Cannabis Medicinal: UFSC reforça necessidade da cadeia produtiva e de conhecimento em SC

26/08/2025 10:59

Audiência pública realizada no dia 25 de agosto, na Alesc, sobre a regulamentação e o uso da Cannabis Medicinal no estado. Imagem: TVAL

A audiência pública realizada na noite desta segunda-feira, 25 de agosto, no Auditório Antonieta de Barros, da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), fortaleceu o debate sobre a regulamentação e o uso da Cannabis Medicinal no estado, ampliando o diálogo com a sociedade sobre os benefícios e desafios relacionados ao seu uso terapêutico no tratamento de doenças crônicas e neurológicas.

O evento reuniu parlamentares, médicos, pesquisadores, advogados, pacientes, cuidadores e familiares para discutir políticas públicas que garantam maior acesso da população catarinense aos tratamentos à base de cannabis, enfrentando barreiras legais e econômicas que impõem dificuldades a diversas famílias. Atualmente, muitos pacientes dependem de processos judiciais ou da importação de medicamentos de alto custo, o que limita o direito constitucional à saúde.

Entre os pontos centrais do debate foi a ampliação do acesso à cannabis medicinal como recurso terapêutico para diferentes condições de saúde, a redução da judicialização e o fortalecimento da pesquisa científica sobre o tema. Além disso, foi discutida a criação de uma cadeia produtiva própria em Santa Catarina, com potencial para gerar emprego, renda e inovação. A audiência também abordou experiências já existentes no estado e no Brasil, incluindo aspectos relacionados à regulamentação, distribuição, prescrição médica e acompanhamento dos tratamentos.

A discussão da temática foi promovida pela Comissão de Saúde da Alesc e pelo Gabinete da deputada estadual Ana Paula da Silva (Paulinha), após a implementação da Lei Estadual 19.136 de 2024, que regulamenta o fornecimento de medicamentos à base de cannabis por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), abordando aspectos legais, médicos, sociais e sanitários. A audiência destacou a experiência e os desafios enfrentados por pacientes, famílias e associações, como a Santa Cannabis, na busca por acesso e qualidade do tratamento. Além disso, foram apresentadas evidências científicas e propostas de colaboração entre entidades governamentais, universidades e associações para otimizar a produção local, capacitar profissionais de saúde e expandir o alcance da terapia. O evento, ainda, reforçou a necessidade de superar barreiras burocráticas e ideológicas para garantir que mais catarinenses se beneficiem da cannabis medicinal.

Na mesa de abertura a participação de dois professores da UFSC: Rubens Nodari, do Centro de Ciências Agrárias (CCA), e Rui Prediger, do Centro de Ciências Biológicas (CCB). Ambos os pesquisadores reiteraram a importância da ciência e da pesquisa para o avanço do uso da cannabis medicinal, bem como a necessidade de quebrar preconceitos e criar uma cadeia produtiva e de conhecimento em Santa Catarina. Também acompanharam a audiência o pró-reitor de pesquisa e Inovação da Universidade, Jacques Mick, e a professora do CCA e diretora de Pós-Graduação da UFSC, Rosete Pescador.

O professor de Agronomia, Rubens Nodari, contextualizou que “a cannabis é uma das cinco plantas sagradas da China” e “foi utilizada como alimento pelas antigas civilizações, devido à similaridade de seus grãos com outros cereais”. Nodari ressaltou que a proibição da planta se estabeleceu por interesses econômicos devido aos seus inúmeros benefícios.

O professor Rubens trouxe a mensagem de colegas da UFSC e de outras faculdades de Agronomia do estado que pesquisam formas de produção em conjunto com as associações. Ele sugeriu que é possível avançar no desenvolvimento da cultura da cannabis através de “estudos de aclimatação, diminuição do custo de produção, propagação adequada e desenvolvimento de variedades que, eventualmente, tenham a combinação de compostos mais adequados para diferentes patologias”.

Nodari defendeu a ampliação da produção “junto à agricultura familiar, de forma agroecológica e sem o uso de químicos”, para preservar os compostos da planta. Ele argumentou que isso fortaleceria a cadeia produtiva e traria independência ao país no tratamento da saúde, promovendo um acesso mais justo e democrático.

O docente mencionou que, nos Estados Unidos, a área cultivada de cannabis dobra anualmente, com produtores de soja migrando para esse mercado. No entanto, esses produtos são exportados para o Brasil a “preço de ouro”. A participação da agricultura catarinense, segundo ele, visa criar uma cadeia produtiva local e evitar essa dependência.

O professor de Farmacologia, Rui Prediger, abordou que a UFSC “é protagonista nas pesquisas que envolvem substâncias canabinoides”, com estudos iniciados já na década de 1980 pelo professor Reinaldo Takahashi. Atualmente, o CCB “conta com mais de 800 pesquisadores e dezenas de laboratórios” dedicados a essas investigações.

Em colaboração com o professor Francisney Nascimento, a UFSC tem conduzido “os dois maiores estudos a nível mundial com doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer, realizados em solo brasileiro e catarinense”.

Um ponto crucial, segundo Prediger, é “a capacitação dos profissionais de saúde”, não apenas médicos, mas também enfermeiros, farmacêuticos e nutricionistas. Ele mencionou o curso de Endocanabinologia da UFSC, em parceria com o Instituto Dalla, que “já capacitou mais de 2 mil profissionais no Brasil e países vizinhos”.

O professor Rui explicou que a Endocanabinologia estuda as substâncias canabinoides produzidas pelo próprio organismo humano e de outros animais. “Com o envelhecimento ou em condições patológicas, pode haver um desequilíbrio na produção dessas substâncias”. O tratamento com cannabis, nesse contexto, é visto como uma reposição de substâncias naturais, similar à reposição hormonal ou de vitaminas.

Prediger concluiu reafirmando que a UFSC, juntamente com a comunidade catarinense e os parlamentares, “está à disposição para ampliar essa formação tanto para estudantes da área da saúde quanto para profissionais de todo o estado”.

“Hoje temos uma discussão mais ampla sobre o medicamento, mas precisamos, de fato, das plantas para produzir esses medicamentos ou os compostos”, afirmou a professora Rosete Pescador, em sua participação na audiência. Ela sugeriu que a Secretaria da Agricultura deveria participar mais ativamente desse debate, com o objetivo de promover uma colaboração mais próxima com a agricultura familiar. “O plantio da cannabis na agricultura familiar, além de garantir a produção dos compostos, também fortalece a própria agricultura familiar no sentido de ganho financeiro”, destacou.

Rosete também apontou os desafios enfrentados pelas universidades no desenvolvimento de pesquisas relacionadas à planta, principalmente pela falta de segurança jurídica. A pesquisadora ressaltou ainda as potencialidades do CCA para contribuir com o desenvolvimento da cadeia produtiva da cannabis. “Temos muitas expertises no CCA que poderiam contribuir para o melhoramento das plantas, o controle de doenças e a propagação, especialmente em sistemas indoor, que é onde atuo como pesquisadora”, explicou.

Por último, a docente destacou a importância de a Universidade estar inserida em todas as etapas do processo. “Acho que esse momento é muito importante para fortalecermos essa linha e avançarmos nos passos necessários para o desenvolvimento dessa cadeia produtiva”, concluiu.

Assista à audiência pública na íntegra:

 

Rosiani Bion de Almeida | SECOM
imprensa.gr@contato.ufsc.br

Tags: AgronomiaAlescCannabis MedicianlCCACCBFarmacologiaFrancisney NascimentoInstituto DallaJacques MickPropesqRubens NodariRui PredigerSanta CannabisSUSUFSC

Ação de vacinação na UFSC ocorrerá entre 19 e 23 de maio, no hall da Reitoria

15/05/2025 16:56

O Departamento de Atenção à Saúde (DAS) da UFSC, em parceria com a Prefeitura Municipal de Florianópolis, convida toda a comunidade para uma ação de vacinação que ocorrerá entre os dias 19 e 23 de maio, das 9h às 17h, no hall da Reitoria I, no campus de Florianópolis, bairro Trindade. Essa é a sua oportunidade de ampliar a proteção contra doenças de alta transmissibilidade e atualizar sua caderneta de vacinação.

O que você encontrará na ação:

  • Vacinas contra a Gripe (Influenza) e Covid-19, com foco na prevenção dessas doenças.
  • Vacinas do calendário de rotina do Programa Nacional de Imunizações (PNI), entre elas:
    – Pneumo 10
    – DTPA (Tríplice bacteriana do tipo adulto)
    – Pentavalente
    – Meningocócica ACWY
    – Rotavírus
    – BCG
    – HPV
    – Hepatite A e B
    – Febre Amarela
    – VIP/VOP (Poliomielite)
    – Tríplice Viral (Sarampo, Caxumba e Rubéola)

Sobre a vacina contra a Gripe (Influenza):

A vacina oferecida pelo SUS é a trivalente, que protege contra três cepas do vírus: Influenza A (H1N1), Influenza A (H3N2) e Influenza B. Ela leva cerca de 15 dias para fazer efeito e pode prevenir entre 60% e 70% dos casos graves e óbitos.

Orientações importantes:

  • Caso apresente sintomas gripais, é recomendável entrar em contato previamente pelo Alô Saúde (0800-3333233) e utilizar máscara para evitar a disseminação de vírus.
  • Mais informações poderão ser esclarecidas diretamente com a equipe da Prefeitura Municipal de Florianópolis, que estará presente no local.

 

Tags: Calendário nacional de VacinaçãoDASPrefeitura MunicipalProdegespSUSUFSCVan da vacinação

UFSC firma parcerias com MPSC nas áreas de saúde pública e inteligência artificial

09/05/2023 12:32

Reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, assina convênio ao lado do Procurador-Geral de Justiça, Fábio de Souza Trajano. Foto: Carlos Rocha/MPSC

Contribuir para a efetividade do direito fundamental à saúde. Esse é o objetivo de um convênio firmado nesta segunda-feira, 8 de maio, entre a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). O acordo prevê a formação de uma câmara técnica de trabalho que construirá ferramentas de análise, avaliação, acompanhamento e fiscalização da política pública de saúde no Estado de Santa Catarina, especialmente na rede de Atenção Primária.

O grupo será formado por membros de ambas as instituições e coordenado conjuntamente pelo Departamento de Saúde Pública do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e o Centro de Apoio Operacional da Saúde Pública do MPSC. Os resultados constituídos servirão de apoio para as Promotorias de Justiça com atribuição na área da Saúde Pública, comunidade acadêmica e público em geral para a criação de diagnósticos, análises de dados e orientações técnico-jurídicas relacionadas ao acompanhamento da Atenção Primária em Saúde, maior porta de entrada para a rede de apoio do Sistema Único de Saúde (SUS).  

A Câmara Técnica também irá levantar evidências científicas, pesquisas e orientações técnico-jurídicas relacionadas à Saúde Mental e à organização da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Além disso, fornecerá dados e diagnósticos das políticas existentes nos Conselhos Municipais de Saúde e o cumprimento dos Planos Municipais de Saúde.

“A assinatura de mais um convênio do Ministério Público agora com a Universidade Federal, vai propiciar uma melhoria na qualidade da prestação desse serviço tão importante que é a saúde, com a implementação de políticas públicas, a busca de boas práticas e a detecção a necessidade de um uma correção de rota, colocar todos os atores em uma mesma mesa e buscar a melhor solução. Esse é o grande objetivo desse convênio”, destacou o Procurador-Geral de Justiça do MPSC, Fábio de Souza Trajano. 

Reunião entre representantes da UFSC e do MPSC aconteceu nesta segunda-feira, 8 de maio Foto: Carlos Rocha/MPSC

O reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, salientou que a parceria “é realmente um convênio muito importante para a sociedade, para o Ministério Público, para a valorização do Sistema Único de Saúde”.

O diretor do Centro de Ciências da Saúde (CCS), Fabrício de Souza Neves, diz que a parceria tem o objetivo de alinhamento dos recursos humanos das duas instituições para investir em pesquisa e inovação voltadas para as necessidades da sociedade. Ele afirmou ainda que a UFSC poderá até atuar na prestação de serviços, planejando, testando e validando modelos de atendimento para as necessidades do SUS.

O professor Rodrigo Moretti, chefe do Departamento de Saúde Pública, afirmou que a câmara técnica visa assessorar o MPSC tecnicamente, com base em conhecimentos científicos, e propor ações para que o direito à saúde seja cada vez mais próximo do que preconiza a legislação brasileira.

Estiveram presentes na solenidade de assinatura do Termo de Convênio o Subprocurador-Geral para Assuntos Institucionais do MPSC, Paulo Antonio Locatelli, o Coordenador do Centro de Apoio Operacional da Saúde Pública do MPSC, Promotor de Justiça Douglas Roberto Martins, e o Chefe do Departamento de Saúde Pública da UFSC, Rodrigo Otávio Moretti Pires, o Chefe de Gabinete da Reitoria, Bernardo Meyer, o Diretor do Centro de Ciências da Saúde, Fabrício de Souza Neves. 

 

Parceria também na área de Inteligência artificial

Convênio voltado para soluções focadas em inteligência artificial (IA) foi formalizado entre a UFSC, o MPSC e a Fundação de Estudos e Pesquisas Socioeconômicos (FEPESE) Foto: Carlos Rocha/MPSC

Na sequência da reunião, um segundo convênio voltado para soluções focadas em inteligência artificial (IA) foi formalizado entre a UFSC, o MPSC e a Fundação de Estudos e Pesquisas Socioeconômicos (FEPESE). O acordo mobilizou o interesse de 80 pesquisadores da UFSC com propostas que servem a várias das áreas de atuação do Ministério Público, como infância, saúde, qualidade da educação e combate à corrupção. 

Foram definidas três linhas de pesquisa: o uso de IA para a identificação de fraudes em contratos públicos; a extração de dados de atuação diretamente das peças produzidas pelos membros e servidores do MPSC, a fim de encontrar soluções para qualificar os dados do trabalho da instituição em defesa da sociedade e auxiliar o correto uso da taxonomia do Conselho Nacional do Ministério Público nos sistemas do MPSC; e a utilização a IA para projetar a necessidade de leitos hospitalares, inclusive de UTIs, em Santa Catarina, visando prever a demanda e antever a política pública.

Pesquisas serão feitas nas áreas de atuação do MPSC, como infância, saúde, qualidade da educação e combate à corrupção Foto: Carlos Rocha/MPSC

A coordenação e execução das atividades será feita pelo Departamento de Informática e Estatística da UFSC. “A Universidade Federal de Santa Catarina tem feito um movimento forte e constante no sentido de se reaproximar de vários setores da sociedade catarinense e desde o final do ano passado nós temos desenvolvido um diálogo com o MPSC no sentido de aproximar os nossos pesquisadores, nossas unidades de inovação, das necessidades do Ministério Público”, explicou o Professor Jonata Tyska Carvalho, Coordenador do Projeto. 

O Pró-reitor de Pesquisa e Inovação (Propesq), professor Jacques Mick, ressaltou que o projeto consiste na aplicação de técnicas de inteligência artificial à análise de grandes volumes de dados para auxiliar na tomada de decisão inteligente pelo MPSC. 

Participaram da formalização do convênio o Coordenador de Tecnologia e Informação do MPSC, Paulo Cesar Allebrandt; o vice-diretor do Centro Tecnológico (CTC), Sérgio Peters; o chefe do Departamento de Informática e Estatística, Rafael de Santiago; a professora e pesquisadora Simone Silmara Werner; o superintendente de Projetos da Pró-reitoria de Pesquisa e Inovação (Propesq), William Gerson Matias; o vice-diretor do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ), Samuel da Silva Mattos; o presidente da Fepese, Mauro Dos Santos Fiuza e o gerente de Projetos, Claiton Varella.

 

Robson Ribeiro/Estagiário da Secretaria de Comunicação/UFSC

Com informações da Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC

Tags: atenção primáriaInteligência ArtificialMPSCpolítica pública de saúdeSUSUFSCUniversidade Federal de Santa Catarina