Ministro Wellington Dias visita UFSC para debater agroecologia e combate à fome

03/12/2025 17:57

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, e o reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza. Fotos: Gustavo Diehl/Agecom

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, cumpriu agenda oficial na manhã desta quarta-feira, 3 de dezembro, em Florianópolis, com foco em agroecologia, segurança alimentar, sustentabilidade e fortalecimento das políticas públicas. A programação incluiu visitas a unidades e projetos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que integra o Grupo de Trabalho da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

A visita do ministro, que preside a Aliança, reforça a cooperação entre governo e universidade em ações estratégicas de desenvolvimento social. Wellington Dias estava acompanhado de sua equipe ministerial e foi recepcionado pelo reitor da UFSC Irineu Manoel de Souza, pelo chefe de Gabinete Bernardo Meyer, pela professora Cristiane Derani, pelo diretor do campus de Curitibanos Guilherme Jurkevicz Delben, pelo secretário de Comunicação Marcus Paulo Pêssoa, além de servidores docentes e técnicos, estudantes de graduação e pós-graduação, e representantes da comunidade.

A programação começou às 8h no Sítio Florbela, no Sertão do Peri, bairro Ribeirão da Ilha, onde professores e estudantes apresentaram experiências de produção agroecológica em sistemas agroflorestais, beneficiamento familiar de baixo custo para uso sustentável da biodiversidade nativa alimentícia e medicinal, circuitos curtos de comercialização, certificação participativa de produtos orgânicos, além de ações de educação ambiental e capacitação técnica avançada em manejo agroflorestal.

Durante o evento, Wellington destacou a importância da pesquisa na área de agroecologia, com foco na floresta produtiva, apontando-a como um passo significativo alinhado à Declaração de Belém na COP-30. Ele ressaltou que esse compromisso global pode salvar a humanidade diante das mudanças climáticas. Segundo o ministro, o trabalho desenvolvido no local é fundamental, mas ainda enfrenta desafios, e enfatizou que os pesquisadores estarão envolvidos para intensificar as ações nessa área.

A professora Cristiane Derani destacou a presença do ministro como um exemplo de como o saber acadêmico pode se unir ao saber tradicional. O ministro destacou que as universidades desempenham um papel fundamental para levar conhecimento às comunidades, ajudando na implementação de políticas públicas que visam a adaptação às realidades locais. O objetivo, segundo ele, é fortalecer essa relação, expandir os projetos de extensão para Santa Catarina e para o Brasil, e organizar rapidamente uma agenda de trabalho.

O reitor Irineu abordou os desafios enfrentados pelas universidades públicas, que são um patrimônio do país. Ele destacou que a missão das universidades vai além da formação de profissionais e da produção de conhecimento, sendo essencial manter a estrutura das instituições e atender às necessidades dos estudantes. Informou que atualmente 50% dos estudantes da UFSC vêm de escolas públicas e que a universidade oferece, de forma gratuita, alimentação e moradia para cerca de 4 mil estudantes. No entanto, alertou que a redução dos orçamentos das universidades federais tornou praticamente impossível manter o funcionamento adequado das instituições.

Irineu sugeriu um caminho possível: integrar as universidades ao programa de aquisição de alimentos, a fim de promover alimentação com soberania, autonomia e cidadania. “Essa iniciativa seria capaz de manter os estudantes nas universidades, reduzir a evasão e formar pessoas mais comprometidas com a sociedade”, afirmou o reitor.

Por volta das 10h, a comitiva seguiu para a Fazenda Experimental da Ressacada, no bairro Tapera, onde foram mostrados projetos integrados de pesquisa e extensão voltados à restauração da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e promoção da soberania alimentar por meio de sistemas agroflorestais em áreas degradadas.

Na Fazenda, a universidade apresentou um modelo de manejo de pastagens que não apenas eleva a produtividade e a biodiversidade, mas também se apresenta como uma resposta crucial para os desafios da mudança climática e da sucessão familiar no campo. O sistema em foco, chamado Pastoreio Racional Voisin (PRV), está implantado há 10 anos e foi desenhado pelos pequenos produtores, levando em conta a ecologia tanto das plantas quanto dos animais.

Especialistas destacaram que o PRV é operado sem o uso de produtos químicos ou agrotóxicos e, crucialmente, “sem mexer no solo”. A proteção do solo é vital, pois “quando se mexe no solo, o carbono vai embora”. No sistema PRV, o solo se mantém protegido e os teores de carbono orgânico são elevados. Pesquisas de mestrado indicaram que, neste manejo, o estoque de carbono no solo é “maior do que no plantio direto de lavoura convencional”.

O método promove uma enorme biodiversidade. Em uma pastagem gerida pelo PRV, é possível encontrar “mais de 50 espécies diferentes” em um metro quadrado. Um dos objetivos centrais é “reduzir a temperatura do planeta”. Santa Catarina, que é o estado brasileiro com a maior porcentagem de agricultura familiar, pode se beneficiar diretamente desta abordagem. O modelo também visa sanar um dos maiores dilemas do campo: o abandono por parte dos jovens.

O diretor Guilherme Delben destacou que “se compararmos Curitibanos de 16 anos atrás com a cidade de hoje, veremos um desenvolvimento notável, impulsionado pela chegada de diversas indústrias”. Citou o exemplo da Berneck, empresa “responsável por 56% do PIB local, que se instalou na região em função da presença da UFSC e da oferta do curso de Engenharia Florestal. A UFSC mudou a história da cidade e hoje tem impacto em toda a região”, afirmou Guilherme. Também de Curitibanos, o professor Alexandre Siminski apresentou o projeto “Reforma”, que busca aumentar a eficiência da restauração da vegetação nativa, considerando os fatores ambientais, sociais e econômicos.

A programação incluiu ainda a apresentação do projeto de produção de algas para alimentação e enfrentamento da crise climática nas regiões costeiras, conduzido pelo professor Paulo Horta e pela presidente da Associação de Maricultores do Sul da Ilha, Tatiana da Gama Cunha. Na ocasião, foi entregue ao ministro o livro “Além da COP-30”, do deputado federal Pedro Uczai.

Ao final da visita, o ministro Wellington Dias falou sobre a desigualdade no Brasil e destacou a significativa queda nos índices de pobreza e extrema pobreza no país. Dias também celebrou os resultados na luta contra a fome, afirmando que o país tirou 30 milhões de pessoas dessa condição até o ano passado, com a expectativa de chegar a 33 milhões neste ano.

Durante o encontro, Dias incentivou a colaboração entre as esferas do governo e as universidades, especialmente no que tange a projetos de piscicultura e agricultura familiar desenvolvidos no estado catarinense. Ele solicitou um estudo em parceria com o Banco Mundial para entender quantos beneficiários de programas sociais estão migrando para a classe média. O ministro sugeriu que se cruzem dados da UFSC e do campus de Curitibanos para identificar quais alunos estão atualmente no Bolsa Família e no Cadastro Único. “A ideia é, além de cuidar desses estudantes, cuidar de suas famílias para tirá-las da pobreza”, explicou.

O ministro enfatizou que, ao invés de tentar criar programas novos e regionais para o Brasil, as propostas locais devem ser adaptadas a programas federais já existentes. Solicitou que as propostas de Santa Catarina sejam encaminhadas diretamente a ele e aos ministros da Pesca e Aquicultura, André de Paula, e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, além da área de ensino superior do Ministério da Educação (MEC).

O futuro, segundo Wellington Dias, envolve um passo mais complexo: tirar não apenas famílias, mas também municípios e regiões inteiras da pobreza. Ele citou a experiência piloto no Arquipélago de Marajó, classificada como a região mais pobre do Brasil, e outros casos como Cavalcante, em Goiás, e Serrano do Maranhão. Ao final, o ministro agradeceu novamente a Universidade e expressou seu sentimento: “Quando percorro o Brasil e encontro pessoas como as que conheci aqui, que buscam soluções para os problemas sociais, minha esperança se renova”.

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Fotos: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC

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Municípios da Amurc e UFSC firmam parceria para elaborar plano de desenvolvimento regional

26/04/2023 14:50

Prefeitos e integrantes da Amurc prestigiaram entrega da Ordem de Serviço para início das obras do CPAAV (Fotos: Luís Carlos Ferrari)

Prefeitos de cidades que integram a Associação dos Municípios da Região do Contestado (Amurc) assinaram nesta terça-feira, 25 de abril, uma carta aberta em que manifestam disposição de colaborar com pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) na elaboração de um plano de desenvolvimento regional “que promova crescimento sustentável, com geração de emprego, ampliação da renda e promoção da igualdade”. A carta foi assinada durante reunião com autoridades políticas locais realizada na sede do campus Curitibanos da UFSC.

As prefeituras também se comprometeram a participar de iniciativas visando obter recursos para viabilizar a conclusão do Centro de Pesquisas Ambientais e Agroveterinárias (CPAAV), cuja ordem de serviço para construção foi assinada pelo reitor Irineu Manoel de Souza. O CPAAV deverá ser um dos pilares da infraestrutura científica da UFSC para apoio ao plano de desenvolvimento, que buscará identificar “as vocações de tecnologia e inovação associadas aos arranjos produtivos locais”.

Participaram da reunião o prefeito de Curitibanos e presidente da Amurc, Kleberson Luciano Lima, acompanhado dos secretários municipais de Educação, Ismael Antonello, de Indústria e Comércio, Luiz Fernando Popinhak, e do chefe de Gabinete, Luiz Carlos Righes Jr; o prefeito de Ponte Alta do Norte, Ari Alves Wolinger, acompanhado do secretário de Administração, Antônio Carlos Brocardo e da assessora de imprensa, Isabelle Aguiar; a procuradora do município de São Cristóvão do Sul, Rafaela Bassoli, representando a prefeita Ilse Amelia Leobet e acompanhada da secretária de Educação, Joelma de Fátima Silva, e o secretário-executivo da Amurc, Roberto Molin de Almeida.

Ordem de serviço

O pró-reitor de Pesquisa e Inovação da UFSC, Jacques Mick, disse que o encontro com as autoridades da região era uma ação representativa do compromisso da atual gestão da UFSC de se reaproximar da sociedade. Ele fez uma apresentação detalhando os objetivos e as estruturas do Centro de Pesquisas Ambientais e Agroveterinárias, destacando que a infraestrutura do centro poderá contribuir para a expansão da pesquisa acadêmica e apoiar as atividades econômicas da região.

O reitor Irineu Manoel de Souza citou que a presença de integrantes da Reitoria e de conselheiros universitários em Curitibanos era um gesto que demonstrava a preocupação com uma efetiva gestão multicampi da Universidade. Na oportunidade, o reitor fez o repasse simbólico ao diretor do campus, professor Juliano Wendt, da ordem de serviço para início das obras de construção do CPAAV.

Professora Glória Botelho vai coordenar trabalhos de grupo do projeto de desenvolvimento regional

O professor Jacques Mick anunciou a publicação de uma chamada pública conjunta da Propesq e da Pró-reitoria de Extensão (Proex) convidando servidores docentes e técnico-administrativos a manifestarem interesse em participar do grupo que irá elaborar o plano de desenvolvimento regional em colaboração com a Amurc. O projeto será liderado pela professora Glória Botelho, da Coordenadoria Especial de Ciências Biológicas e Agronômicas, com apoio do professor Paulo Pinheiro Machado, do Departamento de História.

O presidente da Amurc, Kleberson Lima, relatou a visita que fez à Reitoria no início de fevereiro e disse que os prefeitos estavam felizes por fazer parte deste momento histórico. Ele afirmou que o desenvolvimento de Curitibanos se divide em períodos de antes e depois da chegada da UFSC.

De acordo com o prefeito, é necessário e possível promover o desenvolvimento através da pesquisa e ações articuladas. Os cinco municípios que compõem a Amurc (Curitibanos, Frei Rogério, Ponte Alta do Norte, Santa Cecília e São Cristóvão do Sul) têm um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) inferior à média dos municípios do estado.

Kleberson Lima também se mostrou disposto a apoiar a Universidade em outra demanda muito importante para a região: a implantação do curso de Medicina na UFSC de Curitibanos. Ele propôs organizar uma comitiva com políticos da região para ir a Brasília e sensibilizar o governo federal da importância do curso. “A comunidade abraçou a UFSC, que é um patrimônio da região”, disse o prefeito.

O reitor Irineu Manoel de Souza falou das iniciativas que estão sendo tomadas pela Universidade para o campus de Curitibanos, como a Clínica de Grandes Animais (Hospital Veterinário), que está em fase de projeto pelo Departamento de Projetos de Arquitetura e Engenharia (DPAE). O curso de Medicina em Curitibanos “vai acontecer”, declarou o reitor, ressaltando que o prédio CBS 02, que abrigará atividades acadêmicas do curso, deve ser concluído até o fim do ano. De acordo com o professor Irineu, uma das dificuldades atuais é a contratação de professores, em razão dos baixos salários.

Por fim, o reitor da UFSC citou a necessidade de envolvimento dos atores políticos locais para apoiar a universidade nas suas demandas e estruturas. “O sentido da existência da Universidade é para apoiar a sociedade”, concluiu Irineu.

 

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