UFSC celebra 65 anos em 9 de dezembro, com homenagens a seis educadores

13/11/2025 14:39

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) celebrará seus 65 anos com uma sessão solene no dia 9 de dezembro de 2025, às 14h30, no Auditório Garapuvu, no Centro de Cultura e Eventos Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, campus Trindade, em Florianópolis. A cerimônia contará com uma programação cultural e entrega de homenagens a seis educadores referências em suas áreas.

Conheça os nomes dos agraciados:

Professora Emérita Esther Jean Langdon
Professor Emérito Rafael José de Menezes Bastos
Professora Emérita Miriam Pillar Grossi
Professora Emérita Luzinete Simões Minella
  • O título de Professor(a) Emérito(a) é uma das mais altas honrarias acadêmicas, concedido a docentes aposentados(as) que tenham se destacado por seus méritos profissionais ou por relevantes serviços prestados à instituição.
Doutora Honoris Causa in memoriam Dora Lúcia de Lima Bertúlio
Doutor Honoris Causa Padre Vilson Groh
  • O título de Doutor(a) Honoris Causa é destinado a personalidades eminentes, independentemente de possuírem diploma universitário, que tenham se destacado em áreas como artes, ciências, filosofia, letras, promoção da paz ou causas humanitárias. A honraria reconhece a boa reputação, virtudes, méritos ou ações de serviço que transcendam interesses particulares e alcancem um impacto significativo na sociedade.

A seguir, apresenta-se um breve perfil de cada homenageado(a), com base nos pareceres aprovados pelo Conselho Universitário (CUn) entre os meses de agosto e outubro de 2025.

Rafael José de Menezes Bastos

Rafael José de Menezes Bastos

O professor Rafael José de Menezes Bastos será homenageado, em reconhecimento à sua ampla trajetória acadêmica e às relevantes contribuições à área da Antropologia. Sua formação acadêmica é marcada por um sólido percurso: graduado em Música pela Universidade de Brasília (1968), mestre em Antropologia Social pela mesma instituição (1976) e doutor em Ciências Sociais (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo (1990). Além disso, realizou estágios de pós-doutorado na França, nos Estados Unidos e no Canadá.

Ingressou como docente na UFSC em 1984 e, em 2014, foi promovido ao cargo de professor titular. Durante sua atuação na Universidade, consolidou uma trajetória acadêmica de grande relevância, com amplo reconhecimento nacional e internacional. Sua produção científica abrange mais de uma centena de artigos em periódicos qualificados, capítulos de livros e obras autorais que se tornaram referências nos campos da Etnologia e da Etnomusicologia Indígenas. Adicionalmente, atua como parecerista e conselheiro editorial em periódicos científicos no Brasil e no exterior, evidenciando seu prestígio e inserção na comunidade acadêmica internacional.

Para além de sua vasta produção bibliográfica, o professor Bastos se destacou por sua atuação institucional e formativa. Ele fundou e coordenou o núcleo de estudos Arte, Cultura e Sociedade na América Latina e Caribe (MUSA), coordenou o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS/UFSC) e integrou diversos conselhos acadêmicos. Também foi professor visitante em universidades da Europa, América do Norte e América Latina. Sua contribuição vai além dos números, refletindo-se na consolidação de linhas de pesquisa, na formação de novos acadêmicos e no fortalecimento da Antropologia como campo científico no Brasil.

Esther Jean Langdon

Esther Jean Langdon

A professora Esther Jean Langdon será homenageada, em reconhecimento por suas contribuições pioneiras à Antropologia e à saúde indígena. Sua carreira na UFSC começou em 1983, como professora visitante, tornando-se docente efetiva em 1988. Mesmo após sua aposentadoria, permaneceu ativamente vinculada à instituição como voluntária e pesquisadora sênior do CNPq. Sua produção científica é extensa, com mais de uma centena de publicações nacionais e internacionais, além de uma atuação marcante na formação de recursos humanos, com a orientação de mais de 100 trabalhos de graduação e pós-graduação.

Entre suas contribuições mais relevantes, destacam-se os estudos pioneiros em xamanismo, antropologia da saúde e povos indígenas, com atenção especial às populações amazônicas, como os Siona. Sua atuação no campo da saúde indígena foi decisiva para a consolidação dessa área no Brasil, influenciando tanto o meio acadêmico quanto a formulação de políticas públicas. Além disso, a professora contribuiu significativamente para os estudos sobre narrativa, performance e ética em pesquisa.

Esther Langdon também exerceu um papel de liderança institucional, coordenando o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Brasil Plural (INCT) por mais de uma década. Sua atuação foi central na internacionalização da UFSC e no fortalecimento das ciências humanas no Brasil. Em 2022, recebeu o Prêmio de Excelência Acadêmica da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS). Em 2023, a Editora da UFSC publicou o livro Uma antropologia da práxis, com textos de mais de 40 autores que celebram sua obra e trajetória.

Miriam Pillar Grossi

Miriam Pillar Grossi

A professora Miriam Pillar Grossi será homenageada por ser uma referência nacional e internacional no campo da Antropologia. Sua trajetória na UFSC começou em 1989, quando passou a atuar no Departamento de Antropologia. Desde então, a professora contribuiu significativamente para a projeção do departamento e do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH). Suas áreas de especialização incluem história da antropologia, feminismo, sexualidade, violências, gênero e diversidade sexual, políticas públicas, educação e diversidades, além de metodologias de pesquisa qualitativas.

Além de sua atuação como pesquisadora e docente, Miriam Grossi desempenhou um papel fundamental na formação de novos acadêmicos. Fundou, em 1991, o Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividade (NIGS) e, ao longo de sua carreira, orientou mais de 200 estudantes em iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.

A professora ocupou posições de destaque, como coordenadora do Instituto de Estudos de Gênero (IEG/UFSC) em duas gestões (2013-2015 e 2017-2020), presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) na gestão 2004-2006 e, atualmente, vice-presidente eleita da International Union of Anthropological and Ethnological Sciences (IUAES) para o período 2023-2027. Também coordena a Commission of Global Feminisms and Queer Politics. Sua contribuição acadêmica vai além da produção científica, refletindo-se na promoção de debates sobre gênero e diversidade e no fortalecimento da Antropologia como campo de estudo interdisciplinar e transformador.

Padre Vilson Groh

Padre Vilson Groh

O Padre Vilson Groh será homenageado por sua trajetória como educador popular e líder comunitário, marcada pela luta pela justiça social e pela atuação em comunidades vulneráveis de Florianópolis. Nascido em Brusque, em 1954, mudou-se para Florianópolis na década de 1970 para estudar Teologia e, a partir de 1979, começou sua atuação no morro do Mocotó, onde o contato com religiões afro-brasileiras ampliou sua compreensão sobre a pluralidade cultural e religiosa do país. Ordenado em 1981, optou por morar no morro e, posteriormente, no Monte Serrat, articulando ações entre igreja, poder público e sociedade civil para melhorar as condições de vida nos morros da cidade.

Em 2011, fundou o Instituto Vilson Groh (IVG), que coordena sete organizações sociais voltadas à educação, cultura, juventude e inclusão. Apenas em 2022, o IVG atendeu mais de 22 mil pessoas, entre crianças, adolescentes, jovens e famílias. A instituição mantém convênios com a UFSC para projetos de extensão e oferece bolsas de ensino técnico e superior, ampliando o acesso de jovens à universidade e fortalecendo a atuação comunitária em regiões vulneráveis. Sua atuação une fé, mobilização comunitária e compromisso com a cidadania, consolidando iniciativas transformadoras.

Aos 71 anos, Padre Vilson continua morador do Monte Serrat, formando lideranças e assessorando projetos sociais. Reconhecido nacionalmente, recebeu prêmios como o Diploma de Mérito Educacional (2019), o título de Doutor Honoris Causa pela Unisul (2024) e a Comenda da Ordem de Rio Branco (2025). Seu legado reflete a integração entre saberes acadêmicos, educação popular e o respeito à diversidade cultural e religiosa do Brasil, destacando as contribuições afro-brasileiras à identidade nacional.

Dora Lúcia de Lima Bertúlio

Dora Lúcia de Lima Bertúlio

A docente Dora Lúcia de Lima Bertúlio será homenageada, in memoriam, por sua trajetória na luta contra o racismo e pela promoção da igualdade racial no Brasil. Nascida em Itajaí, Santa Catarina, em 1949, destacou-se como jurista, professora e ativista, sendo referência nacional na defesa da justiça social e na construção de políticas públicas para a equidade racial. Graduada em Direito pela UFPR e mestre pela UFSC, sua dissertação Direito e Relações Raciais: uma introdução crítica ao racismo foi um marco no pensamento jurídico brasileiro e reafirmou seu impacto ao ser publicada como livro em 2019.

Dora foi pioneira na implementação de políticas de ações afirmativas no ensino superior, desempenhando papel crucial na institucionalização das cotas raciais e sociais enquanto Procuradora Federal da UFPR. Também colaborou com a Fundação Cultural Palmares, contribuindo para a valorização das culturas afro-brasileiras e a formulação de políticas públicas de reparação histórica. Sua atuação foi decisiva para consolidar as ações afirmativas como ferramentas constitucionais no combate às desigualdades raciais.

Participante da Conferência de Durban e integrante da Comissão de Juristas da Câmara dos Deputados, Dora ampliou sua militância para além da academia. Cofundadora do Núcleo de Estudos Negros (NEN) em Florianópolis e da Associação de Mulheres e Mulheres Negras na UFMT, criou espaços de debate e valorização das culturas afro-brasileiras. Faleceu em 14 de fevereiro de 2025, aos 76 anos, deixando um legado de resistência e compromisso com a justiça social, que continua a influenciar universidades, tribunais e movimentos sociais em todo o Brasil.

Luzinete Simões Minella

Luzinete Simões Minella

A professora Luzinete Simões Minella será homenageada por sua contribuição pioneira aos estudos feministas e de gênero na UFSC e no Brasil. Graduada e mestre em Ciências Sociais pela UFBA, doutora em Sociologia pela UNAM e com pós-doutorado na Unicamp, iniciou sua carreira na UFBA, onde lecionou de 1975 a 1991, antes de transferir-se para a UFSC. Na nova instituição, consolidou o Departamento de Sociologia e Ciência Política e o Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política como polos de excelência acadêmica.

Mesmo após a aposentadoria, Luzinete seguiu atuando no Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH), onde coordenou a Área de Concentração em Estudos de Gênero, tornando-a referência nacional e internacional. Participou ativamente do IEG/UFSC e da Revista Estudos Feministas, fortalecendo a projeção do periódico como um dos mais importantes da América Latina no campo. Sua atuação foi essencial para institucionalizar os estudos de gênero e feminismo na universidade.

Luzinete abordou temas como gênero, ciência, saúde reprodutiva, infância e saúde mental com olhar crítico e sensível às desigualdades sociais. Autora de obras como Gênero e Contracepção: uma perspectiva sociológica, formou gerações de pesquisadores comprometidos com a transformação social. Teve papel central em eventos como o Seminário Internacional Fazendo Gênero e na Rede Brasileira de Ciência, Tecnologia e Gênero, promovendo a crítica feminista da ciência e a inclusão das mulheres na produção científica. Reconhecida por unir ciência e afeto, sua trajetória inspira a construção de uma universidade pública mais inclusiva e uma sociedade mais democrática.

 

Rosiani Bion de Almeida | Divisão de Imprensa do GR
imprnsa.gr@contato.ufsc.br

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UFSC aprova títulos a duas professoras por suas trajetórias de excelência e impacto social

28/10/2025 16:16

O Conselho Universitário (CUn) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realizou na tarde desta terça-feira, 28 de outubro, sessão especial – transmitida ao vivo pelo canal do CUn no YouTube – para apreciar duas concessões de títulos: Doutora Honoris Causa in memoriam e Professora Emérita -, ambas solicitadas pela Cátedra Antonieta de Barros: Educação para a Igualdade Racial.

Dora Lúcia de Lima Bertúlio

Em reconhecimento a sua trajetória e impacto, foi proposta a concessão do título de Doutora Honoris Causa in memoriam à docente Dora Lúcia de Lima Bertúlio, destacando sua relevância como jurista, ativista e intelectual na promoção da igualdade racial e na luta contra o racismo no Brasil. A relatoria foi da conselheira Maria Denize Henrique Casagrande.

O título de Doutor Honoris Causa é concedido pela UFSC “a pessoas eminentes, que não necessariamente sejam portadoras de um diploma universitário mas que se tenham destacado em determinada área (artes, ciências, filosofia, letras, promoção da paz, de causas humanitárias etc), por sua boa reputação, virtude, mérito ou ações de serviço que transcendam famílias, pessoas ou instituições”.

Dora Lúcia de Lima Bertúlio foi uma jurista, professora, ativista e intelectual catarinense, nascida em Itajaí, Santa Catarina, em 1949. Ao longo de sua vida, consolidou-se como uma referência na defesa da justiça social, na luta contra o racismo estrutural e na construção de políticas públicas voltadas à igualdade racial no Brasil. Graduada em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Dora desenvolveu uma trajetória profissional e acadêmica marcada pelo compromisso com a democratização do acesso à educação e pela promoção da equidade racial no espaço jurídico.

Desde jovem, Dora demonstrou comprometimento com questões sociais. Aos 18 anos, foi aprovada em concurso público municipal e ingressou na Faculdade de Direito do Paraná, onde participou ativamente da militância estudantil. Durante a graduação, aprofundou seus estudos sobre questões políticas, mas o foco na questão racial só surgiu mais tarde, durante seu mestrado na UFSC. Nesse período, Dora começou a articular debates sobre raça e racismo, enfrentando com coragem a predominância da perspectiva de classe nos ambientes universitários. Sua dissertação, intitulada Direito e Relações Raciais: uma introdução crítica ao racismo, foi um marco na teoria crítica do Direito brasileiro, ao desafiar o pensamento jurídico tradicional e abordar as imbricações entre Direito, raça e racismo. A dissertação, defendida em uma sala repleta de pessoas negras que celebravam esse momento histórico, foi publicada como livro décadas depois, em 2019, consolidando seu impacto no campo jurídico.

Além de sua atuação acadêmica, Dora foi uma pioneira na implementação de políticas de ações afirmativas no ensino superior. Durante sua gestão como Procuradora Federal da Universidade Federal do Paraná, desempenhou um papel crucial na institucionalização das políticas de cotas raciais e sociais, tornando a UFPR uma das primeiras universidades brasileiras a adotar tais medidas. Essa atuação foi fundamental para a consolidação das ações afirmativas como instrumentos constitucionais e éticos no combate às desigualdades raciais no Brasil. Dora também colaborou com a Fundação Cultural Palmares, onde trabalhou na preservação e valorização das culturas afro-brasileiras, contribuindo para a formulação de políticas públicas voltadas à reparação histórica das comunidades negras.

Sua militância e compromisso com a equidade racial transcenderam o ambiente acadêmico e se manifestaram em diversas frentes. Dora participou da Conferência de Durban, onde assessorou a delegação oficial brasileira, e integrou a Comissão de Juristas instituída pela Presidência da Câmara dos Deputados, dedicada ao aperfeiçoamento da legislação contra o racismo estrutural e institucional. Sua atuação foi marcada por um profundo senso de responsabilidade e por uma visão interdisciplinar, que buscava unir o Direito à história, filosofia e outras áreas do conhecimento para compreender e enfrentar o racismo.

Dora também deixou sua marca como educadora e como fundadora de espaços de debate racial. Na Universidade Federal de Mato Grosso, criou, junto à professora Ana Maria Rodrigues Ribeiro, a Associação de Mulheres e Mulheres Negras, que mais tarde se transformou em um núcleo de estudos. Em Florianópolis, foi cofundadora do Núcleo de Estudos Negros (NEN), dedicado à promoção do letramento racial e à análise crítica das dimensões do racismo na sociedade brasileira.

Seu legado é marcado por sua capacidade de transformar suas experiências pessoais e profissionais em contribuições concretas para a luta contra o racismo. Dora enfrentou desafios, como a perda de suas pesquisas durante o doutorado, mas nunca desistiu de sua militância antirracista. Mesmo em seus últimos anos, continuou a influenciar a formulação de políticas públicas e o debate jurídico no Brasil. Dora Lúcia faleceu em 14 de fevereiro de 2025, aos 76 anos, mas suas ideias e contribuições permanecem vivas, ecoando nas universidades, tribunais e espaços de luta por justiça social. Seu nome é sinônimo de resistência, inovação e compromisso com a construção de um Brasil mais justo e igualitário.

Luzinete Simões Minella

O segundo título avaliado pelo Conselho Universitário foi a de Professora Emérita à Luzinete Simões Minella, a mais alta distinção honorífica concedida pela UFSC a docentes aposentadas que se destacaram por sua excelência acadêmica, por sua dedicação à causa pública e pelos relevantes serviços prestados à Universidade e à educação. A relatoria foi da conselheira Marlene Grade.

Luzinete Simões Minella é uma professora, pesquisadora e intelectual de destaque, cuja trajetória acadêmica, marcada pelo rigor científico e pela sensibilidade, consolidou sua importância no cenário nacional e internacional, especialmente nos campos dos estudos de gênero e feminismos. Graduada e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutora em Sociologia pela Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) e com pós-doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luzinete dedicou sua vida ao ensino, à pesquisa e à formação de novas gerações de cientistas sociais. Sua carreira acadêmica iniciou-se na UFBA, onde lecionou no Departamento de Sociologia entre 1975 e 1991. Posteriormente, transferiu-se para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde atuou como professora do Departamento de Sociologia e Ciência Política e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política, contribuindo significativamente para a consolidação desses espaços como polos de excelência acadêmica.

Mesmo após sua aposentadoria, Luzinete continuou a dedicar-se à universidade como professora voluntária no Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH), onde coordenou por vários anos a Área de Concentração em Estudos de Gênero, transformando-a em um eixo estruturante do programa e referência nacional e internacional. Também integrou o Instituto de Estudos de Gênero (IEG/UFSC), desempenhando papel central em seus projetos, eventos e publicações, além de contribuir para a institucionalização dos estudos feministas na universidade. Sua atuação como coordenadora editorial da Revista Estudos Feministas em diferentes momentos foi fundamental para projetar o periódico como um dos mais importantes da América Latina no campo.

A obra de Luzinete aborda com profundidade temas como gênero, ciência, saúde reprodutiva, infância e saúde mental, sempre partindo de um olhar crítico e sensível às relações de poder e às desigualdades sociais. Autora de diversos artigos, capítulos de livros e da obra autoral Gênero e Contracepção: uma perspectiva sociológica, sua produção acadêmica alia rigor metodológico e empatia, refletindo seu compromisso com a ciência como forma de resistência e transformação social. Luzinete também se destacou como orientadora de teses e dissertações, formando pesquisadoras e pesquisadores que hoje seguem ampliando seu legado intelectual e ético.

Sua trajetória é marcada por um compromisso inabalável com a promoção de uma ciência que liberta e transforma, unindo pensamento crítico e ternura. Entre suas muitas contribuições, destaca-se seu papel na coordenação do Seminário Internacional Fazendo Gênero, na consolidação da área de Gênero e Sexualidade no PPGICH e em sua atuação na Rede Brasileira de Ciência, Tecnologia e Gênero, que promove a crítica feminista da ciência e amplia a presença das mulheres na produção científica. Luzinete é reconhecida por sua capacidade de unir ciência e afeto, transformando a pesquisa em um gesto político e ético, com impacto que ultrapassa os muros da academia e reverbera em políticas públicas e movimentos sociais.

Sua vida acadêmica é um testemunho de coerência, generosidade e compromisso com a construção de uma universidade pública mais democrática, inclusiva e socialmente referenciada. Luzinete Simões Minella transformou cada aula, pesquisa e orientação em um ato de escuta e cuidado, inspirando suas alunas e alunos a enxergar o humano por trás das estatísticas e a lutar por um mundo mais justo. Sua presença e sua obra são sementes de transformação, que continuam a florescer em cada mente e coração tocados por seu trabalho. Conceder a ela o título de Professora Emérita é não apenas um reconhecimento de sua trajetória excepcional, mas também uma celebração de seu papel como uma das principais responsáveis por fortalecer os estudos feministas e de gênero na UFSC e no Brasil.

Ambas as trajetórias foram analisadas e aprovadas por ampla maioria dos(as) conselheiros(as). Ao final, a vice-reitora e coordenadora da Cátedra Antonieta de Barros, Joana Célia dos Passos, expressou sua gratidão pela acolhida e aprovação das honrarias. “No Dia da Servidora Pública, reconhecer duas mulheres negras que tanto contribuíram para a universidade e para a sociedade é um gesto histórico. Luzinete, que ainda segue atuando conosco, e Dora Lúcia, que deixou um legado imensurável, representam trajetórias de excelência e dedicação. Agradeço a cada um e a cada uma que tornou isso possível, especialmente às pareceristas das instâncias das unidades de ensino e do Conselho Universitário”, concluiu, encerrando a sessão especial.

Divisão de Imprensa do GR | SECOM
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Reconhecimento institucional: UFSC concede Doutor Honoris Causa ao padre Vilson Groh

06/10/2025 17:23

Padre Vilson Groh. Foto: IVG

O Conselho Universitário (CUn) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realizou, no dia 30 de setembro, sessão especial dedicada à apreciação da concessão do título de Doutor Honoris Causa ao padre Vilson Groh. O nome do homenageado foi escolhido pela ampla maioria dos conselheiros pela extensa trajetória de Groh como educador popular e líder comunitário, marcada pela luta pela justiça social e pela atuação junto a comunidades vulneráveis de Florianópolis.

A indicação do título acadêmico partiu da Cátedra Antonieta de Barros: Educação para a Igualdade Racial e recebeu aprovação unânime em instâncias internas da Universidade, incluindo o Departamento de Estudos Especializados em Educação e o Conselho de Unidade do Centro de Ciências da Educação (CED).

No parecer conclusivo, o conselheiro-relator Sérgio Romanelli manifesta-se integralmente favorável à concessão do título, ressaltando o padre como referência de compromisso com a dignidade humana e a pluralidade cultural brasileira, incluindo o respeito e a valorização das religiões afro-brasileiras. O texto enfatiza ainda a criação e a atuação do Instituto Padre Vilson Groh (IVG), que, por meio de programas de educação, inclusão financeira e mobilização social, beneficia milhares de crianças, jovens e famílias na capital catarinense.

O título de Doutor Honoris Causa é concedido pela UFSC “a pessoas eminentes, que não necessariamente sejam portadoras de um diploma universitário mas que se tenham destacado em determinada área (artes, ciências, filosofia, letras, promoção da paz, de causas humanitárias etc), por sua boa reputação, virtude, mérito ou ações de serviço que transcendam famílias, pessoas ou instituições”.

Vilson Groh

“Quando falo em fome, não é só da fome de pão, mas também da fome da beleza, da fome pela liberdade, da fome pela solidariedade, da fome por amizade. É a fome da materialidade de esperança de que é possível sim, um dia, haver equilíbrio entre as pessoas que vivem na humanidade e que produzem a riqueza, e que esta riqueza seja revertida dignamente para todos que a produzem, para que ninguém fique excluído dela. Esta é a motivação que me alimenta e me persegue diariamente”.

Padre Vilson Groh é uma liderança social e religiosa, educador popular e articulador comunitário. Nascido em 24 de abril de 1954 em Brusque, migrou para Florianópolis na década de 1970 para estudar Teologia no Instituto Tecnológico de Santa Catarina e, desde então, dedicou-se integralmente às periferias urbanas, inicialmente no bairro Pantanal e, a partir de 1979, no morro do Mocotó, onde o encontro com a umbanda e o sagrado das religiões afro-brasileiras ampliou sua compreensão sobre a pluralidade religiosa e cultural do país.

Ordenado diácono e presbítero em 1981, decidiu morar no próprio morro do Mocotó diante da precariedade habitacional que testemunhou, estabelecendo-se em seguida no Monte Serrat, de onde passou a tecer pontes entre igreja, poder público, setor privado e atores sociais locais para fortalecer condições de vida dignas nos morros de Florianópolis. Sua atuação, que conjuga fé, mobilização comunitária e compromisso com a justiça social, consolidou-se em iniciativas de educação e cidadania, sem perder a dimensão acadêmica: em 1998 concluiu o mestrado em Educação pela UFSC, integração simbólica e prática entre universidade e território.

Em 2011, fundou o IVG, estrutura que coordena sete organizações sociais voltadas à educação, cultura, juventude, direitos humanos e mobilização comunitária, oferecendo gratuitamente desde educação básica e formação pré-universitária até inclusão financeira e projetos de inovação tecnológica e social. Apenas em 2022, o IVG alcançou cerca de 5.685 crianças, adolescentes e jovens, além de 2.989 famílias, somando mais de 22 mil pessoas atendidas.

Essa capilaridade levou à formalização de convênios com a UFSC em projetos de extensão que mobilizam estudantes e docentes em ações conjuntas nos territórios do Morro da Cruz e região continental, e, desde 2012, a instituição mantém um programa de bolsas de ensino técnico e superior que apoia o acesso e a permanência de jovens na universidade. Reconhecido estadual e nacionalmente, recebeu o Diploma de Mérito Educacional do Conselho Estadual de Educação (2019), o título de Doutor Honoris Causa pela Unisul (2024), a Comenda da Ordem de Rio Branco no Palácio Itamaraty (2025) e teve sua trajetória documentada em “Pão e Beleza: Caminhos de Padre Vilson” (2024).

Aos 71 anos, permanece morador do Monte Serrat, formando lideranças jovens, assessorando pastorais e projetos sociais e integrando o Colégio de Consultores da Arquidiocese de Florianópolis. O parecer do Conselho Universitário da UFSC destaca que sua vida congrega produção de saberes, ciência e educação popular, materializando o compromisso da universidade pública com os territórios e os saberes plurais, e simboliza um reconhecimento necessário à pluralidade religiosa e identitária do Brasil, com ênfase na centralidade das religiões afro-brasileiras na multiplicidade cultural catarinense e nacional.

Nesse contexto, a UFSC enxerga em Groh “o educador que transcende a sala de aula, o intelectual orgânico que fez do morro sua cátedra e do povo seus mestres”, e cujo exemplo ético e político de integração entre forças diversas para a garantia de direitos e dignidade fundamenta a concessão da honraria.

A sessão especial foi transmitida ao vivo pelo canal do CUn no YouTube.

 

Rosiani Bion de Almeida | Divisão de Imprensa do GR
imprnsa.gr@contato.ufsc.br

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