UFSC celebra 65 anos com arte e reconhecimento a trajetórias profissionais

Sessão Solene de 65 anos da UFSC foi realizada nesta segunda-feira, 15 de dezembro. Fotos: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC
Seis educadores e quatro técnicos-administrativos em Educação (TAEs) com destacadas trajetórias profissionais foram homenageados no aniversário de 65 anos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) [1960-2025]. A manhã desta segunda-feira, 15 de dezembro, foi de muita celebração, marcada por apresentações artísticas, sessão de fotos e reconhecimento institucional de dez histórias de vidas que se somam às mais altas dignidades universitárias: Professor Emérito, Técnico Emérito e Doutor Honoris Causa.
A data, a mais especial para a instituição, foi comemorada em tradicional sessão solene do Conselho Universitário (CUn), no Auditório Garapuvu do Centro de Cultura e Eventos Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, no campus Trindade, em Florianópolis. A solenidade foi transmitida ao vivo pelo canal do CUn no YouTube. O ponto alto da solenidade foi a concessão das dignidades universitárias, acompanhada do lançamento de vídeo em homenagem aos 65 anos, e por apresentações de sapateado e acrobacias.
O evento também foi cercado de formalidades e simbolismos: cerimonial, discursos, trajes protocolares e o uso da borla nas outorgas. Os conselheiros ingressaram no auditório conduzidos pelo reitor e presidente do CUn, Irineu Manoel de Souza, pela vice-reitora e vice-presidente, Joana Célia dos Passos, e pela secretária-geral dos Órgãos Deliberativos Centrais, Raquel Pinheiro, e ocuparam os assentos reservados nas três primeiras fileiras do centro.
Inicialmente, o reitor permaneceu na plateia, ao lado dos conselheiros, para assistir a dois vídeos: um comemorativo – que contou um pouco desta história de mais seis décadas que faz da UFSC, segundo o slogan “orgulho catarinense, patrimônio nacional” -; e outro de caráter institucional que evidenciou a estrutura física e de pessoas da quarta melhor universidade federal do país. Na sequência das exibições, o reitor foi convidado a compor a mesa de honra juntamente com a vice-reitora, a secretária-geral e o presidente do Conselho de Curadores, Edson Bazzo.
“Cumprimento os membros do Conselho Universitário e todas as pessoas aqui presentes e declaro aberta esta Sessão Solene do Conselho Universitário, em comemoração aos 65 anos da Universidade Federal de Santa Catarina e de outorga das dignidades universitárias aprovadas em 2025”, disse o reitor.
A sessão contou com a presença dos homenageados e seus familiares e amigos, membros do Gabinete da Reitoria, pró-reitores, secretários, diretores, chefes de departamento, coordenadores de curso, lideranças estudantis e sindicais, além de autoridades acadêmicas e da sociedade civil.
Reconhecimento Inédito
Pela primeira vez em sua história, a UFSC concedeu o título de Técnico-Administrativo Emérito — criado e aprovado pelo colegiado neste ano. A honraria pioneira foi entregue às irmãs Helena Olinda Dalri e Ângela Olinda Dalri, à Raquel Jorge Moysés e ao filho de José de Assis Filho (in memoriam).
Na outorga das medalhas e dos títulos, destacou-se a contribuição decisiva de cada homenageado à vida universitária. O reitor Irineu resumiu o espírito da cerimônia ao afirmar que cada reconhecimento distingue “os relevantes serviços prestados a esta instituição ao longo de uma trajetória profissional exemplar”.
A criação do título de Técnico Emérito marca um avanço na política de valorização da UFSC. Destinado a servidores aposentados, ele distingue percursos que se sobressaem pelo elevado mérito profissional e pelos serviços relevantes prestados à universidade – histórias de luta e dedicação que ajudaram a construir ontem a instituição de hoje.
Na sequência, uma exposição breve dos motivos pelos quais essas trajetórias foram escolhidas, com alguns trechos de suas falas na entrega da homenagem:
Helena Olinda Dalri
A UFSC reconhece em Helena uma trajetória exemplar que une três dimensões fundamentais do serviço público universitário. Seus 33 anos de dedicação ao Curso de Direito do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) estabeleceram um padrão de excelência no atendimento que transcendeu gerações, conquistando o reconhecimento espontâneo de estudantes em formaturas e eventos oficiais. Sua participação em dois mandatos no Conselho Universitário demonstrou capacidade de contribuir estrategicamente para os rumos institucionais, enquanto a Medalha Francisco Dias Velho pela Câmara Municipal atesta seu impacto além dos muros da universidade. A homenagem valoriza ainda sua liderança sindical histórica, desde o Movimento Alternativo Independente até a direção do Sindicato dos Trabalhadores da UFSC (Sintufsc), onde foi protagonista nas lutas pela carreira. Helena personifica a síntese entre competência técnica, compromisso institucional e defesa coletiva dos direitos dos trabalhadores da educação.
Agradeço ao Sintufsc por esta homenagem e por impulsionar políticas que rompem com a tradição de invisibilizar o TAE – como registra este primeiro título emérito concedido à nossa categoria; celebro a alegria de ter trabalhado aqui, enfrentando desafios de trabalho e sindicais ao longo de 33 anos, convivendo com estudantes – em especial do curso de Direito, que tanto contribuíram para minha formação e para a vida desta instituição; deixo meu carinho às amizades e à militância coletiva sem as quais eu não estaria aqui, e dedico esta homenagem a vocês; a UFSC que nos abraça hoje é fruto da luta que abraçamos por décadas pela universidade pública, gratuita e de qualidade, pelos direitos humanos, sociais, políticos e econômicos dos trabalhadores e pela solidariedade entre os povos.
Ângela Olinda Dalri
A universidade homenageia Ângela por uma carreira de 30 anos marcada pela versatilidade institucional e pelo profundo compromisso com a universidade pública. Sua passagem por unidades estratégicas – Gabinete da Reitoria, Centro de Ciências Biológicas (CCB), Centro Socioeconômico (CSE) e Centro de Comunicação e Expressão (CCE) – sempre conciliando trabalho e formação acadêmica, demonstra dedicação e capacidade de adaptação. O título de técnica-emérita reconhece especialmente seu papel fundador no Sintufsc, onde exerceu a coordenação-geral e tornou-se referência em articulação política e mobilização coletiva. Mesmo aposentada desde 2009, Ângela manteve viva sua vocação de acolhimento, estendendo solidariedade a estudantes e trabalhadores imigrantes. A UFSC celebra nela a ética, a solidariedade e o compromisso permanente com a construção coletiva de direitos, valores essenciais à universidade pública.
Estar aqui e reafirmar que ninguém caminha sozinho: se realizei o trabalho foi porque muitas pessoas estiveram lado a lado comigo; este é um momento de alegria e também de compromisso, pois há muitas e muitos que merecem ser homenageados; a universidade, como o nome diz, é o lugar onde conversam os saberes – espaço de construção e desconstrução, de aprender outras verdades que nos fazem refletir sobre a vida e sobre o outro; agradeço à minha base familiar, de onde trouxe o sentido de servir, respeitar e acolher, e reafirmo o dever e o prazer de ser servidora pública, atendendo bem porque é o povo que nos sustenta; muito obrigada por esta homenagem, que recebo representando todas e todos que constroem, diariamente, a universidade pública.
Raquel Jorge Moysés
Representada por sua irmã Tânia Mara Moysés, Raquel é homenageada por seus 33 anos de contribuições decisivas em três frentes fundamentais. Na comunicação institucional, foi artífice da consolidação da Agência de Comunicação (Agecom) e da criação do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA), liderando diretorias e coordenando o Jornal Universitário (JU), além de arquitetar a Política Pública de Comunicação da UFSC, reconhecida nacionalmente por suas diretrizes de transparência e participação. No campo acadêmico latino-americano, foi peça-chave no fortalecimento do pensamento crítico por meio do Observatório e das Jornadas Bolivarianas. Na dimensão sindical, exerceu a coordenação-geral do Sintufsc, protagonizando mobilizações históricas por carreira, contra o assédio moral e em defesa da universidade pública, além de promover iniciativas culturais como a mostra Eko Porã. A UFSC reconhece em Raquel a rara integração entre comunicação pública de qualidade, reflexão crítica e engajamento social transformador.
A partir de agora dou voz à minha irmã; sua trajetória como servidora pública, jornalista da UFSC e no curso só foi possível graças a tantas pessoas que fazem de nossas instituições organismos vivos; neste aniversário de 65 anos, celebramos a igualdade, mas também reconhecemos que desigualdades e repressão, por vezes, maculam nossas instituições; atravessamos tempos de rupturas e dores, guerras devastadoras, e a universidade deve ser o espaço onde tais iniquidades sejam denunciadas, discutidas e pensadas, para produzir um conhecimento justo que aponte caminhos a uma humanidade digna; nesta sessão solene, ela declara seu amor por todos os seres, muitas vezes invisíveis, que lutam por isso, e dedica a eles sua dignidade universitária, por serem eméritos na vida.
José de Assis Filho (in memoriam)
Representado por seu filho Adriano José de Assis, Assis é homenageado por ter transformado o atendimento estudantil em referência de cuidado e eficiência. Durante 23 anos no Departamento de Administração Escolar (DAE), até seu falecimento em 2008, ficou conhecido por sua memória excepcional e pela atenção personalizada a cada estudante. A UFSC reconhece que sua contribuição extrapolou o trabalho cotidiano: ocupou posições de liderança no Sintufsc, chegando à coordenação-geral, representou os técnicos no Conselho Universitário e integrou comissões estratégicas sobre Reforma Universitária e políticas de acesso e diversidade. Assis deixou um legado que combina profissionalismo técnico, ética do cuidado humano e firmeza nas lutas coletivas, tornando-se símbolo da valorização do servidor que transforma vidas através do serviço público.
Bom dia a todas e todos; cumprimento, na pessoa do meu pai toda a comunidade universitária, e agradeço ao Conselho Universitário por reconhecer, 17 anos após seu falecimento, o trabalho que ele dedicou a esta instituição que carregou no coração até o último suspiro; na sua última semana, ao receber uma breve alta, ele pediu para dar uma volta completa pela UFSC e, mesmo fraco, disse: ‘Está vendo? É a universidade mais linda do Brasil’; esse era o Assis — servidor público que honrou o serviço, defendeu a universidade pública, gratuita e de qualidade, e nos ensinou, com o exemplo, o valor de cuidar dessa casa que transforma vidas.
Educação como missão de vida
A sessão também celebrou trajetórias de quem fez da educação um projeto de vida. Receberam o título de Professor(a) Emérito(a) as docentes Esther Jean Langdon, Miriam Pillar Grossi, Luzinete Simões Minella e Rafael José de Menezes Bastos. As homenagens destacaram contribuições decisivas em Antropologia, estudos de gênero, etnologia e etnomusicologia indígenas, além da formação de novas gerações de pesquisadoras e pesquisadores. Na sequência, os títulos de Doutor(a) Honoris Causa foram concedidos à jurista e professora Dora Lúcia de Lima Bertúlio (in memoriam) e ao padre Vilson Groh, educador popular e articulador de redes comunitárias.
Para o reitor Irineu, as outorgas sintetizam a excelência acadêmica e reconhecem os “relevantes serviços prestados a esta instituição e às valiosas contribuições nas atividades de ensino, pesquisa e extensão ao longo de sua exemplar trajetória profissional.”
Como estabelece o CUn, as dignidades universitárias de Professor(a) Emérito(a) são conferidas a docentes aposentados pelos altos méritos profissionais e pelos relevantes serviços prestados à Instituição. Doutor(a) Honoris Causa, por sua vez, é destinado a personalidades eminentes — com ou sem diploma universitário — que se destacam nas artes, nas ciências, na filosofia, nas letras, na promoção da paz ou em causas humanitárias. A honraria reconhece reputações ilibadas, virtudes e ações cujo impacto ultrapassa interesses individuais e alcança a sociedade. Na sequência, um breve relato dos motivos pelos quais esses servidores foram reverenciados.
Rafael José de Menezes Bastos
A UFSC honra Rafael Bastos por consolidar a Etnologia e a Etnomusicologia Indígenas como campos de excelência nacional e internacional. Desde 1984 na instituição, construiu produção científica robusta com mais de cem publicações, projeção internacional como professor visitante em diversos países e reconhecimento como parecerista e conselheiro editorial. Suas contribuições institucionais foram estruturantes: fundou e coordenou o Núcleo de Estudos Arte, Cultura e Sociedade na América Latina e Caribe (MUSA) e o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS/UFSC), e integrou conselhos acadêmicos, formando gerações de pesquisadores e fortalecendo a Antropologia brasileira. Promovido a professor titular em 2014, representa a síntese entre rigor acadêmico, inovação no campo dos estudos indígenas e compromisso com a construção institucional.
Recebo este título com gratidão e humildade, lembrando que nada foi solitário: agradeço aos colegas que tiveram a coragem de me indicar e sustentar a proposta, aos estudantes — verdadeiros mestres no ofício de ensinar – e às parcerias que me trouxeram à UFSC; cheguei aqui após anos de trabalho junto a instituições públicas e a pesquisas de campo, especialmente com povos originários, em projetos que me formaram tanto quanto formei; devo muito a quem me abriu portas, convidou para investigar nossas fronteiras culturais e ambientais e acreditou em uma universidade que integra ensino, pesquisa e extensão; este reconhecimento pertence à comunidade que o tornou possível, e eu o celebro como compromisso renovado com o diálogo, a ciência e o respeito às culturas que nos ensinam a ver o Brasil em sua profundidade.
Esther Jean Langdon
Pioneira nos estudos de xamanismo, antropologia da saúde e povos indígenas, Esther é homenageada por uma carreira que transformou a UFSC em referência internacional nesses campos. Desde 1983 na Universidade, publicou mais de cem trabalhos, orientou mais de cem pesquisas e, como pesquisadora sênior mesmo após a aposentadoria, coordenou por mais de uma década o INCT Brasil Plural, impulsionando a internacionalização institucional. Seus estudos sobre os Siona e sobre saúde indígena tornaram-se referências nacionais. Laureada pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) e celebrada em coletânea da Editora da UFSC, Esther representa a união entre rigor científico, ética na pesquisa com povos tradicionais e impacto nas políticas públicas, especialmente na consolidação da saúde indígena no Brasil.
O tempo é pouco para tantos agradecimentos, mas registro minha gratidão à UFSC, às professoras e professores, às e aos estudantes que me acolheram e me convenceram a ficar; agradeço a quem me apoiou nos períodos de incerteza — da segurança provisória à proibição de contratações —, ao Departamento de Antropologia que garantiu minha permanência na cidade, aos núcleos que construímos coletivamente e a todas as pessoas que me deram a oportunidade de, ao longo de 42 anos, aprender sobre o Brasil, o pensamento do Sul Global e a importância de uma luta verdadeira pela democracia.
Miriam Pillar Grossi
A UFSC reconhece Miriam como referência global que projetou a instituição internacionalmente nos estudos de gênero e sexualidade. Desde 1989, fundou o Núcleo de Gênero, Identidades e Subjetividades (NIGS) (1991), orientou mais de 200 pesquisadores, desenvolveu metodologias qualitativas inovadoras e elevou o prestígio do Departamento de Antropologia e do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH). Coordenou o Instituto de Estudos de Gênero (IEG/UFSC), presidiu a Associação Brasileira de Antropologia (2004–2006) e atualmente é vice-presidente eleita da International Union of Anthropological and Ethnological Sciences (IUAES) (2023–2027) e coordena a Commission of Global Feminisms and Queer Politics. A homenagem valoriza sua liderança em articular ensino, pesquisa e políticas públicas, ampliando debates fundamentais sobre direitos, diversidade e democracia, e consolidando a UFSC como polo mundial dos estudos feministas e de gênero.
O reconhecimento que recebo hoje é também dos coletivos com quem construí alianças e que colocaram nossa universidade no patamar de excelência, desde a consolidação da antropologia, graduação e pós-graduação, à criação de núcleos, revistas, seminários e espaços culturais em gênero e diversidade; venho de uma geração que cresceu sob a ditadura e, com a volta da democracia, pôde transformar a universidade pública e a ciência brasileiras, ainda que enfrentando barreiras impostas às mulheres na ciência – tetos de vidro, silenciamentos, apropriações e assédio; reitero nossa demanda por uma formação obrigatória em gênero, sexualidade, identidades e enfrentamento às violências em todos os cursos, para que a UFSC siga formando profissionais capazes de reconhecer desigualdades e lutar por seu fim; renovo meu compromisso com uma democracia efetiva, que garanta educação de qualidade e direitos iguais a todas, todos e todes.
Luzinete Simões Minella
Intelectual pioneira dos estudos feministas no Brasil, Luzinete é homenageada por institucionalizar e consolidar esse campo na UFSC. Desde sua chegada após 1991, fortaleceu o Departamento de Sociologia e Ciência Política e o Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política (PPGSP), permanecendo ativa no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH) onde coordenou a área de Estudos de Gênero. Sua atuação no IEG e na Revista Estudos Feministas, a organização do evento Fazendo Gênero e a articulação de redes nacionais sobre ciência, tecnologia e gênero foram decisivas para a legitimação acadêmica do campo. Autora de obras de referência sobre saúde reprodutiva, infância e saúde mental, formou gerações de pesquisadores e estabeleceu a UFSC como instituição fundamental para os estudos feministas brasileiros, unindo rigor crítico e sensibilidade social.
É difícil encontrar as palavras nesta hora, depois de tantas falas que já disseram tanto sobre nossa trajetória e empenho; sinto-me profundamente honrada com este reconhecimento, que representa o ápice de uma carreira acadêmica e pública construída coletivamente; agradeço à pós-graduação interdisciplinar em Ciências Humanas, à Cátedra Antonieta de Barros, ao Departamento de Sociologia e Ciência Política, às colegas do núcleo de estudos de gênero e à equipe da revista, cujo trabalho extrapola a produção acadêmica; às pessoas presentes e ausentes que contribuíram para minha formação e para a formação da minha geração; à minha família, meus filhos, meu neto Francisco, que me ensina diariamente a leveza, a ironia e o humor, tão necessários num mundo de guerras e emoções exacerbadas; e aos meus pais, que talvez jamais tenham sonhado com este caminho que abracei.
Doutor Honoris Causa
Dora Lúcia de Lima Bertúlio (in memoriam)
Representada por seu irmão Max Salustiano de Lima, Dora é homenageada por transformar o pensamento jurídico brasileiro sobre relações raciais e por protagonizar a institucionalização das ações afirmativas no ensino superior. Sua dissertação “Direito e Relações Raciais: uma introdução crítica ao racismo”, referência republicada em 2019, abriu caminhos teóricos fundamentais. Como Procuradora Federal da Universidade Federal do Paraná (UFPR), atuou decisivamente na implementação de políticas afirmativas. Sua trajetória alcançou a Fundação Cultural Palmares, a Conferência de Durban e a Comissão de Juristas da Câmara dos Deputados, além da cofundação do Núcleo de Estudos Negros (NEN) em Florianópolis, e de coletivos de mulheres negras. Falecida em 2025, deixa legado vigoroso de articulação entre academia, políticas públicas e movimentos sociais na luta por justiça racial e cidadania plena.
Recebo esta honraria em nome de minha irmã, cuja trajetória acadêmica e política nos enche de orgulho; nascemos em Itajaí e crescemos sob o peso do racismo estrutural, mas também da resistência de nossa família, que enfrentou a repressão da ditadura e nunca abriu mão da educação e da justiça; minha irmã foi pioneira ao romper barreiras na escola, destacou-se no serviço público, defendeu comunidades quilombolas mesmo sob ameaças, qualificou-se com excelência, contribuiu para a implantação das cotas e estruturou marcos jurídicos que ampliaram direitos; agradeço à UFSC por reconhecerem essa história de coragem e compromisso com a democracia e a igualdade, e convido todos a celebrarem não apenas a conquista individual, mas o avanço coletivo que ela simboliza.
Padre Vilson Groh
A UFSC homenageia Padre Vilson por construir pontes concretas entre a universidade e as comunidades periféricas de Florianópolis. Desde o final dos anos 1970, sua imersão solidária nos morros da cidade, unindo fé, ecumenismo e ação por direitos, trabalho e dignidade, transformou realidades. Morador do Monte Serrat desde sua ordenação em 1981, articulou parcerias entre igreja, poder público e sociedade civil. Em 2011, fundou o Instituto Vilson Groh (IVG), rede que em 2022 atendeu mais de 22 mil pessoas e mantém convênios estratégicos com a UFSC, abrindo caminhos de formação técnica e superior para juventudes periféricas. Reconhecido nacionalmente, incluindo a Comenda da Ordem de Rio Branco (2025), representa o compromisso da universidade com a justiça social e a educação como instrumento de transformação e inclusão.
Não basta dizer que somos antirracistas, é preciso práticas diárias; dedico este título aos 40 mil jovens assassinados por ano no Brasil – como o jovem negro, pobre, morador da periferia, cujo funeral celebrei ontem -, às mães resistentes das comunidades, aos estudantes que ingressaram pelas cotas, às casas de candomblé e umbanda; pois tolerância é aprender a conviver com o diferente, e justiça social não é dádiva ou assistencialismo, mas garantir que o filho da periferia entre nesta universidade junto com o da classe média, com um Estado democrático cujo orçamento inclua a população negra, indígena, empobrecida; que a universidade abrace ainda mais essa realidade, transformando pesquisa em instrumento de formação.
Além dos homenageados e/ou seus representantes, também tiveram a palavra membros do Diretório Central dos Estudantes Luís Travassos (DCE), da Associação de Pós-Graduandos (APG), do Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina (Apufsc-Sindical) e do Sindicato de Trabalhadores da UFSC (Sintufsc). Este último, quebrou o protocolo e chamou os homenageados ao palco para a entrega de placas.
Assista à sessão de aniversário da UFSC na íntegra:
Acompanhe também o site especial dos 65 anos da UFSC.
Rosiani Bion de Almeida | Divisão de Imprensa do GR
imprensa.gr@contato.ufsc.br
Fotos: Gustavo Diehl | Agecom














































