UFSC debate política institucional contra assédio moral, sexual e todas as formas de discriminação

03/09/2025 16:27

Audiência pública no Auditório da Reitoria debate prevenção e enfrentamento ao Assédio na UFSC. Fotos: Gustavo Diehl/Agecom

A Política de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) abrange toda a comunidade universitária, incluindo estudantes, servidores docentes e técnico-administrativos, trabalhadores terceirizados, estagiários, aprendizes e prestadores de serviços. A política se aplica a condutas praticadas tanto presencialmente quanto em ambientes virtuais, abrangendo todos os espaços institucionais e eventos protagonizados por seus membros. Construído coletivamente, o documento estabelece diretrizes para o recebimento e tratamento de denúncias e é reconhecido como um marco histórico para a universidade.

A temática em torno da implementação dessa política na instituição foi debatida em audiência pública na manhã desta quarta-feira, 3 de setembro, no Auditório da Reitoria, e transmitido ao vivo pelo canal do YouTube da TV UFSC. A minuta esteve em consulta pública até o último dia 5 de agosto, período em que foram registradas 133 contribuições da comunidade em geral. O documento foi elaborado pela Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas (Prodegesp) e pode ser acessado na íntegra neste link.

Abertura do evento

A pró-reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas, Sandra Carrieri, destacou a relevância do tema e apresentou dados alarmantes do Tribunal de Contas da União (TCU), que apontavam que, em 2004, 60% das universidades federais ainda não possuíam políticas de prevenção e enfrentamento ao assédio. Segundo Carrieri, essa lacuna compromete não apenas as relações de trabalho, mas também o bem-estar físico e mental da comunidade universitária. A iniciativa atende a uma demanda antiga e formalizada somente em 2025 como compromisso entre a Reitoria e o Comando Local de Greve dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação.

Carrieri ressaltou que a construção da política foi um trabalho coletivo, envolvendo sindicatos, gestores e diversos setores da universidade em um processo de estudos, debates e escuta ativa, com apoio contínuo da Administração Central.

A secretária de Aperfeiçoamento Institucional, Luana Renostro Heinen, enfatizou o caráter colaborativo da proposta e sua importância para a criação de um ambiente universitário mais saudável e respeitoso. “Esse momento reflete o trabalho de muitos grupos e pessoas comprometidas com o clima institucional, tanto no cotidiano quanto nos espaços de acolhimento e encaminhamento de processos. É uma conquista histórica da nossa comunidade”, afirmou.

A pró-reitora de Ações Afirmativas e Equidade, Leslie Sedrez Chaves, reforçou que a política dialoga com outras iniciativas institucionais, como as de enfrentamento ao racismo e de promoção da equidade de gênero. “Essa construção coletiva é essencial para criarmos um ambiente mais seguro, saudável e equânime na UFSC. O combate às violências institucionais é indispensável para garantir a permanência e o bem-estar de toda a comunidade universitária”, destacou.

Já a pró-reitora de Graduação e Educação Básica, Dilceane Carraro, apontou a importância da política no contexto das relações hierárquicas, como as de sala de aula e laboratórios. “Ensinar e aprender deve ser, antes de tudo, um ato de respeito. Essa política é fundamental para proteger estudantes, que muitas vezes ocupam posições mais vulneráveis”, confirmou. Ela também mencionou a necessidade de medidas disciplinares claras e de uma rede de acolhimento robusta para combater práticas de assédio.

O papel pedagógico e as perspectivas da política

O reitor Irineu Manoel de Souza destacou o longo percurso para a elaboração do documento. “Esse é um tema debatido há quase duas décadas. Agora, temos uma política robusta e apurada, que vai além da prevenção, enfrentando assédio moral, sexual e discriminação”, afirmou. Para o reitor, a iniciativa não apenas melhora a qualidade de vida na universidade, mas também tem um impacto pedagógico, educando a comunidade para lidar com conflitos e denúncias. Ele reforçou a necessidade de garantir segurança às pessoas que denunciam, bem como de oferecer estruturas físicas e legais adequadas para o atendimento.

A vice-reitora Joana Célia dos Passos, que participou remotamente, destacou o alinhamento da política com outras ações da gestão voltadas ao combate à violência e discriminação. “A universidade, embora reflita a sociedade, tem o dever de coibir práticas abusivas e garantir um ambiente mais digno e saudável para todos e todas”, afirmou.

Participação dos envolvidos na construção

Uma segunda mesa foi composta por integrantes diretamente envolvidos na elaboração da política, como a professora Suzana Tolfo, uma das pioneiras no debate sobre o tema na UFSC. “Foram 18 anos de luta até chegarmos aqui. Este é um momento de celebração e reconhecimento de todas as pessoas que contribuíram para que hoje tenhamos uma política concreta e direcionada à prevenção, enfrentamento e punição ao assédio”, disse.

Suzana lembrou as parcerias realizadas ao longo dos anos, como as com o Ministério do Trabalho, que resultaram em cartilhas e seminários sobre assédio. Ela também destacou o impacto psicológico dessas práticas, que podem ter efeitos devastadores na saúde mental das vítimas. “Essa luta é também uma militância por mais democracia nos ambientes de trabalho”, concluiu.

A secretária Luana Renostro Heinen detalhou a estrutura da política, que abrange toda a comunidade universitária, incluindo trabalhadores terceirizados e estudantes da graduação e pós-graduação. Ela destacou o alinhamento com o Plano Federal de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio e Discriminação, que articula ações em órgãos públicos. “A política não se limita ao assédio moral, mas também abrange o assédio sexual e todas as formas de discriminação”.

Entre os principais conceitos apresentados, estão as definições de assédio moral, sexual e discriminação, além de exemplos práticos e medidas preventivas, como palestras, campanhas educativas e capacitação obrigatória para gestores. “A capacitação é essencial para que os gestores saibam lidar com situações de assédio e discriminação, contribuindo para um ambiente mais acolhedor e respeitoso”, explicou.

Próximos passos

Após as apresentações, foi aberto espaço para contribuições e questionamentos da comunidade. As sugestões serão avaliadas pela comissão responsável e pela Reitoria, antes de o texto final ser encaminhado ao Conselho Universitário (CUn) para novo debate e aprovação.

Denúncia

As denúncias devem ser formalizadas por meio da Ouvidoria da UFSC, utilizando a plataforma Fala.BR. A Ouvidoria encaminha denúncias que contenham autoria e materialidade ao setor responsável pela apuração e orienta sobre os serviços institucionais de acolhimento. Casos envolvendo servidores são tratados pelo Departamento de Processos Disciplinares (DPD), e os relacionados a estudantes seguem regulamentações específicas. Situações envolvendo terceirizados são tratadas conforme a gestão do contrato.

O processo disciplinar garante o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa. Dados sigilosos permanecem restritos durante o trâmite e são divulgados apenas ao final, com exceção de informações confidenciais.

 

Rosiani Bion de Almeida | SECOM
imprensa.gr@contato.ufsc.br

 

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Denúncia e Representação: como são recebidas e encaminhadas na UFSC

25/06/2025 15:04

O Departamento de Processos Disciplinares (DPD) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é responsável por receber e analisar denúncias e representações relacionadas a infrações disciplinares cometidas por servidores públicos lotados na instituição. Qualquer cidadão pode encaminhar uma denúncia ou representação quando tomar conhecimento de irregularidades. Essas manifestações, independentemente do setor para o qual possam ser inicialmente direcionadas, serão apuradas pelo Departamento sempre que este tiver ciência dos fatos.

As denúncias ou representações podem ser realizadas de forma identificada, com ou sem solicitação de sigilo, ou de forma totalmente anônima. O tratamento dado pelo Departamento será o mesmo em todos os casos, garantindo a imparcialidade e a seriedade no manejo das informações. A finalidade principal do DPD é analisar as informações recebidas para o juízo de admissibilidade e, quando necessário, instaurar procedimentos disciplinares ou de responsabilização. A Diretoria do Departamento é responsável por receber, analisar e dar o devido encaminhamento às denúncias, representações e recursos.
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