Violência policial em Florianópolis: Relatório da UFSC aponta violações e caminhos para mudanças

24/09/2025 12:45

O Instituto Memória e Direitos Humanos (IMDH), vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), publicou o relatório final do projeto “Rodas de Conversa com Comunidades e Profissionais de Florianópolis: Representações da Violência Policial”. O documento foi elaborado com a participação de docentes, estudantes e bolsistas da UFSC, e apresenta uma análise detalhada sobre as dinâmicas da violência policial em comunidades periféricas da Grande Florianópolis, com base em 13 rodas de conversa realizadas entre 2021 e 2024.

O projeto contou com o apoio de diversos setores da UFSC, como a Pró-Reitoria de Extensão (Proex), o Núcleo de Estudos sobre Psicologia, Migrações e Culturas, e o Serviço de Assessoria Jurídica Universitária Popular.

A UFSC desempenhou um papel central na organização e mediação das discussões, criando um espaço de diálogo entre as comunidades afetadas e especialistas em direitos humanos. Por meio das disciplinas “Representações da Violência” e “História e Política”, estudantes e professores contribuíram ativamente para a coleta de dados, o registro de relatos e a estruturação das análises.

A parceria com a Udesc, somada ao apoio de entidades da sociedade civil e movimentos comunitários, ampliou o alcance do projeto, permitindo uma abordagem interdisciplinar e colaborativa para o estudo do tema.

O relatório denuncia um quadro grave de violações sistemáticas de direitos humanos. De acordo com os relatos, a violência policial é percebida como o principal fator de insegurança nas comunidades, manifestando-se por meio de agressões físicas, ameaças, invasões de domicílios sem mandado, vandalismo e danos a propriedades. Os depoimentos também destacam casos de violência psicológica e simbólica, como humilhações, estigmatização de moradores e intimidações que atingem até mesmo crianças. A polícia é descrita como um agente que instiga o medo, criminaliza moradores e reforça o estereótipo de que a pobreza está associada ao crime.

Entre as consequências apontadas, o relatório destaca os danos à saúde mental dos moradores, o impacto psicológico em crianças e adolescentes e a destruição de vínculos comunitários. Além disso, as operações policiais frequentemente interrompem atividades cotidianas, como o acesso ao trabalho e à escola, agravando ainda mais a marginalização social das comunidades. Os entrevistados relataram preocupação com a utilização de tecnologias como câmeras corporais, que frequentemente aparecem desligadas ou manipuladas, reforçando narrativas policiais e dificultando a apuração de abusos.

Uma das principais críticas levantadas no relatório é a ausência de um controle externo efetivo sobre a atividade policial. Apesar de ser uma atribuição constitucional do Ministério Público, as investigações de mortes causadas por policiais em Santa Catarina são conduzidas pela própria Polícia Militar, gerando desconfiança e denúncias de impunidade. O documento também evidencia como a presença policial ostensiva contrasta com a ausência de políticas públicas que garantam acesso a direitos básicos como saúde, educação, saneamento e moradia.

O relatório conclui que a violência policial em Santa Catarina não é um episódio isolado, mas parte de um sistema que perpetua desigualdades e violações. Para interromper esse ciclo, o documento recomenda o fortalecimento do controle externo das atividades policiais, a inclusão de debates sobre cidadania, racismo e direitos humanos na formação de agentes de segurança, e a construção de um diálogo mais efetivo entre o Estado e as comunidades. Além disso, reforça a necessidade de políticas públicas que promovam a justiça social e a inclusão, como forma de combater as raízes estruturais da violência.

Acesse aqui o relatório na íntegra.

 

Tags: CFHInstituto Memória e Direitos Humanos (IMDH)Polícia MilitarProexUdescUFSCViolência policial

Neti-Unapi promove aula inaugural de boas-vindas à comunidade na UFSC

05/09/2025 17:05

Atividade foi promovida no Centro de Eventos da UFSC em Florianópolis. Foto: Isadora Cristina/Agecom/UFSC

Cerca de 100 pessoas prestigiaram na última terça-feira, 2 de setembro, a aula inaugural da Universidade Aberta para as Pessoas Idosas (Neti-Unapi) vinculada à Pró-Reitoria de Extensão (Proex) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no Centro de Cultura e Eventos Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, no Campus de Florianópolis.

O objetivo do evento foi dar as boas-vindas à comunidade, apresentar as equipes administrativa, pedagógica, de saúde, de serviço social, além dos estagiários. O evento também apresentou um pouco das atividades realizadas no Neti-Unapi, conforme explicou a enfermeira e agente de comunicação, Bárbara Cristina Tavares.

Mesa de abertura

Na mesa de abertura, participaram a coordenadora do Neti-Unapi, professora Cláudia Priscila Chupel dos Santos; a pró-reitora de Extensão, Olga Regina Zigelli Garcia; o diretor executivo da Proex, Narbal Silva; e a presidenta do Centro de Estudantes do Neti-Unapi, Maria Elisabeth Goidanich. A condução do evento foi realizada pela coordenadora Cláudia e pela enfermeira Michele Medeiros. O tema do evento foi Conhecendo a Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa (Ebapi) e as experiências  de atividades voltadas às pessoas idosas na Grande Florianópolis.

Mesa de recepção foi composta por pessoal do Neti-Unapi e da Proex. Foto: Isadora Cristina/Agecom/UFSC

Palestras

O evento contou com palestras que abordaram políticas públicas, iniciativas comunitárias e práticas de promoção do envelhecimento ativo. O fisioterapeuta e doutor em Saúde Coletiva pela UFSC, Paulo Adão Medeiros, apresentou a Ebapi, dando destaque a sua implementação no município de Florianópolis e a sua articulação com as cidades e comunidades amigas das pessoas idosas.

Na ocasião, Paulo representou Sandra Maria Raimundo, assessora de Políticas Públicas da Pessoa Idosa de Florianópolis, e destacou também as ações do programa Floripa 60+, que reúne grupos de idosos da cidade e amplia espaços de participação e autonomia. Também esteve presente Arlei Souza Borges, assistente social e pedagoga do SESC-SC, que compartilhou a trajetória de mais de 20 anos de atuação no Programa para Pessoas Idosas.

O encerramento contou com a apresentação cultural do Grupo de Canto Vozes da Ilha, do Neti-Unapi, que há 16 anos utiliza a música como ferramenta de integração social e desenvolvimento de novas habilidades. 

Participaram do evento representantes da prefeitura de Florianópolis e dos SESC-SC. Foto: Isadora Cristina/Agecom/UFSC

O que é o Neti-Unapi

O Neti-Unapi começou suas atividades na UFSC, em Florianópolis, em 1982. Criado pelas professoras da Universidade Neusa Mendes Guedes e Lúcia Hisako Takase Gonçalves. 

Desde então, passaram a desenvolver ações de extensão voltadas às pessoas idosas, tornando-se o primeiro programa brasileiro com características de Universidade Aberta para as Pessoas Idosas (Neti-Unapi). De acordo com Bárbara, o projeto oferece várias atividades e oficinas que estimulam a mente, o corpo e a convivência social dos idosos. 

Os encontros acontecem a cada 15 dias e incluem programações que vão desde educação de adultos até trabalhos manuais, como artesanato. O objetivo é promover o bem-estar e incentivar novos aprendizados ao longo da vida, explica Bárbara. “Temos idosas que aprenderam a ler e a escrever, aqui conosco e publicaram até livros.” 

Quem pode participar

Podem participar das atividades pessoas com 50 anos ou mais. As inscrições acontecem semestralmente por meio de um edital divulgado no site do Neti-Unapi. O interessado pode se inscrever em até duas  atividades por semestre.

Com informações de Bárbara Cristina Tavares

Tags: Aula inauguralEbapiNet-UnapiProexUFSCUniversidade Aberta para as Pessoas Idosas

Lançado guia que orienta estudantes sobre a extensão na UFSC

04/09/2025 09:00

A Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) lançou o Guia do(a) Estudante, material indispensável destinado a orientar acadêmicos que desejam compreender e participar ativamente das ações de extensão universitária.

O guia foi cuidadosamente elaborado com o objetivo de proporcionar aos estudantes orientações completas sobre o envolvimento em projetos extensionistas. O material apresenta:

  • Conceitos fundamentais da extensão universitária
  • Diretrizes que norteiam as atividades
  • Diversas formas de participação disponíveis
  • A relevância da extensão tanto para a formação acadêmica quanto para o impacto social

Para garantir maior acessibilidade, o documento está disponível em dois formatos distintos: uma versão otimizada para computadores e outra adaptada para dispositivos móveis.

Com esta iniciativa, a PROEX reforça seu compromisso com a integração entre extensão, ensino e pesquisa, fomentando uma conexão mais efetiva entre a universidade e a sociedade. A extensão universitária cumpre um papel transformador ao contribuir para a construção da cidadania ativa, o fortalecimento democrático e o enfrentamento de desafios sociais.

“O Guia do(a) Estudante nasce com a missão de ser uma referência para toda a comunidade acadêmica, reunindo de forma clara e acessível as informações essenciais sobre a compreensão e a prática da extensão em nossa universidade. Com este guia, oferecemos aos estudantes uma ferramenta de apoio e orientação que não apenas esclarece conceitos e diretrizes, mas também inspira sua participação ativa em projetos que unem os saberes acadêmicos às demandas sociais”, esclareceu a pró-reitora de Extensão, Olga Regina Zigelli.

O reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, ressaltou que “a extensão, ao lado do ensino e da pesquisa, é um dos pilares fundamentais da nossa universidade. É por meio dela que conectamos o saber acadêmico às demandas da sociedade, promovendo mudanças reais e significativas. Este guia foi elaborado para orientar os estudantes a compreenderem o papel e a importância da extensão em sua formação acadêmica e no impacto social que ela pode gerar.”

Acesse o guia e escolha a versão que melhor atende às suas necessidades:

 

 

 

Mais informações: proex.ufsc.br

 

Rosiani Bion de Almeida | SECOM
imprensa.gr@contato.ufsc.br

Tags: ExtensãoGuia do(a) EstudanteProexUFSC

UFSC aprova resolução que atualiza sua Política de Ações Afirmativas

27/08/2025 08:54

O Conselho Universitário (CUn) realizou sessão ordinária no período da tarde desta terça-feira, 26 de agosto, para apreciação de parecer relativo à revisão da Resolução Normativa nº 052/CUn/2015, que trata da Política de Ações Afirmativas para acesso aos cursos de graduação. O processo foi requerido pela Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe), com relatoria da conselheira Olga Regina Zigelli Garcia. A sessão foi transmitida ao vivo pelo canal do CUn no YouTube.

Em seu parecer, a conselheira Olga reforçou a necessidade de revisão da política devido a importantes mudanças legislativas e institucionais, como a atualização da Lei de Cotas (Lei nº 14.723/2023), que ampliou as categorias de beneficiários e alterou critérios de renda, e também pela Resolução Normativa nº 181/CUn/2023, que instituiu cotas para pessoas transgênero na UFSC.

A nova Lei de Cotas “ampliou as oportunidades dos grupos minoritários de ingressarem na educação superior, tornando permanente a reserva de vagas nas universidades e instituições de ensino técnico de nível médio federais para negros, indígenas, pessoas com deficiência, estudantes de escolas públicas e, agora, também para quilombolas”. Além disso, a Lei nº 14.723/2023 estabeleceu prioridade para estudantes em situação de vulnerabilidade social no recebimento de auxílio estudantil e reduziu a renda per capita familiar máxima para ingresso via cotas de um e meio para um salário mínimo.

Para conduzir a revisão, um Grupo de Trabalho (GT) foi instituído pelo Gabinete da Reitoria em junho de 2024. Após prorrogações e uma audiência pública em 25 de julho de 2025, o relatório final do GT, incluindo a minuta da nova Resolução Normativa, foi encaminhado para apreciação pelo CUn.

Entre os pontos de recomendação apresentados, destaca-se a discrepância nas cotas para Pretos, Pardos e Indígenas (PPI). A relatora apontou a divergência nos percentuais de vagas destinadas ao PPI, uma vez que o Artigo 8º, inciso II, parágrafo 1º da minuta estipula a reserva de 32% das vagas, enquanto o parágrafo 7º do mesmo artigo menciona que o percentual deve atender à exigência legal mínima, correspondente ao percentual de pessoas PPI no Estado de Santa Catarina, que, segundo o Censo do IBGE de 2022, é de 23,54%. Diante disso, a relatora questionou se o percentual destinado às vagas do PPI seguirá o Censo do IBGE ou se foi definido intencionalmente em um patamar mais elevado.

Além disso, foi sugerida a inclusão da Pró-Reitoria de Extensão (Proex) no Programa de Divulgação e Apoio à Política de Ações Afirmativas (PAA), bem como a institucionalização do Programa de Bolsas de Extensão para Ações Afirmativas (Pró-AA). A Proex já publica, anualmente, o Edital Pró-AA, cujo objetivo é estimular estudantes direcionados às ações afirmativas do ensino médio do Colégio de Aplicação e/ou dos cursos de graduação a participarem de projetos de extensão, além de fomentar a criação de projetos voltados à divulgação da Política de Ações Afirmativas da UFSC.

No que se refere à redação do texto, a relatora recomendou substituir o termo “sexualidade” por “orientação sexual” no Artigo 28º, inciso IV. Também sugeriu a adoção de linguagem inclusiva no texto, sempre que adequada, uma vez que a redação atual utiliza predominantemente a flexão no gênero masculino.

Outras alterações incluem a recomendação de substituir a expressão “Sistema Público de Ensino Médio” por “Sistema Público de Ensino” no Artigo 3º, inciso I, de forma a garantir maior abrangência e adequação terminológica.

Nas considerações finais, Olga parabenizou o GT e todos os colaboradores, enfatizando que “o compromisso, a dedicação e o profundo senso de responsabilidade acadêmica e social que orientaram este trabalho reafirmam a missão da UFSC em promover a democratização do ensino superior público”. Também destacou que “Políticas inclusivas como esta têm papel fundamental na construção de uma universidade mais diversa, plural e representativa da sociedade brasileira”.

A relatora elogiou a atual gestão por abraçar a causa, demonstrando “sensibilidade e visão institucional voltada para a equidade”, contribuindo para que a UFSC cumpra sua função social e seu compromisso histórico com a justiça social, igualdade de oportunidades e valorização da diversidade.

Por fim, a conselheira manifestou parecer favorável à nova redação da minuta, “ressalvando a importância de que sejam observadas as recomendações apresentadas”. A proposta, segundo ela, “objetiva consolidar diretrizes institucionais de inclusão e equidade no ingresso de estudantes, em consonância com a legislação federal e os princípios constitucionais da isonomia e do direito à educação”.

Após discussões e esclarecimentos, o parecer foi posto em votação e foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Universitário.

 

Rosiani Bion de Almeida | SECOM
imprensa.gr@contato.ufsc.br

Tags: Conselho UniversitárioPolítica de Ações AfirmativasproafeProexUFSC

UFSC integra debate da Andifes sobre curricularização da extensão

24/07/2025 14:25

Imagem: Andifes

O reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Irineu Manoel de Souza, participou, na tarde desta quarta-feira, 23 de julho de 2025, de um seminário sobre a curricularização da extensão. O evento integrou a 206ª Reunião Extraordinária do Conselho Pleno da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e reuniu reitores, pró-reitores e gestores de universidades federais para debater a integração da extensão universitária aos currículos de graduação. Este tema tem ganhado destaque no Brasil desde a publicação da Resolução nº 7, de 2018, do Ministério da Educação (MEC), que tornou obrigatória a inserção da extensão nos projetos pedagógicos dos cursos (PPCs) de graduação.

O seminário contou com exposições de especialistas no tema: Francisco Ângelo Brinati, pró-reitor de extensão da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e coordenador do Colégio de Pró-Reitores de Extensão da Andifes; Joana Angélica Guimarães da Luz, reitora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB); e Raiane Patrícia Severino Assumpção, reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A moderação foi conduzida pela reitora Sandra Goulart Almeida, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O debate abordou conceitos fundamentais da extensão universitária, discutindo a necessidade de financiamento contínuo, desafios institucionais e operacionais, e a integração da extensão com ensino e pesquisa. Destacou-se que a extensão não deve ser tratada como uma disciplina isolada ou como assistencialismo, mas como um processo dialógico e transformador, que conecta a universidade à sociedade. A proposta é que a extensão seja uma atividade intrínseca ao ensino e à pesquisa, promovendo uma formação acadêmica mais abrangente e socialmente responsável.

Além disso, foram discutidos tópicos como a formação de docentes, avaliação de indicadores, e a inclusão da extensão em todas as áreas do conhecimento, inclusive tecnológicas. Os participantes enfatizaram a relevância da extensão como um dos pilares estratégicos das instituições de ensino superior.

O reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, destacou que a curricularização da extensão representa uma ampliação dos horizontes formativos dos estudantes e fortalece os vínculos entre universidades e comunidades. “Não é apenas uma diretriz do Plano Nacional de Educação (PNE), mas uma oportunidade concreta de promover uma formação acadêmica mais integrada e comprometida com a sociedade”, afirmou. Ele também lembrou que a Resolução nº 7 (2018) exige que as instituições garantam que pelo menos 10% da carga horária dos cursos de graduação seja destinada a atividades de extensão, articulando ensino, pesquisa e extensão de forma indissociável.

Na UFSC, o tema da curricularização da extensão vem sendo discutido desde 2016, com avanços significativos a partir de 2018, quando foi criada a Comissão Mista de Curricularização (CMC). Essa comissão tem como objetivo implementar as diretrizes da referida resolução em todos os cursos da universidade. A UFSC também disponibilizou materiais de apoio e suporte técnico para orientar a comunidade acadêmica no processo.

Reflexões e Desafios

A reitora Sandra Almeida (UFMG) defendeu o uso do termo “formação em extensão” em vez de “curricularização”, argumentando que o conceito vai além de um ajuste técnico. Apesar de elogiar a legislação, ela ressaltou os desafios práticos: “embora a legislação seja maravilhosa, na ponta da implementação, nós nos deparamos com muitos desafios. É necessário sensibilizar a comunidade acadêmica para a importância da extensão.”

Francisco Brinati (UFSJ) ressaltou que a extensão não deve ser tratada como “disciplina” no currículo, mas como um processo educativo, cultural, político e científico que articula ensino e pesquisa de forma indissociável. Ele afirmou que a curricularização simboliza uma mudança de paradigma na universidade, que precisa “olhar para o currículo pelas lentes da extensão”.

A reitora Joana Angélica Guimarães da Luz (UFSB) destacou a necessidade de superar o entendimento assistencialista da extensão, questionando: “O que entendemos por extensão? Essa é a grande pergunta que precisamos fazer.” Ela defendeu uma relação de troca entre universidade e comunidade, rejeitando a “colonização do saber” e enfatizando que a universidade deve compreender as demandas das comunidades que atende.

A reitora Raiane Patrícia Severino Assumpção (Unifesp) preferiu o termo “inserção da extensão na matriz curricular” e sublinhou que o currículo deve incluir experiências práticas que promovam um aprendizado significativo. Ela definiu a extensão como “um processo educativo, artístico, cultural, científico e político, que permite a troca de saberes entre a universidade e a sociedade, produzindo conhecimentos transformadores.”

A curricularização da extensão enfrenta desafios significativos, como apontado por um levantamento do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (Forproex). Apenas 2,4% das instituições declararam ter concluído plenamente a inclusão da extensão nos currículos. Os principais entraves incluem:

  • Lacunas conceituais e resistência cultural: Dois terços das instituições ainda tratam a extensão como uma atividade extra.
  • Escassez de recursos humanos e financeiros: Metade das instituições relatam falta de equipes e orçamento suficiente.
  • Dificuldades de integração nos sistemas de gestão: Problemas para registrar e atribuir créditos às atividades de extensão.
  • Burocracia e agendas acumuladas: O impacto da pandemia também atrasou o avanço desse tema.

Mesmo na UFSB, onde 100% dos PPCs foram adaptados, a reitora Joana admitiu que ainda há dificuldades na compreensão do que significa “fazer extensão”. Já a reitora Raiane destacou a importância de alinhar os entendimentos sobre extensão entre gestores e docentes.

O financiamento foi apontado como um dos pontos mais críticos. Francisco Brinati destacou que, com a obrigatoriedade da extensão para todos os estudantes (na UFSJ, anteriormente apenas 7% participavam), os modelos de financiamento atuais são insuficientes e instáveis. Ele propôs a retomada de um programa nacional de financiamento contínuo e a definição de percentuais mínimos de orçamento discricionário para extensão.

Além disso, os participantes sugeriram estratégias para avançar na curricularização, como capacitação de docentes, modernização dos sistemas de gestão, financiamento adequado, e maior diálogo entre universidades e comunidades.

O seminário foi celebrado como um marco na Andifes, pela ampla participação dos dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) e pela sintonia nas discussões. A relatoria do evento será encaminhada à Secretaria de Educação Superior (Sesu) do MEC, com propostas e encaminhamentos para fortalecer a curricularização da extensão como um pilar estratégico das universidades brasileiras.

Assista à reunião da Andifes na íntegra:

 

Rosiani Bion de Almeida / SECOM UFSC
imprensa.gr@contato.ufsc.br

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