UFSC e Cátedra Antonieta de Barros promovem debate sobre feminismo interseccional no México

12/09/2025 11:34

Aprofundando os debates sobre equidade e justiça social, o 4º Encontro do Seminário de Pesquisa das Relações Étnico-Raciais da Cátedra Antonieta de Barros, realizado em 3 de setembro de 2025, contou com uma apresentação de destaque. A palestra intitulada “Encruzilhada de Horizontes e Conhecimentos: caminhos para um movimento feminista mexicano interseccional” foi conduzida por Andreia Sousa da Silva, doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Vinculada ao Programa Abdias Nascimento (Capes/PROPG/UFSC – edital 01/2024), a pesquisadora realizou doutorado-sanduíche na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) entre setembro de 2024 e fevereiro de 2025, sob orientação dos professores Rodrigo de Sales e Angél Afonso Salas.

A Cátedra Antonieta de Barros integra a Cátedra UNESCO Educação para a Igualdade Racial, criada em 2022 em parceria com a UFSC. Coordenada pela professora e vice-reitora Joana Célia dos Passos, a iniciativa busca enfrentar o racismo estrutural no ambiente acadêmico e fortalecer ações afirmativas que promovam igualdade racial e de oportunidades.

No encontro, Andreia destacou que sua trajetória como pesquisadora está profundamente ligada à sua identidade. Mulher negra, mãe, bibliotecária e ativista, ela iniciou sua atuação acadêmica ainda na graduação, no Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), e afirma que sua pesquisa reflete tanto suas representações quanto seu compromisso político e social. Andreia adota uma perspectiva decolonial que conecta a prática acadêmica à luta contra desigualdades.

Sua investigação concentra-se no movimento feminista mexicano e no uso da interseccionalidade como chave para promover equidade. Para a pesquisadora, esse conceito é indispensável para compreender que opressões – como racismo, patriarcado e capitalismo – não atuam de forma isolada, mas de maneira sobreposta e interdependente. Embora o termo tenha sido cunhado por Kimberlé Crenshaw no fim dos anos 1980, Andreia lembra que pensadoras negras como Lélia Gonzalez e Audre Lorde já articulavam reflexões semelhantes desde os anos 1960.

Durante sua estadia no México, a doutoranda utilizou uma metodologia qualitativa, combinando revisões bibliográficas com entrevistas semiestruturadas com militantes e pesquisadoras do movimento feminista. Também explorou bibliotecas da UNAM, como a Biblioteca Nacional Mexicana e a Biblioteca Pública Vasconcelos, ambas com acervos dedicados a movimentos sociais, questões de gênero e povos originários. As entrevistas reuniram cinco mulheres – três negras e duas brancas – com atuações diversas como escritoras, musicistas, professoras e ativistas, incluindo representantes do feminismo afro-mexicano.

O estudo revelou o dinamismo do feminismo no país, impulsionado especialmente pela mobilização de jovens desde o levante de 2019 na UNAM, contra casos de assédio e violência de gênero. Sobre a interseccionalidade, Andreia observou que, embora algumas militantes afirmem que o movimento precisa ser interseccional para ser considerado feminista, ainda há desconhecimento sobre o alcance e as potencialidades dessa abordagem.

A pesquisa também avaliou políticas públicas de gênero implementadas nos últimos anos. Medidas como a paridade eleitoral, o sistema nacional de cuidados e programas voltados às mulheres – entre eles a Pensión Mujeres Bienestar e a Beca Universal Rita Cetina Gutiérrez – representam avanços, assim como iniciativas da Cidade do México, que incluem a distribuição de absorventes a estudantes e a flexibilização de faltas durante o período menstrual. Contudo, Andreia aponta limitações significativas: muitas ações não chegam às mulheres mais vulneráveis, especialmente as afro-mexicanas e indígenas das áreas rurais, que enfrentam riscos elevados de violência de gênero, restrições de acesso à justiça e persistentes barreiras institucionais. A falta de orçamento adequado é outro entrave recorrente.

Como proposição, a pesquisadora defende maior investimento em políticas afirmativas e inclusivas, capazes de considerar os múltiplos marcadores sociais que afetam de forma diferenciada a vida das mulheres. Para ela, a interseccionalidade deve ser mais que uma teoria: precisa ser aplicada como prática política concreta, orientando a formulação de políticas públicas que reconheçam diferenças e combatam invisibilizações históricas.

Na avaliação final de Andreia, apenas um compromisso político interseccional poderá impulsionar a construção de uma justiça social efetiva, traduzida em melhorias reais nas condições de vida das mulheres mexicanas. Isso exige, segundo ela, ir além do discurso e assegurar a transformação estrutural que inclua todas, independentemente de classe, etnia ou contexto social.

Assista a apresentação na íntegra:

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‘Virada de Século’, livro do filósofo Bolívar Echeverría, é lançado pela Editora da UFSC

11/09/2025 11:56

A Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC) lançou, em agosto deste ano, Virada de Século, primeira obra do filósofo marxista equatoriano Bolívar Echeverría – radicado no México – traduzida para o português. Reconhecido como um dos pensadores centrais para compreender os dilemas contemporâneos da América Latina e do mundo, Echeverría apresenta nesta coletânea uma reflexão sobre crises e possibilidades de transformação política e cultural em tempos de modernidade capitalista globalizada.

O diretor da EdUFSC, Nildo Ouriques, ressalta a importância desse lançamento:

Bolívar Echeverría é uma das vozes mais potentes do marxismo latino-americano. É uma honra disponibilizar a primeira tradução de sua obra ao público brasileiro, ampliando a circulação de suas ideias em nossa região.

Em Virada de Século, Echeverría convida o leitor a refletir sobre o legado do século XX e os caminhos para enfrentar os grandes impasses de um mundo governado pela racionalidade capitalista global. Retoma lições históricas, problematiza os limites do Estado e indaga de que forma ele se transforma, mostrando a atualidade desses temas para compreender os movimentos da modernidade.

Sua crítica atinge tanto a direita quanto a esquerda que, sob o peso do pragmatismo – “a lepra do nosso tempo”, como afirma –, não conseguem construir alternativas reais ao sistema dominante. A questão central que percorre a obra é direta e provocadora: o que significa ser de esquerda no século XXI?

Bolívar Echeverría. Foto: Divulgação

Mais do que um exercício teórico, o livro é um chamado à ação. “Arma-nos para combates inevitáveis, mesmo os que parecem perdidos”, ao reabrir questões fundamentais sobre política, cultura e emancipação.

Entre os temas abordados, destacam-se:

  • o fracasso da modernidade capitalista em romper com seus próprios limites;
  • as tensões ligadas à reciclagem do Estado nacional;
  • a fragilidade da democracia representativa diante do poder das mídias de massa;
  • a crise cultural provocada pela globalização.

O autor dedica ainda especial atenção à vitalidade do barroco, como resistência estética e política à mestiçagem como traço essencial da identidade latino-americana, e à herança marxista como horizonte de renovação da esquerda e do socialismo no continente.

Com vasta produção teórica – que inclui estudos sobre Marx, esquemas de reprodução social e análises críticas do barroco –, Bolívar Echeverría é hoje referência do pensamento crítico. Traduzir e publicar Virada de Século significa afirmar essa tradição e oferecê-la como ferramenta de reflexão e luta ao público lusófono.

Serviço:

Obra: Virada de Século
Autor: Bolívar Echeverría
Editora: EdUFSC
Ano: 2025
ISBN: 9786558051145

O livro está disponível para compra:

  • Online, pelo site livraria.ufsc.br
  • Presencialmente, na Livraria da EdUFSC, localizada no andar térreo do Centro de Cultura e Eventos da UFSC, Campus Universitário, bairro Trindade, em Florianópolis (SC)

Mais informações: editora.ufsc.br

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UFSC acelera produção de inovação e sobe em ranking nacional de patentes e softwares

10/09/2025 16:33

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) consolidou em 2024 sua presença entre as principais instituições brasileiras em inovação. Além de subir nos rankings do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) — alcançando a 20ª posição em depósitos de patentes de invenção e o 11º lugar em programas de computador —, a universidade apresentou novos números sobre o impacto do seu DNA empreendedor, que hoje reúne 66 mil empreendedores e 107 mil empresas vinculadas à comunidade acadêmica.

Os dados detalhados pelo Departamento de Inovação da UFSC (Sinova) revelam a diversidade desse ecossistema. Do total de empreendedores, 55% são homens e 45% mulheres, uma distribuição próxima da paridade de gênero. Em relação à faixa etária, o maior contingente está entre 26 e 35 anos (24 mil empreendedores), seguido pelo grupo entre 36 e 45 anos (12,5 mil) e 18 a 25 anos (10,4 mil).

O vínculo institucional também aparece como fator de relevância: são 26 mil alunos de pós-graduação e 18 mil de graduação que empreendem, além de 3 mil professores e 3 mil alunos do ensino fundamental ligados a programas de extensão e iniciação científica. Técnicos-Administrativos em Educação (TAEs) completam o quadro, com 7 mil empreendedores.

Onde estão esses empreendedores

O mapa de distribuição mostra forte concentração em Santa Catarina, mas com alcance em diferentes estados brasileiros e até no exterior, refletindo a presença de egressos da UFSC em diversas regiões.

A análise por centros de ensino evidencia a capilaridade do fenômeno: o Centro Tecnológico (CTC) lidera em números absolutos, com 17,5 mil empreendedores, mas logo atrás aparecem áreas tradicionalmente associadas a carreiras profissionais clássicas: o Centro de Ciências da Saúde (CCS), com 11,3 mil empreendedores, e o Centro de Comunicação e Expressão (CCE), com 6,2 mil. Outros centros, como os de Ciências Humanas, Agrárias e Biológicas, também figuram com relevância, indicando que a cultura empreendedora na UFSC é transversal às diferentes áreas do conhecimento.

Essa diversidade se confirma ao observar os setores econômicos em que se distribuem as 107 mil empresas DNA UFSC. O maior volume está em atenção médica ambulatorial (32,8 mil empresas), seguido por comércio varejista de vestuário e acessórios (25,5 mil) e restaurantes e serviços de alimentação (19,1 mil). Somente depois aparecem atividades mais diretamente ligadas à tecnologia, como desenvolvimento de software sob encomenda (17 mil empresas). O recorte por cursos amplia essa leitura. Medicina lidera entre as formações de empreendedores da UFSC, seguida por Engenharia Civil, Direito e Ciências Contábeis.

Quanto à situação dos empreendedores, os dados indicam que parte significativa está em atividade: 22 mil já formados e 17 mil em fase de conclusão de curso. Outros 15 mil aparecem como “eliminados” ou “inativos”, número que reflete a dinâmica natural de experimentação e descontinuidade comum ao ambiente empreendedor.

O nível de qualificação também chama atenção: são 16,7 mil doutores, 14,2 mil mestres e 1,9 mil com mestrado profissional, além de 1,6 mil em programas de pós-doutorado. Esses indicadores reforçam que a UFSC contribui também para a geração de empreendedores altamente qualificados, capazes de transformar ciência aplicada em soluções inovadoras de impacto econômico e social.

Jacques Mick, pró-reitor de Pesquisa e Inovação da UFSC, comentou que este é o mais completo levantamento de empresas-filhas já feito por uma universidade brasileira. “A história da UFSC, como se vê nos números, é uma história de criatividade e de inovação. Entender e conhecer melhor as empresas que são criadas por egressos ajuda o setor produtivo, a sociedade e o governo, a compreenderem o quanto essas organizações, essas universidades, são fundamentais para o progresso, o desenvolvimento econômico, e para a agenda de justiça social e igualdade social no Brasil”, conclui.

Conexão com Mercado e Sociedade

Além dos números de propriedade intelectual e da rede de empreendedores, a Sinova tem estruturado instrumentos de conexão entre ciência, mercado e sociedade. Entre as iniciativas estão o Portal do Conhecimento e a Revista Sinova, que divulgam pesquisas, casos de inovação e oportunidades de parceria; a Vitrine Tecnológica, voltada à exposição de tecnologias prontas para licenciamento e exploração comercial; o Laboratório de Inovação SINOVA, criado para acelerar projetos com potencial de impacto; e o Prêmio Empreendedor DNA-UFSC, que reconhece intraempreendedores e lideranças em diferentes frentes, como feminina, social e de habitats de inovação.

Para a diretora de Inovação da Sinova, Clarissa Stefani Teixeira, a construção de uma mentalidade empreendedora pode ser ponto essencial no futuro das profissões: “estamos trabalhando em conjunto com os cursos da UFSC para impulsionar atividades e, até mesmo, disciplinas, com foco no empreendedorismo. Esperamos que estes espaços se desenvolvam ainda mais nos próximos anos e possam efetivamente aproximar que já passou pela UFSC e permitir que, quem esteja nela, crie vínculos que sejam inseparáveis da trajetória profissional e pessoal”, detalha.

Com informações de: SC Inova

 

Leia mais: Relatório coloca UFSC entre maiores depositantes de propriedade intelectual do Brasil

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Câmara de Vereadores de Florianópolis homenageia curso de Administração da UFSC

10/09/2025 14:34

Homenagem reuniu representantes da UFSC e vereadores de Florianópolis. Foto: Divulgação/CMF

Nesta terça-feira, 9 de setembro de 2025, a Câmara Municipal de Florianópolis (CMF) realizou uma sessão solene em homenagem aos 60 anos de criação do Curso de Administração da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O evento também celebrou os 50 anos do reconhecimento oficial do curso e reuniu professores, estudantes e egressos para destacar sua influência na formação acadêmica, humanística e no impacto transformador que tem gerado ao longo de sua trajetória.

A sessão foi proposta pelo vereador Adriano Analdino Flor (Adrianinho), do partido Republicanos, que evidenciou a importância da homenagem. O parlamentar convidou para compor a mesa o professor Maurício Fernandes Pereira e o chefe de Gabinete da Reitoria, Bernardo Meyer. Também foram homenageados os professores Leandro Dorneles dos Santos, chefe do Departamento de Administração, Larissa Kvitko, coordenadora do curso de graduação, Pedro Antônio de Melo, presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos em Administração Universitária (Inpeau) e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Administração, Alexandre Marino Costa, Márcia Barros de Sales, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Administração Universitária (PPGAU), e Raphael Schlickmann, diretor do Departamento de Ensino (DEN) da Pró-Reitoria de Graduação e Educação Básica (Prograd);as estudantes Emilia Granzoti Rocha, presidente da Ação Júnior, Carolina Eli de Oliveira, presidente da Atlética Acadêmica, e Bianca Maria Zarowne, vice-presidente do Centro Acadêmico de Administração.

Na abertura, o vereador Adrianinho relembrou os desafios enfrentados na criação do curso em uma época em que o ensino superior no Brasil ainda era incipiente. O parlamentar afirmou que a trajetória do curso reflete o esforço de “mestres e empreendedores do ensino superior” que, ao longo das décadas, formaram gestores e cidadãos comprometidos com o desenvolvimento do país. O curso, segundo ele, sempre esteve alinhado ao progresso de Santa Catarina e do Brasil, formando líderes empresariais, gestores públicos e empreendedores que têm transformado o cenário econômico e social.

O professor Maurício Fernandes Pereira, em sua fala, enfatizou que o curso de Administração da UFSC só existe por causa dos estudantes. Ele expressou gratidão aos vereadores pela aprovação unânime da homenagem e destacou que a celebração é coletiva, sendo uma oportunidade para reconhecer o trabalho de todos que contribuíram para a consolidação do curso. O docente ressaltou que “são mais de 5.200 graduados que vêm transformando a sociedade, as empresas públicas e privadas e as organizações sociais. Hoje celebramos 60 anos, e tenho certeza de que essa história seguirá por muitas gerações”.

O professor também sublinhou a importância de formar líderes com empatia e ética, que coloquem as pessoas no centro das decisões e administrem com sensibilidade e propósito. Maurício agradeceu a todos os professores, técnicos-administrativos e estudantes que ajudaram a construir a história do curso. Citando Mário de Andrade, afirmou que a memória deve servir como base para o presente, ajudando a preparar os próximos 60 anos de conquistas.

Representando o reitor Irineu Manoel de Souza, o chefe de Gabinete Bernardo Meyer reiterou a relevância da homenagem à educação superior como um reconhecimento do impacto social e econômico gerado pelo curso. Ele mencionou que os egressos da Administração da UFSC ocupam posições de destaque em empresas privadas, públicas e no terceiro setor, tanto no Brasil quanto no exterior. Meyer enfatizou que o curso soube se adaptar aos desafios da modernidade, especialmente no contexto de cidades inteligentes e da economia globalizada, oferecendo uma formação compatível com as demandas contemporâneas.

Por último, Meyer também lançou um desafio à CMF: estimular uma maior presença de profissionais formados em Administração na gestão pública municipal. Segundo ele, a inclusão de gestores técnicos seria essencial para aprimorar a tomada de decisões com base em dados e análises, reduzindo a influência de decisões baseadas em achismos. Ele argumentou que não se tratava de uma crítica, mas um reconhecimento da necessidade de maior profissionalização na administração pública.

A celebração dos 60 anos do curso de Administração da UFSC reiterou sua posição de destaque entre os melhores do Brasil. Frequentemente classificado entre os 10 cursos de Administração mais bem avaliados do país, em um universo de mais de 2.500, o programa tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento de Florianópolis, de Santa Catarina e do Brasil.

 

Rosiani Bion de Almeida | SECOM
imprensa.gr@contato.ufsc.br

 

 

 

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Sandra Carrieri: ‘Não vejo o PGD como alternativa. Temos um programa construído por nós’

09/09/2025 09:18

Pró-reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas, Sandra Regina Carrieri de Souza. Foto: Agecom/UFSC

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desenvolve desde 2023 três projetos-piloto que vêm mobilizando a comunidade universitária: o Controle Social de Frequência (CSocial), o teletrabalho e a flexibilização da jornada. Nesta entrevista ao Sintufsc, realizada no dia 05 de setembro de 2025, a pró-reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas, Sandra Regina Carrieri de Souza, detalha o contexto de criação dos projetos, avalia os resultados já alcançados e comenta as expectativas para a votação da minuta que regulamenta as políticas no Conselho Universitário (CUn).

Pergunta: Qual foi o contexto que levou a Reitoria a implementar os projetos-piloto de teletrabalho, flexibilização da jornada e o Controle Social de Frequência (CSocial) em 2023? Essa demanda surgiu de uma reivindicação específica?

Sandra: Podemos começar falando sobre o Controle Social. Ele surge de uma demanda do Ministério Público de que a UFSC implantasse o ponto eletrônico, com catraca, câmera e biometria. Isso antes da nossa gestão [2022-2026]. Houve algumas tentativas das gestões anteriores de implantar o ponto eletrônico, até que a antiga gestão sugere ao MP implementar o Sistema de Registro de Frequência (Sisref), do governo federal. A categoria, eu inclusive, que fazia parte do movimento na época, analisou com calma e concluiu que o Sisref traria prejuízos: não funcionava bem e retirava totalmente a autonomia universitária.

Nossa gestão assume em 05/07/2022 e, em 16 de agosto, foi marcada a primeira audiência de conciliação com o Ministério Público. Fui acreditando que conciliação significava buscar um ponto comum, mas não foi isso. Quando ofereci outras possibilidades, fui prontamente rechaçada. Em contato com o professor Irineu, compartilhei minhas preocupações e angústias. Ele então propôs: “Olha, Sandra, acho que seria super interessante a gente resgatar aquele grupo que vem pensando há muitos anos numa outra forma de controlar a frequência dos TAEs”, que é o Controle Social. Esse grupo se reuniu e elaborou plano de implementação do Controle Social.

O CSocial exige um sistema, e tivemos todo o apoio da SeTIC. No entanto, situações novas surgem diariamente e demandam alterações, então ele nunca estará finalizado. Essa constante adaptação mostra justamente que o Controle Social cumpre seu papel de transparência, pois consegue detectar inconsistências. Precisa de ajustes? Precisa. Para a PRODEGESP, é uma trabalheira sem fim. Nossa equipe tem apenas três pessoas, mas entendemos que o sistema respeita a autonomia universitária, mantém comissões com TAEs nas comissões e preserva o papel decisório da chefia.

O teletrabalho é mais recente. Surge como resposta ao Programa de Gestão e Desempenho (PGD), criado pelo governo. Antes da nossa gestão, um grupo já havia se debruçado sobre as implicações da adesão ao PDG e chegou a conclusões muito parecidas: perda de autonomia universitária, exclusão de parte dos servidores e permissão para teletrabalho integral. Para a universidade, isso é muito complicado, porque se perde contato e troca. As pessoas querem morar fora, e numa emergência não há como chamá-las. Então pensamos em outra forma, elaborada por nós, e assim surgiu a proposta de teletrabalho.

A flexibilização é uma pauta histórica, com mais de 30 anos. Lutamos muito por ela. Tivemos uma greve histórica pelas 30 horas, por uma UFSC de portas abertas, com atendimento ininterrupto. Olhando para o que a universidade precisa e também para a necessidade de melhoria de vida do trabalhador. Essa sempre foi uma bandeira do professor Irineu, desde sua primeira campanha para Reitor. Participei da segunda em diante, mas acredito que desde a primeira ele já defendia que as 30 horas atendem interesses institucionais e dos trabalhadores.

Controle Social, flexibilização e teletrabalho foram construídos de forma democrática. Todas as categorias puderam participar. Eu e minha equipe percorremos 18 locais, entre centros de ensino e unidades administrativas, para tirar dúvidas. O problema é que, apesar do grande interesse e das muitas dúvidas das chefias, a participação presencial não foi maciça. Ainda assim, a política foi construída de forma democrática, com audiências e consultas públicas.

Pergunta: Como você avalia os resultados obtidos até agora com esses projetos?

Sandra: Segundo a pesquisa que fizemos, quase 100%, se não 100%, dos TAEs reconhecem melhoria da qualidade de vida. O trabalho tem sido exercido de forma tranquila e o público está sendo atendido.

Quanto aos estudantes, recebemos poucas respostas, mas a maioria respondeu positivamente. Já entre os docentes, ainda há restrição. Mas a gente percebe que muitas das questões colocadas são de gestão e acontecem com ou sem teletrabalho, com ou sem flexibilização, com ou sem mudança no controle de frequência.

O que vemos é que os professores não estão acostumados com o deslocamento decisório. Quando você tem comissões que vão partilhar a decisão, é algo muito novo, é uma mudança de conceito.

Pergunta: Qual é a sua posição em relação à minuta que regulamenta essas políticas? E quais são as suas perspectivas em relação à votação no CUn?

Sandra: Sobre a minuta, não posso ser contra, porque eu mesma estou construindo. Venho acompanhando a política passo a passo, ela vem sendo construída com muito respeito a todas as categorias. Não é uma política para TAEs, nem uma gestão para TAEs. É uma política que visa melhorar as relações de trabalho, a qualidade de vida do servidor e, principalmente, a ampliação e qualidade do serviço prestado.

Tenho muito orgulho de estar à frente disso. Fui alguém que, antes, estava do outro lado, batalhando muito pra isso acontecer. Hoje tenho a honra de ser a pessoa que está à frente desta política junto com a minha equipe e, lógico, junto com o professor Irineu.

Não tivemos nenhum pedido de desligamento, sinal de que está funcionando. Tem problemas? Tem, como todas as relações. Ainda mais porque é um programa que está em aprimoramento e é preciso aprender a lidar com ele. Agora, só de o trabalhador ter instância à qual recorrer, isso já é um ganho muito grande, um ganho para a universidade. Uma universidade que se pretende democrática tem que tratar a todos com isonomia, não com vigilância, mas exigindo responsabilidade.

As pessoas não vão poder ignorar isso na hora da votação. Eu não vejo motivo para que a gente não aprove. Não vejo o PGD como alternativa, mesmo porque eu participo, no mínimo, quatro vezes ao ano de fóruns de gestores com outras universidades, e o PGD apresenta muitos, muitos problemas. E nós temos hoje um programa construído por nós para essas políticas. Esses programas podem ser adaptados por nós, com agilidade e segundo as nossas necessidades. Isso é um ganho muito grande.

Essas políticas foram levadas por mim até o MGI. Eles estão cientes, e não há ilegalidade alguma. Todo o processo foi acompanhado pelo procurador-geral da UFSC. Ainda assim, há quem diga: “Mas você foi contratado para 40 horas e trabalha 30”. Vamos ampliar o olhar. Fomos contratados para que a universidade funcionasse 8 horas por dia. Hoje, sem contratar ninguém a mais, conseguimos atender 12 horas.

A contratação de servidores é um dos grandes nós que a universidade enfrenta, junto com a falta de recursos e os baixos salários. Então, o objetivo é dar ganho para os técnicos? Não, não é o objetivo, mas é uma consequência. Não dá para imaginar a fixação de TAEs aqui sem essas políticas.

Acho que temos muito a melhorar, mas só temos ganhos a oferecer. Espero que a minuta seja aprovada, preservando a concepção inicial, construída democraticamente.

Entrevista feita pelo Sintufsc

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