A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) aprovou a criação da Cátedra Antonieta de Barros: educação para a igualdade racial e combate ao racismo, proposta por um grupo de professores(as) e pesquisadores(as) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) liderados pela vice-reitora Joana Célia dos Passos. O anúncio da aprovação ocorreu no último dia 15 de outubro, Dia do Professor, data comemorativa instituída por um projeto da própria Antonieta de Barros, primeira deputada negra de Santa Catarina.
A criação de uma cátedra de combate ao racismo e promoção da igualdade racial está prevista na Resolução Normativa nº 175/2022/CUn, que estabelece a política de enfrentamento ao racismo institucional na UFSC. Um dos objetivos da cátedra, elencados no projeto apresentado à Unesco, é justamente o de “analisar o impacto do racismo na universidade e contribuir na formulação e implementação de políticas curriculares multidisciplinares para inclusão da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena na formação de profissionais das diferentes áreas”.
Antonieta de Barros é uma referência na educação e na luta antirracista no Brasil (Foto: Divulgação)
De acordo com a definição apresentada no site da instituição, uma cátedra Unesco é uma equipe liderada por uma instituição de ensino superior ou pesquisa que faz parceria com a Unesco em um projeto para promover o conhecimento e a prática em uma área de prioridade comum. Na UFSC, essa equipe é integrada por professores(as) e pesquisadores(as) de nove programas de pós-graduação (Interdisciplinar em Ciências Humanas, História, Educação, Direito, Física, Saúde Coletiva, Relações Internacionais, Psicologia e Antropologia Social).
Atuação em rede
Uma das ideias centrais de uma cátedra da Unesco é o funcionamento em rede. A cátedra Antonieta de Barros é integrada por diversas universidades brasileiras, instituições estrangeiras, organizações civis e movimentos sociais. Além da UFSC, fazem parte da nova cátedra a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).
As instituições estrangeiras partipantes são a Universidade de Rovuna e a Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique, a Universidade Nacional Autônoma do México, a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e a Universidad Nacional de Tres de Febrero, da Argentina. Representam a sociedade civil a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e Negras (ABPN), a Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso), a Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Educação (Anped) e o Núcleo de Estudos Negros, vinculado ao movimento negro de Santa Catarina.
A cátedra Antonieta de Barros é coordenada pela professora Joana Célia dos Passos, vice-reitora da UFSC, e a professora Karine de Souza Silva, do Departamento de Relações Internacionais, é a vice-coordenadora. Os eixos de atuação da cátedra são Ações Afirmativas e Políticas de Igualdade Racial; Educação e Direito às Infâncias; Educação das Relações Étnico-Raciais; Educação e Saúde Antirracista e Desenvolvimento Econômico, Social e Relações Raciais.
De acordo com a professora Joana, o grupo da UFSC pretende atuar em cooperação com as outras instituições participantes para reforço das discussões sobre a temática racial. O nome da cátedra é um reconhecimento do papel de Antonieta de Barros. “Para nós ela é uma referência importante na educação e no enfrentamento das desigualdades raciais”, explica a vice-reitora.
Programa de gestão
A proposta de criação de uma cátedra antirracista liderada pela UFSC vem desde 2017, quando a Universidade acolheu o 3º Congresso de Pesquisadores Negros do Sul do Brasil, presidido pela professora Joana. Ao final do evento, o então reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo manifestou a necessidade de criação de uma cátedra dedicada a esta temática. Uma comissão foi formada à época, mas os trabalhos não evoluíram.
A ideia foi retomada no programa de gestão apresentado pelo professor Irineu e a professora Joana na campanha para escolha da nova Reitoria da UFSC, em 2022. O grupo de pesquisadores(as) interessados(as) se reagrupou e foi instalada uma nova comissão.
No encontro com o Papa Francisco, em setembro, Joana presenteou-o com a biografia de Antonieta de Barros, de Jeruse Romão (Foto: Vaticanmedia/arquivo pessoal)
O projeto foi elaborado durante o ano passado e submetido à Unesco em abril de 2023. No sumário do documento, os proponentes registram os numerosos casos de injúria racial ocorridos em Santa Catarina entre 2018 e 2021 e citam a existência de células neonazistas ativas no Estado, elementos que reforçam a necessidade de mecanismos de enfrentamento ao racismo. “Com o objetivo de combater o racismo em suas múltiplas dimensões e promover através da educação a igualdade racial na sociedade brasileira, é que propomos a criação da Cátedra. Para isso, a UFSC, juntamente com outras instituições e fóruns de representação em educação e pesquisa local, nacional e internacionalmente produzirá conhecimentos e fomentará políticas públicas, estabelecendo diálogo com a sociedade civil na formação de estudantes e outros agentes antirracistas”.
A cátedra Antonieta de Barros reúne especialistas em relações raciais da Universidade, em sua maioria pesquisadoras e pesquisadores negros, com meta de buscar paridade de gênero, além de estudiosos da temática indígena. O caráter multidisciplinar da equipe é apontado como um dos diferenciais desta cátedra.
O programa de cátedras da Unesco existe desde 1992 e atualmente são cerca de 950 cátedras Unesco no mundo, das quais 33 foram propostas por instituições brasileiras. Além da cátedra recém-aprovada, a UFSC já integra a Cátedra Unesco em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo (UCLPM).