável e profundamente regressivo, que despreza décadas de luta por justiça racial e ignora evidências acadêmicas, históricas e sociais incontestáveis. É especialmente revoltante que essa medida tenha sido aprovada justamente no Dia Internacional dos Direitos Humanos, dia 10 de dezembro, data dedicada à defesa da dignidade, da igualdade e da proteção das populações historicamente violadas. A escolha desse dia para retirar direitos é tão simbólica quanto devastadora.

As cotas raciais são mecanismos concretos que ajudam a dirimir desigualdades históricas, enfrentando o racismo estrutural e concedendo oportunidades reais de acesso ao ensino superior para pessoas que historicamente foram mantidas à margem das universidades. Longe de constituírem “mecanismos ideológicos”, as cotas representam políticas de reparação social, reconhecidas nacional e internacionalmente como medidas essenciais para corrigir assimetrias profundas e persistentes em nossa sociedade. Elas também refletem os valores de compromisso social, democracia, equidade e respeito à ciência e às relações humanas que as Universidades e Institutos, enquanto pilares do desenvolvimento do país, representam e defendem.

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