Ministro Wellington Dias visita UFSC para debater agroecologia e combate à fome

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, e o reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza. Fotos: Gustavo Diehl/Agecom
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, cumpriu agenda oficial na manhã desta quarta-feira, 3 de dezembro, em Florianópolis, com foco em agroecologia, segurança alimentar, sustentabilidade e fortalecimento das políticas públicas. A programação incluiu visitas a unidades e projetos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que integra o Grupo de Trabalho da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
A visita do ministro, que preside a Aliança, reforça a cooperação entre governo e universidade em ações estratégicas de desenvolvimento social. Wellington Dias estava acompanhado de sua equipe ministerial e foi recepcionado pelo reitor da UFSC Irineu Manoel de Souza, pelo chefe de Gabinete Bernardo Meyer, pela professora Cristiane Derani, pelo diretor do campus de Curitibanos Guilherme Jurkevicz Delben, pelo secretário de Comunicação Marcus Paulo Pêssoa, além de servidores docentes e técnicos, estudantes de graduação e pós-graduação, e representantes da comunidade.
A programação começou às 8h no Sítio Florbela, no Sertão do Peri, bairro Ribeirão da Ilha, onde professores e estudantes apresentaram experiências de produção agroecológica em sistemas agroflorestais, beneficiamento familiar de baixo custo para uso sustentável da biodiversidade nativa alimentícia e medicinal, circuitos curtos de comercialização, certificação participativa de produtos orgânicos, além de ações de educação ambiental e capacitação técnica avançada em manejo agroflorestal.
Durante o evento, Wellington destacou a importância da pesquisa na área de agroecologia, com foco na floresta produtiva, apontando-a como um passo significativo alinhado à Declaração de Belém na COP-30. Ele ressaltou que esse compromisso global pode salvar a humanidade diante das mudanças climáticas. Segundo o ministro, o trabalho desenvolvido no local é fundamental, mas ainda enfrenta desafios, e enfatizou que os pesquisadores estarão envolvidos para intensificar as ações nessa área.
A professora Cristiane Derani destacou a presença do ministro como um exemplo de como o saber acadêmico pode se unir ao saber tradicional. O ministro destacou que as universidades desempenham um papel fundamental para levar conhecimento às comunidades, ajudando na implementação de políticas públicas que visam a adaptação às realidades locais. O objetivo, segundo ele, é fortalecer essa relação, expandir os projetos de extensão para Santa Catarina e para o Brasil, e organizar rapidamente uma agenda de trabalho.
O reitor Irineu abordou os desafios enfrentados pelas universidades públicas, que são um patrimônio do país. Ele destacou que a missão das universidades vai além da formação de profissionais e da produção de conhecimento, sendo essencial manter a estrutura das instituições e atender às necessidades dos estudantes. Informou que atualmente 50% dos estudantes da UFSC vêm de escolas públicas e que a universidade oferece, de forma gratuita, alimentação e moradia para cerca de 4 mil estudantes. No entanto, alertou que a redução dos orçamentos das universidades federais tornou praticamente impossível manter o funcionamento adequado das instituições.
Irineu sugeriu um caminho possível: integrar as universidades ao programa de aquisição de alimentos, a fim de promover alimentação com soberania, autonomia e cidadania. “Essa iniciativa seria capaz de manter os estudantes nas universidades, reduzir a evasão e formar pessoas mais comprometidas com a sociedade”, afirmou o reitor.
Por volta das 10h, a comitiva seguiu para a Fazenda Experimental da Ressacada, no bairro Tapera, onde foram mostrados projetos integrados de pesquisa e extensão voltados à restauração da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e promoção da soberania alimentar por meio de sistemas agroflorestais em áreas degradadas.
Na Fazenda, a universidade apresentou um modelo de manejo de pastagens que não apenas eleva a produtividade e a biodiversidade, mas também se apresenta como uma resposta crucial para os desafios da mudança climática e da sucessão familiar no campo. O sistema em foco, chamado Pastoreio Racional Voisin (PRV), está implantado há 10 anos e foi desenhado pelos pequenos produtores, levando em conta a ecologia tanto das plantas quanto dos animais.
Especialistas destacaram que o PRV é operado sem o uso de produtos químicos ou agrotóxicos e, crucialmente, “sem mexer no solo”. A proteção do solo é vital, pois “quando se mexe no solo, o carbono vai embora”. No sistema PRV, o solo se mantém protegido e os teores de carbono orgânico são elevados. Pesquisas de mestrado indicaram que, neste manejo, o estoque de carbono no solo é “maior do que no plantio direto de lavoura convencional”.
O método promove uma enorme biodiversidade. Em uma pastagem gerida pelo PRV, é possível encontrar “mais de 50 espécies diferentes” em um metro quadrado. Um dos objetivos centrais é “reduzir a temperatura do planeta”. Santa Catarina, que é o estado brasileiro com a maior porcentagem de agricultura familiar, pode se beneficiar diretamente desta abordagem. O modelo também visa sanar um dos maiores dilemas do campo: o abandono por parte dos jovens.
O diretor Guilherme Delben destacou que “se compararmos Curitibanos de 16 anos atrás com a cidade de hoje, veremos um desenvolvimento notável, impulsionado pela chegada de diversas indústrias”. Citou o exemplo da Berneck, empresa “responsável por 56% do PIB local, que se instalou na região em função da presença da UFSC e da oferta do curso de Engenharia Florestal. A UFSC mudou a história da cidade e hoje tem impacto em toda a região”, afirmou Guilherme. Também de Curitibanos, o professor Alexandre Siminski apresentou o projeto “Reforma”, que busca aumentar a eficiência da restauração da vegetação nativa, considerando os fatores ambientais, sociais e econômicos.
A programação incluiu ainda a apresentação do projeto de produção de algas para alimentação e enfrentamento da crise climática nas regiões costeiras, conduzido pelo professor Paulo Horta e pela presidente da Associação de Maricultores do Sul da Ilha, Tatiana da Gama Cunha. Na ocasião, foi entregue ao ministro o livro “Além da COP-30”, do deputado federal Pedro Uczai.
Ao final da visita, o ministro Wellington Dias falou sobre a desigualdade no Brasil e destacou a significativa queda nos índices de pobreza e extrema pobreza no país. Dias também celebrou os resultados na luta contra a fome, afirmando que o país tirou 30 milhões de pessoas dessa condição até o ano passado, com a expectativa de chegar a 33 milhões neste ano.
Durante o encontro, Dias incentivou a colaboração entre as esferas do governo e as universidades, especialmente no que tange a projetos de piscicultura e agricultura familiar desenvolvidos no estado catarinense. Ele solicitou um estudo em parceria com o Banco Mundial para entender quantos beneficiários de programas sociais estão migrando para a classe média. O ministro sugeriu que se cruzem dados da UFSC e do campus de Curitibanos para identificar quais alunos estão atualmente no Bolsa Família e no Cadastro Único. “A ideia é, além de cuidar desses estudantes, cuidar de suas famílias para tirá-las da pobreza”, explicou.
O ministro enfatizou que, ao invés de tentar criar programas novos e regionais para o Brasil, as propostas locais devem ser adaptadas a programas federais já existentes. Solicitou que as propostas de Santa Catarina sejam encaminhadas diretamente a ele e aos ministros da Pesca e Aquicultura, André de Paula, e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, além da área de ensino superior do Ministério da Educação (MEC).
O futuro, segundo Wellington Dias, envolve um passo mais complexo: tirar não apenas famílias, mas também municípios e regiões inteiras da pobreza. Ele citou a experiência piloto no Arquipélago de Marajó, classificada como a região mais pobre do Brasil, e outros casos como Cavalcante, em Goiás, e Serrano do Maranhão. Ao final, o ministro agradeceu novamente a Universidade e expressou seu sentimento: “Quando percorro o Brasil e encontro pessoas como as que conheci aqui, que buscam soluções para os problemas sociais, minha esperança se renova”.
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Fotos: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC














