Cannabis Medicinal: UFSC reforça necessidade da cadeia produtiva e de conhecimento em SC

26/08/2025 10:59

Audiência pública realizada no dia 25 de agosto, na Alesc, sobre a regulamentação e o uso da Cannabis Medicinal no estado. Imagem: TVAL

A audiência pública realizada na noite desta segunda-feira, 25 de agosto, no Auditório Antonieta de Barros, da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), fortaleceu o debate sobre a regulamentação e o uso da Cannabis Medicinal no estado, ampliando o diálogo com a sociedade sobre os benefícios e desafios relacionados ao seu uso terapêutico no tratamento de doenças crônicas e neurológicas.

O evento reuniu parlamentares, médicos, pesquisadores, advogados, pacientes, cuidadores e familiares para discutir políticas públicas que garantam maior acesso da população catarinense aos tratamentos à base de cannabis, enfrentando barreiras legais e econômicas que impõem dificuldades a diversas famílias. Atualmente, muitos pacientes dependem de processos judiciais ou da importação de medicamentos de alto custo, o que limita o direito constitucional à saúde.

Entre os pontos centrais do debate foi a ampliação do acesso à cannabis medicinal como recurso terapêutico para diferentes condições de saúde, a redução da judicialização e o fortalecimento da pesquisa científica sobre o tema. Além disso, foi discutida a criação de uma cadeia produtiva própria em Santa Catarina, com potencial para gerar emprego, renda e inovação. A audiência também abordou experiências já existentes no estado e no Brasil, incluindo aspectos relacionados à regulamentação, distribuição, prescrição médica e acompanhamento dos tratamentos.

A discussão da temática foi promovida pela Comissão de Saúde da Alesc e pelo Gabinete da deputada estadual Ana Paula da Silva (Paulinha), após a implementação da Lei Estadual 19.136 de 2024, que regulamenta o fornecimento de medicamentos à base de cannabis por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), abordando aspectos legais, médicos, sociais e sanitários. A audiência destacou a experiência e os desafios enfrentados por pacientes, famílias e associações, como a Santa Cannabis, na busca por acesso e qualidade do tratamento. Além disso, foram apresentadas evidências científicas e propostas de colaboração entre entidades governamentais, universidades e associações para otimizar a produção local, capacitar profissionais de saúde e expandir o alcance da terapia. O evento, ainda, reforçou a necessidade de superar barreiras burocráticas e ideológicas para garantir que mais catarinenses se beneficiem da cannabis medicinal.

Na mesa de abertura a participação de dois professores da UFSC: Rubens Nodari, do Centro de Ciências Agrárias (CCA), e Rui Prediger, do Centro de Ciências Biológicas (CCB). Ambos os pesquisadores reiteraram a importância da ciência e da pesquisa para o avanço do uso da cannabis medicinal, bem como a necessidade de quebrar preconceitos e criar uma cadeia produtiva e de conhecimento em Santa Catarina. Também acompanharam a audiência o pró-reitor de pesquisa e Inovação da Universidade, Jacques Mick, e a professora do CCA e diretora de Pós-Graduação da UFSC, Rosete Pescador.

O professor de Agronomia, Rubens Nodari, contextualizou que “a cannabis é uma das cinco plantas sagradas da China” e “foi utilizada como alimento pelas antigas civilizações, devido à similaridade de seus grãos com outros cereais”. Nodari ressaltou que a proibição da planta se estabeleceu por interesses econômicos devido aos seus inúmeros benefícios.

O professor Rubens trouxe a mensagem de colegas da UFSC e de outras faculdades de Agronomia do estado que pesquisam formas de produção em conjunto com as associações. Ele sugeriu que é possível avançar no desenvolvimento da cultura da cannabis através de “estudos de aclimatação, diminuição do custo de produção, propagação adequada e desenvolvimento de variedades que, eventualmente, tenham a combinação de compostos mais adequados para diferentes patologias”.

Nodari defendeu a ampliação da produção “junto à agricultura familiar, de forma agroecológica e sem o uso de químicos”, para preservar os compostos da planta. Ele argumentou que isso fortaleceria a cadeia produtiva e traria independência ao país no tratamento da saúde, promovendo um acesso mais justo e democrático.

O docente mencionou que, nos Estados Unidos, a área cultivada de cannabis dobra anualmente, com produtores de soja migrando para esse mercado. No entanto, esses produtos são exportados para o Brasil a “preço de ouro”. A participação da agricultura catarinense, segundo ele, visa criar uma cadeia produtiva local e evitar essa dependência.

O professor de Farmacologia, Rui Prediger, abordou que a UFSC “é protagonista nas pesquisas que envolvem substâncias canabinoides”, com estudos iniciados já na década de 1980 pelo professor Reinaldo Takahashi. Atualmente, o CCB “conta com mais de 800 pesquisadores e dezenas de laboratórios” dedicados a essas investigações.

Em colaboração com o professor Francisney Nascimento, a UFSC tem conduzido “os dois maiores estudos a nível mundial com doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer, realizados em solo brasileiro e catarinense”.

Um ponto crucial, segundo Prediger, é “a capacitação dos profissionais de saúde”, não apenas médicos, mas também enfermeiros, farmacêuticos e nutricionistas. Ele mencionou o curso de Endocanabinologia da UFSC, em parceria com o Instituto Dalla, que “já capacitou mais de 2 mil profissionais no Brasil e países vizinhos”.

O professor Rui explicou que a Endocanabinologia estuda as substâncias canabinoides produzidas pelo próprio organismo humano e de outros animais. “Com o envelhecimento ou em condições patológicas, pode haver um desequilíbrio na produção dessas substâncias”. O tratamento com cannabis, nesse contexto, é visto como uma reposição de substâncias naturais, similar à reposição hormonal ou de vitaminas.

Prediger concluiu reafirmando que a UFSC, juntamente com a comunidade catarinense e os parlamentares, “está à disposição para ampliar essa formação tanto para estudantes da área da saúde quanto para profissionais de todo o estado”.

“Hoje temos uma discussão mais ampla sobre o medicamento, mas precisamos, de fato, das plantas para produzir esses medicamentos ou os compostos”, afirmou a professora Rosete Pescador, em sua participação na audiência. Ela sugeriu que a Secretaria da Agricultura deveria participar mais ativamente desse debate, com o objetivo de promover uma colaboração mais próxima com a agricultura familiar. “O plantio da cannabis na agricultura familiar, além de garantir a produção dos compostos, também fortalece a própria agricultura familiar no sentido de ganho financeiro”, destacou.

Rosete também apontou os desafios enfrentados pelas universidades no desenvolvimento de pesquisas relacionadas à planta, principalmente pela falta de segurança jurídica. A pesquisadora ressaltou ainda as potencialidades do CCA para contribuir com o desenvolvimento da cadeia produtiva da cannabis. “Temos muitas expertises no CCA que poderiam contribuir para o melhoramento das plantas, o controle de doenças e a propagação, especialmente em sistemas indoor, que é onde atuo como pesquisadora”, explicou.

Por último, a docente destacou a importância de a Universidade estar inserida em todas as etapas do processo. “Acho que esse momento é muito importante para fortalecermos essa linha e avançarmos nos passos necessários para o desenvolvimento dessa cadeia produtiva”, concluiu.

Assista à audiência pública na íntegra:

 

Rosiani Bion de Almeida | SECOM
imprensa.gr@contato.ufsc.br

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Reitor da UFSC palestra sobre desafios na gestão pública na Universidade Estadual do Maringá

25/08/2025 13:29

Palestra sobre desafios na gestão pública ocorrerá na segunda-feira (25), às 19h30, campus sede da UEM

O reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Irineu Manoel de Souza, e o diretor de Ensino Superior da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (Seti), Michel Jorge Samaha, irão ministrar, na próxima segunda-feira (25), a palestra de abertura das comemorações dos 50 anos do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CSA) da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

A conferência “Desafios da Gestão Pública nas Universidades” ocorrerá às 19h30, no auditório do bloco B-33, campus sede da UEM. A organização é do CSA e os interessados podem se inscrever, gratuitamente, por meio do link. As vagas são limitadas e a palestra corresponderá a quatro horas de atividade acadêmica complementar.

Os objetivos do evento são promover uma reflexão sobre os desafios da gestão pública nas universidades, apresentando modelos e estratégias para melhorar a eficiência administrativa, governança e transparência nas instituições de ensino superior.

Os palestrantes 

Irineu Manoel de Souza, reitor da UFSC. Foto: Acervo UFSC

Souza ingressou na UFSC por concurso público em 1974 na carreira administrativa para exercer o cargo de datilógrafo, tendo dirigido o Departamento de Administração Escolar e o Departamento de Recursos Humanos universidade.

Em 2010 foi aprovado em novo concurso público na UFSC para o magistério público federal. É Administrador, mestre em Administração e doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento. Lotado no Departamento de Administração, dá aulas na graduação, mestrado e no doutorado em Administração.

Possui experiências e conhecimentos sobre a realidade da UFSC e dos desafios complexos das universidades brasileiras, dada a sua formação como administrador e pesquisador da área de administração pública e gestão universitária. Recebeu vários prêmios e homenagens, destacando-se o Diploma de reconhecimento de mérito pelo projeto vencedor do Concurso Nacional de Experiências Inovadoras, promovido pelo ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, em 1997 (gestão na Administração Pública), e o prêmio Hélio Beltrão, pelo projeto vencedor do Concurso Inovações na Gestão, organizado pela Escola Nacional de Administração Pública e o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em 2001.

Samaha é docente do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) onde ocupa o cargo de professor adjunto. Possui graduação em Direito e graduação em Engenharia Agronômica. É especialista em Direito Tributário, mestre em Economia Rural e doutor em Ciências Sociais Aplicadas, com estágio doutoral na Universitat Autónoma de Barcelona, Espanha. Desenvolve pesquisas em Economia Política, Economia Comparada e Sociologia Econômica.

O CSA  

Considerado o mais tradicional centro de ensino da UEM, o Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CSA) tem, entre seus cursos, alguns do mais antigos da história da universidade. Os cursos de Economia (criado em 1961, e de Direito, criado em 1966, antecedem a própria fundação da UEM.

Além deles, o CSA agrega também os cursos de Administração (criado em 1971) e de Ciências Contábeis (criado em 1973), e mais os de Administração Pública e Tecnologia em Gestão Pública, ambos na modalidade de Educação a Distância (EaD).

Todos as graduações apresentam desempenho expressivo no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Nas últimas avaliações, Direito obteve nota máxima cinco; Administração, quatro; e Ciências Contábeis (Maringá e Cianorte), quatro.

Na pós-graduação, o Centro congrega os programas de mestrado e doutorado em Ciências Econômicas, mestrado e doutorado em Administração, mestrado em Ciências Contábeis e o Programa de Pós-Graduação de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (Profnit).

Atualmente o CSA conta, ainda, com duas pós-graduações “lato sensu” (especializações): Ciências Penais e Direto Civil. São, também, desenvolvidos vários projetos, cursos e eventos de extensão, dos quais participam pessoas da comunidade interna e externa.

A gestão do centro de ensino é feita pelos professores João Marcelo Crubellate (diretor) e Antonio Marcos Flauzino dos Santos (diretor-adjunto).

Fonte: UEM

Tags: Centro de Ciências Sociais AplicadasIrineu Manoel de SouzaUFSCUniversidade Estadual do Maringá

Prevenção ao assédio moral na UFSC é tema de audiência pública no dia 3 de setembro

21/08/2025 18:00

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realizará, no dia 3 de setembro, às 9h, no Auditório da Reitoria, uma Audiência Pública para debater a Política de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio Moral. O evento será transmitido ao vivo pelo canal do YouTube da TV UFSC.

A minuta da Política esteve em consulta pública até o dia 5 de agosto, período em que foram registradas 133 contribuições da comunidade em geral. O documento foi elaborado pela Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas (Prodegesp) e pode ser acessado na íntegra neste link.

O documento estabelece diretrizes para o recebimento e tratamento de denúncias relacionadas ao assédio moral na UFSC. Após os encaminhamentos da audiência pública, o texto será submetido ao Conselho Universitário (CUn) para novo debate e aprovação.

Serviço

O quê: Audiência Pública – Política de Prevenção ao Assédio Moral
Quando: 3 de setembro, às 9h
Onde: Auditório da Reitoria da UFSC
Transmissão ao vivo: Canal do YouTube da TV UFSC
Mais informaçõesprodegesp.ufsc.br


Saiba mais:

Aspectos da política

A política de prevenção e enfrentamento ao assédio moral da UFSC abrange toda a comunidade universitária, incluindo estudantes, servidores (docentes e técnico-administrativos), trabalhadores terceirizados, estagiários, aprendizes ou prestadores de serviços. Ela se aplica a condutas praticadas tanto presencialmente quanto por meios virtuais, em qualquer espaço onde ocorram atos oficiais da instituição ou ações protagonizadas por seus membros.

O assédio moral é definido como um processo contínuo e reiterado de práticas abusivas que atentem contra a personalidade, dignidade e integridade psíquica ou física de uma pessoa ou grupo, independentemente da intenção ou hierarquia. As condutas abusivas podem ser diretas, como acusações, insultos, humilhações públicas e alterações deliberadas na carga de trabalho, ou indiretas, como propagação de boatos, isolamento social e recusa de comunicação. Exemplos específicos dessas práticas são listados na política, como deterioração das condições de trabalho ou estudo, desqualificação recorrente, humilhações, disseminação de boatos, desrespeito às limitações de indivíduos, imposição de regras personalizadas mais severas, discriminação por raça, gênero ou orientação sexual, e a criação de ambientes hostis.

A política é orientada por princípios como o respeito à dignidade da pessoa humana, a garantia de um ambiente institucional sadio, seguro e sustentável, o sigilo e tratamento humanizado às partes envolvidas, o respeito à diversidade e o enfrentamento à discriminação, além do resguardo da ética profissional. Busca-se promover um ambiente saudável, respeitoso e inclusivo por meio de uma abordagem integrativa que considere os contextos organizacional, sociocultural, institucional e individual. Essa abordagem incentiva a cultura do respeito mútuo e da resolução dialogada de conflitos. Os objetivos da política incluem o desenvolvimento de ações pedagógicas, campanhas e capacitações, a identificação de situações de risco, o acolhimento e acompanhamento de pessoas em sofrimento psíquico e o tratamento adequado das denúncias.

Para prevenir e enfrentar o assédio moral, a política prevê quatro frentes principais: divulgação, capacitação e acesso à informação; acolhimento e acompanhamento à saúde biopsicossocial; ações administrativas e práticas restaurativas para resolução de conflitos; e tratamento das denúncias. No campo da prevenção, destaca-se a realização de atividades contínuas de letramento e sensibilização sobre assédio, capacitações para mediação de conflitos e para gestores, e a criação de mecanismos que identifiquem riscos psicossociais e possíveis casos de assédio. No enfrentamento, incluem-se medidas como promoção da saúde da comunidade universitária, acolhimento dos manifestantes com orientação sobre ações administrativas e de saúde, acompanhamento das demandas relacionadas à saúde e o tratamento das denúncias. Em casos graves, pode ser proposta a movimentação interna de servidores envolvidos como medida emergencial para restabelecer um ambiente saudável, sem prejuízo de outras ações administrativas e legais.

As denúncias devem ser formalizadas por meio da Ouvidoria da UFSC, utilizando a plataforma Fala.br. Qualquer pessoa que se sinta alvo ou tenha conhecimento de situações de assédio pode registrar a denúncia, sendo dever das chefias comunicar tais situações à autoridade competente. A Ouvidoria encaminhará as denúncias que contenham elementos mínimos de autoria e materialidade ao setor responsável pela apuração e orientará sobre os serviços institucionais de acolhimento e acompanhamento à saúde. A apuração seguirá normativas específicas conforme o vínculo do denunciado: a Corregedoria-Geral da UFSC será responsável por casos envolvendo servidores, podendo encaminhá-los à Comissão de Ética; situações relacionadas a discentes seguirão regulamentações próprias; casos de trabalhadores terceirizados serão tratados com base na gestão do contrato; e a Comissão Intersetorial atuará em situações de outros vínculos. Se forem constatados ilícitos penais, cópias das denúncias poderão ser enviadas às autoridades competentes. O processo disciplinar garantirá o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa. Durante o trâmite, o acesso à documentação será restrito a terceiros, sendo liberado após a conclusão, com exceção de dados sigilosos. Manifestantes que apresentarem denúncias não anônimas serão informados sobre o resultado final.

 

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Audiência na UFSC debate política pioneira para estudantes indígenas e quilombolas

21/08/2025 09:38

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realizou, no dia 20 de agosto de 2025, audiência pública para debater a minuta da Política Institucional para o Ingresso e a Permanência de Estudantes Indígenas e Quilombolas. As contribuições ao documento serão recebidas até 31 de agosto na plataforma Participa + Brasil, onde a versão integral do texto está disponível. O evento ocorreu no Auditório da Reitoria, a partir das 14h, e foi transmitido ao vivo pelo canal do YouTube da TV UFSC.

A discussão abordou a importância da institucionalização das Ações Afirmativas, destacando a necessidade de apoio acadêmico, financeiro e social para os estudantes indígenas e quilombolas. Durante o encontro, foram apresentados os princípios, diretrizes e concepções da minuta, além das responsabilidades institucionais das pró-reitorias e secretarias, os critérios de ingresso e validação da autodeclaração, e as estratégias de apoio pedagógico e assistencial. A audiência enfatizou a colaboração e o protagonismo dos próprios estudantes da UFSC na construção da política, considerada uma iniciativa pioneira entre as universidades brasileiras.

O evento foi conduzido pelas pró-reitorias de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe) e de Permanência e Assuntos Estudantis (PRAE). O debate foi mediado pelas assistentes sociais Bárbara Nobrega (Proafe), Juliane Pasqualeto (Proafe) e Maria do Rosário de Lima Oliveira (PRAE), que também representaram o Grupo de Trabalho (GT) responsável pela elaboração da proposta.

Na abertura do evento, a pró-reitora Simone Sobral Sampaio (PRAE) nomeou os 21 povos indígenas e quilombolas presentes na UFSC, destacando o impacto transformador que a presença desses grupos tem na universidade pública, ao promover a chamada “justiça epistêmica”. Segundo ela, essa prática exige o reconhecimento de saberes igualmente potentes para compreender a vida, o mundo e construir relações sociais mais igualitárias. Simone ressaltou que, embora a política represente um avanço significativo, ela é apenas um passo em uma luta contínua e em constante evolução.

A diretora de Ações Afirmativas e Equidade Marilise Sayão (Proafe) fez questão de registrar, em sua fala, que os estudantes indígenas e quilombolas são protagonistas na história das Ações Afirmativas na UFSC. Para Marilise, são os estudantes que impulsionam reflexões diárias dentro da instituição. A simples aprovação de um programa não é suficiente, e reforçou que são as ações contínuas de enfrentamento e luta que garantem a permanência e o pertencimento. A diretora também destacou que a UFSC possui 17 anos de Ações Afirmativas, com reserva de vagas para indígenas e quilombolas desde o início, antes mesmo da implementação da legislação nacional. Ela afirmou que uma nova política representa um avanço crucial, ao ir além do acesso e buscar uma permanência com qualidade e pertencimento, rompendo com a lógica de uma “permanência universal” que historicamente favoreceu apenas grupos hegemônicos.

A minuta da política, lida e debatida durante a audiência, contempla princípios como o combate ao racismo institucional, a valorização da pluralidade étnica e cultural, o reconhecimento dos valores ancestrais e a proteção dos conhecimentos quilombolas. Além disso, garante o consentimento livre, aviso e informado das comunidades envolvidas. O documento detalha as responsabilidades institucionais para promover a permanência desses estudantes, incluindo ações como ampla divulgação de vagas, formas específicas de ingresso, validação rigorosa da autodeclaração étnico-racial e a oferta de suporte pedagógico e assistencial. Também estão previstos auxílios financeiros, como bolsas e autorizações no Restaurante Universitário, além da criação de moradias específicas, como o alojamento estudantil indígena. O texto ainda orienta que o ensino, a pesquisa e a extensão da Universidade considere as especificidades culturais e linguísticas dos povos indígenas e quilombolas, valorizando a oralidade como forma de transmissão de conhecimento. As iniciativas previstas abrangem desde a Educação Básica, no Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI) e no Colégio de Aplicação (CA), até os níveis de Graduação e Pós-Graduação.

Após a leitura da minuta, foi aberto espaço para manifestações orais dos participantes, que puderam apresentar sugestões e reflexões sobre cada título do documento e da política como um todo.

Atualmente, a UFSC conta com 187 estudantes indígenas e 55 estudantes quilombolas, conforme dados da PRAE. A construção da minuta foi resultado de um processo colaborativo iniciado em 2022, com a formação de um GT que realizou 59 reuniões e envolveu 75 participantes, entre os quais 40 estudantes indígenas e quilombolas e 31 servidores da Universidade, entre técnicos-administrativos e professores

Assista à audiência na íntegra:

 

Rosiani Bion de Almeida | SECOM
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UFSC sedia exposição ‘Salim Miguel: 100 Anos’ até 12 de setembro

19/08/2025 13:09

Exposição “Salim Miguel: 100 anos” está aberta ao público até 12 de setembro, no térreo do Centro de Cultura e Eventos da UFSC

Na noite desta segunda-feira, 18 de agosto de 2025, foi inaugurada a Exposição “Salim Miguel: 100 Anos”, uma homenagem à vida e obra de um dos maiores nomes da literatura brasileira e catarinense contemporânea. O evento apresenta documentos, fotografias, manuscritos e objetos pessoais do autor, permitindo ao público compreender a amplitude de sua contribuição cultural. A visitação, gratuita e aberta à comunidade, estará disponível até 12 de setembro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, no andar térreo do Centro de Cultura e Eventos Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

A cerimônia de abertura reuniu os filhos de Salim Miguel, Sônia e Paulo Sérgio, o reitor Irineu Manoel de Souza, o chefe de Gabinete Bernardo Meyer, a secretária de Cultura, Arte e Esporte (SecArte) Eliane Debus, e o coordenador do Departamento Artístico Cultural (DAC) Oto Henrique Bezerra da Silva Leonardo Pinto. O público presente pôde prestigiar a exposição que destaca o legado de Salim Miguel para a cultura brasileira e a relevância de sua obra.

A secretária de Cultura, Arte e Esporte da UFSC, Eliane Debus (E), e os filhos de Salim Miguel, Sônia e Paulo Sérgio. Foto: Divulgação

A secretária Eliane Debus abriu a exposição relembrando as ações já realizadas, iniciadas em janeiro de 2024, no aniversário de Salim Miguel. A primeira foi a instalação de uma placa comemorativa na Editora da UFSC (EdUFSC), em reconhecimento à contribuição do autor, que dedicou oito anos de trabalho à instituição, ajudando, inclusive, na coleta de recursos para a construção de sua sede. Desde então, diversas iniciativas foram planejadas, como o II Festival Literário, que homenageou Salim Miguel com uma programação abrangente, incluindo exposições fotográficas, mostras cinematográficas e a reedição de suas obras pela EdUFSC.

Eliane destacou que o festival e a publicação das obras já foram concluídas, mencionando que o romance “Primeiro de Abril: narrativas da cadeia” tornou-se leitura obrigatória no Vestibular da UFSC. A mostra fílmica está programada para começar em setembro deste ano, no Teatro Carmen Fossari. Entre os filmes destaques da mostra, estão os que Salim Miguel atuou como roteirista. A secretária também ressaltou o trabalho de Zeca Pires na recuperação do áudio do filme “O Preço da Ilusão”, do qual apenas oito minutos estão preservados. Eliane encerrou sua fala agradecendo à família de Salim Miguel pelo apoio e pela dedicação na organização das imagens e registros históricos do autor.

O reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza (E), participou da abertura da exposição. Foto: Divulgação

Em seguida, Paulo Sérgio expressou sua gratidão à UFSC pelas comemorações do centenário de seu pai. Ele evidenciou o desejo de que todas as obras de Salim Miguel sejam disponibilizadas em breve, e acessíveis como o livro “Primeiro de Abril: narrativas da cadeia”.

Encerrando os discursos, o reitor Irineu Manoel de Souza enalteceu o papel de Salim Miguel como escritor, artista e figura essencial para a cultura catarinense e brasileira. Ele classificou a homenagem como um “tributo necessário e justo”, confirmando o impacto do autor na promoção da leitura entre os jovens. Irineu também parabenizou toda a equipe envolvida no evento e reforçou o compromisso da Universidade em preservar a memória e o legado de grandes personalidades como Salim Miguel, cuja trajetória continua a inspirar gerações.

Salim Miguel

Nascido no Líbano em 1924, Salim Miguel chegou ao Brasil com apenas três anos de idade e viveu grande parte de sua vida em Santa Catarina, onde construiu uma das carreiras mais notáveis da literatura brasileira. Autor de mais de 30 livros, ele se destacou como romancista, contista, cronista, ensaísta, crítico literário, jornalista, editor e roteirista. Entre suas obras mais conhecidas estão “NUR na Escuridão”, “A Voz Submersa”, “Primeiro de Abril: narrativas da cadeia” e “Nós”, esta última publicada pela Editora da UFSC um ano após sua morte em 2016 e selecionada como leitura obrigatória para os vestibulares da UFSC e Udesc.

Figura central da cena cultural brasileira, Salim Miguel foi um dos líderes do Grupo Sul, movimento que marcou Florianópolis entre 1947 e 1958. Ao lado de sua esposa, Eglê Malheiros, escreveu o argumento e o roteiro do primeiro longa-metragem catarinense, “O Preço da Ilusão”. Como jornalista, destacou-se na revista Manchete e como crítico literário no Jornal do Brasil nas décadas de 1970 e 1980.

Durante o regime militar, Salim Miguel foi preso em 1964, experiência que desenvolveu o romance “Primeiro de Abril: narrativas da cadeia”, eleito o melhor romance do ano em 1994 pela União Brasileira de Escritores. Além disso, recebeu prêmios importantes ao longo de sua carreira, como o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, e o Prêmio Zaffari & Bourbon. Em 2002, foi homenageado com o título de Doutor Honoris Causa pela UFSC.

Salim também deixou uma marca significativa como gestor cultural. Como diretor da Editora da UFSC entre 1983 e 1991, tornou-se em referência nacional. Em 1993, assumiu a superintendência da Fundação Franklin Cascaes, onde contribuiu para a criação de uma política cultural para Florianópolis. Sua memória é preservada em espaços como a Sala de Leitura Salim Miguel, no Hospital Universitário da UFSC, e o Espaço Eglê Malheiros & Salim Miguel, no Centro de Florianópolis.

Mais informações: salimmiguel100anos.com.br

 

Rosiani Bion de Almeida | SECOM
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